terça-feira, 1 de outubro de 2024

Analisando Discografias - Anthrax, Bloodywood e Síntese (RA: XLVIII)

                 

Stomp 442 – Anthrax





















NOTA: 4/10


Mais um tempo se passou, e o Anthrax retornou com o não tão memorável e confuso Stomp 442. Após o Sound of White Noise, o guitarrista Dan Spitz acabou deixando a banda para se tornar relojoeiro. Só que eles decidiram não o substituir formalmente, optando por colaborar com outros guitarristas, como Paul Crook e Dimebag Darrell. Naquele período, o Thrash Metal já não estava mais no auge, com a cena musical sendo dominada por outras vertentes, apesar de o gênero nunca ter chegado a morrer. Mesmo assim, o Anthrax manteve sua identidade, embora com uma sonoridade um pouco diferente da que os fãs estavam acostumados. A produção ficou a cargo da própria banda, com a ajuda dos Butcher Brothers (Joe Nicolo e Phil Nicolo), conhecidos por trabalharem com artistas de Hip-Hop/Rap. Essa escolha de produtores fora do mundo do Metal foi uma tentativa da banda de renovar seu som. Uma coisa que se percebe é a presença de camadas mais densas nas guitarras, mas a verdade é que há muitos riffs confusos e exaustivos. Além disso, a ausência de um segundo guitarrista fixo foi um grande problema, o que deixou a sonoridade totalmente esquisita. O repertório no início até é legal, com as canções Random Acts of Senseless Violence e Fueled, mas depois vem um monte de porcaria, como King Size, Riding Shotgun, In a Zone e a melódica Bare. As únicas faixas que se salvam são Nothing e Drop the Ball. Enfim, esse trabalho é muito ruim e mostra o quanto a banda estava completamente confusa.

Volume 8: The Threath Is Real – Anthrax 





















NOTA: 1/10


E aí chegamos ao esquecível e a uma das maiores porcarias que o Anthrax lançou, o Volume 8: The Threat Is Real. Após eles terem feito o Stomp 442, alguns questionamentos começaram. Após a saída do vocalista Joey Belladonna e a entrada de John Bush, que trouxe uma nova sonoridade mais próxima do Groove Metal e do Metal alternativo que predominava nos anos 90, muitos começaram a desconfiar dessa mudança. O álbum anterior, além de ser muito ruim, parecia que a banda não se contetou em fazer um álbum ruim, mas sim um ainda pior. Então eles lançaram esse álbum pelo selo da Ignition Records, um selo pequeno distribuído por outra gravadora que rapidamente faliu, causando problemas na distribuição, pois é incrível como eles só se ferravam. O álbum foi produzido novamente pela própria banda junto com Paul Crook. A produção resultou em uma sonoridade que não tinha muito polimento; eles tentaram fazer algo bem direto, mas não passou de uma bela tortura. As guitarras, apesar de serem pesadas, têm riffs muito ruins, e os arranjos, no geral, são bastante torturantes. Já o repertório nem preciso dizer que ele é péssimo, sendo uma coleção de canções terríveis como Inside Out, Toast to the Extras, Big Fat e várias outras. Apenas Harms Way tinha um conceito interessante, mas logo ela é estragada. Por sinal, a última canção tem uma faixa oculta, e as duas juntas são um lixo. No final de tudo, é um disco horroroso que mostrou que o Anthrax estava no fundo do poço.

We’ve Come For You All – Anthrax 





















NOTA: 8,8/10


Cinco anos se passaram, e, após uma grande decadência, a banda volta com o We’ve Come For You All. Após lançarem aquele último álbum completamente pavoroso, o Anthrax estava passando por um momento desafiador. Após o lançamento do Volume 8, a banda enfrentou problemas com seu selo, o que afetou a distribuição e a visibilidade do álbum. Então, para não repetir o mesmo problema, eles assinaram com a Sanctuary Records, além de estabelecer um vínculo com a Nuclear Blast. Durante esse tempo, houve mudanças na formação, e finalmente eles tinham um novo guitarrista, Rob Caggiano. Naquele momento, as tendências eram o Metal alternativo e o Nu Metal, que dominavam bastante a grande mídia, então a banda precisava se renovar. O álbum foi produzido pelo próprio Rob Caggiano e pela Scrap 60 Productions. Esse trabalho é muito mais polido e bem balanceado. Ao contrário da produção horrorosa do seu antecessor, este disco soa mais limpo, com guitarras nítidas e uma ênfase nos vocais de Bush. Ele apresenta uma mistura de Thrash Metal clássico com elementos modernos e influências mais groovadas. O repertório é muito bom e inclui várias canções de destaque, como What Doesn’t Die, Safe Home, Black Dahlia e Cadillac Rock Box, que tem uma pegada mais de Hard Rock, além das excelentes Superhero e Strap It On, que lembram muito a sonoridade do Pantera. Enfim, este disco é muito bom e mostra a banda ressurgindo das cinzas.

Worship Music – Anthrax





















NOTA: 9,1/10


Muito tempo se passou, e o Anthrax retorna com mais um trabalho magnífico, Worship Music, que veio acompanhado de muitas mudanças. Antes de sua gravação, a banda enfrentou uma série de desafios. Em 2005, eles fizeram algumas turnês com a formação clássica, ou seja, com Joey Belladonna como vocalista. Logo após isso, John Bush acabou saindo da banda. Em seguida, eles chamaram Dan Nelson, que já havia passado por várias bandas, e ele chegou a gravar algumas faixas. Porém, pouco tempo depois, ele foi demitido. John Bush fez apenas uma turnê com a banda em 2009, até que, finalmente, Belladonna voltou ao Anthrax. Esse contexto confuso na formação gerou grande expectativa sobre o que eles iriam lançar. A produção foi liderada outra vez por Rob Caggiano, com mixagem de Jay Ruston. Eles trouxeram uma sonoridade moderna e muito pesada, resgatando a essência do Thrash Metal clássico. O processo foi longo, pois muitas faixas já estavam em andamento antes do retorno de Belladonna, exigindo adaptações e ajustes para encaixar seu estilo vocal. Com um repertório excelente e muitas canções incríveis como Fight 'Em 'Til You Can’t, The Giant e Crawl, o álbum também contém uma bela homenagem a Dio e Dimebag Darrell em In The End. E claro, a excelente Revolution Screams encerra o álbum, com uma faixa oculta que é um cover de New Noise do Refused. No fim, esse disco é sensacional e remete à época de Spreading the Disease.

For All Kings – Anthrax 





















NOTA: 8,5/10


Então chegamos ao último lançamento até o momento do Anthrax, o For All Kings, de 2016. Este álbum marca o segundo trabalho com o vocalista Joey Belladonna desde seu retorno em 2010, após uma longa ausência desde os anos 90. Além disso, a banda passou por mais uma troca de integrantes, já que Rob Caggiano deixou o grupo, sendo substituído por Jon Donais, ex-guitarrista da banda Shadows Fall. Assim, eles deram continuidade ao Worship Music, naquele momento de revitalização. A produção ficou a cargo de Jay Ruston, que havia trabalhado no último álbum como arranjador. Neste trabalho, Ruston trouxe um som claro e poderoso, com ênfase nas melodias e na diversidade de texturas, especialmente nos vocais de Belladonna e nas guitarras de Ian e Donais. Além disso, a bateria de Charlie Benante e o baixo de Frank Bello também brilham, mantendo o som groovado e o punch característicos da banda. No geral, a sonoridade vai além do Thrash Metal, tendo uma pegada que se aproxima mais do Heavy Metal tradicional, tudo de forma muito coesa. O repertório é excelente, com muitas canções sensacionais como You Gotta Believe, Breathing Lightning, Suzerain e Defend Avenge, que além de pesadas, chegam até ser chicletudas. Outras faixas marcantes incluem Evil Twin e, claro, a faixa-título. No fim, For All Kings é mais um ótimo trabalho do Anthrax, fazendo jus ao título e colocando a banda próxima da realeza do Metal.

Rakshak – Bloodywood 





















NOTA: 8,3/10


Voltando dois anos atrás, no início de 2022, foi lançado o magnífico álbum de estreia da banda Bloodywood, o Rakshak. Antes de lançar esse disco, a banda indiana, formada por Karan Katiyar e Jayant Bhadula, era conhecida pelos covers de outras bandas e de canções populares de seu país natal. Eles se destacaram por sua abordagem híbrida, misturando instrumentos tradicionais indianos com a agressividade do Metal, criando um som único. Depois disso, lançaram outros singles, sendo que um deles contou com a participação do rapper Raoul Kerr, que logo depois se juntou à banda. Ah, e esse nome Rakshak (que significa "protetor" em hindi) sugere um álbum com uma forte intenção de resistência e proteção, algo que ecoa nas letras. O álbum foi produzido pelo próprio Katiyar, que conseguiu manter uma mixagem equilibrada entre instrumentos ocidentais e orientais. As guitarras pesadas e os ritmos de bateria são misturados com perfeição aos instrumentos tradicionais, como o tabla, o dhol e a flauta bansuri. A sonoridade de Folk Metal, com influências de Nu Metal e Música Folclórica Indiana, lembra muito bandas como System of a Down, Linkin Park e Sepultura. Isso fica evidente em um repertório excelente, que se divide entre canções pesadas como Gaddaar, Dana-Dan e Endurant, e faixas mais melódicas como Zanjeero Se, Jee Veerey e Yaad, além de outras ótimas canções. Enfim, este álbum é espetacular e mostra que a banda indiana tem muito futuro pela frente.

Sem Cortesia (Vagando na Babilônia / Em Busca de Canaã) – Síntese 





















NOTA: 8/10


Em 2012, foi lançado o álbum de estreia do grupo de Rap Síntese, intitulado Sem Cortesia (Vagando na Babilônia / Em Busca de Canaã). O grupo, ou melhor, a dupla formada pelos amigos Neto e Léo, emergiu com uma proposta diferente, misturando Rap consciente com elementos de poesia, filosofia e espiritualidade. O álbum reflete um período de busca interna e crítica social, alinhando-se com o movimento do Rap underground nacional, que sempre deu voz a questões de resistência, opressão e autodescoberta. O título Sem Cortesia (Vagando na Babilônia / Em Busca de Canaã) evoca dois arquétipos bíblicos: Babilônia, como símbolo de opressão, desilusão e corrupção, e Canaã, como a terra prometida, um local de redenção e paz espiritual. A dupla produziu e distribuiu o álbum por conta própria, mostrando uma sonoridade deliberadamente minimalista, com batidas suaves e instrumentação que cria um clima denso. Em vez de apostar em sons comerciais, a produção foca em samples melódicos e vários loops repetitivos, o que traz ótimas rimas. O repertório é muito bom, com muitas canções de destaque como Pro Que Vier, Babilônia, Máscara da Rua, Se Escute e, claro, a faixa-título. No entanto, o álbum tem algumas faixas fraquinhas, como o interlúdio Enredo, Subversão e Ser Humano. Vale mencionar também a faixa Nota Explicativa, que é só eles trocando altas ideias sobre a vida e a sociedade, e isso é foda demais. Enfim, este trabalho é muito bom e traz muita reflexão.

Buracos ao Chão – Síntese 





















NOTA: 8,7/10


No ano seguinte, a dupla retorna com um álbum colaborativo com outro rapper underground, o Ingles, intitulado Buracos ao Chão. Esse álbum chega após o Síntese praticamente se tornar apenas o Neto, já que o Léo saiu do projeto por ter que se internar para tratarem de sua esquizofrenia. Afinal, após o lançamento do disco anterior, ele teve seu primeiro surto e, a partir daí, as coisas só pioraram. Mas o Neto decidiu continuar e aprofundar a filosofia que o Síntese já havia apresentado em Sem Cortesia. No entanto, esse disco é um projeto ainda mais pessoal e introspectivo, refletindo sobre questões existenciais, espiritualidade, a relação com a realidade social e o impacto da vida urbana. O trabalho da produção é marcado por uma atmosfera sombria e introspectiva, com batidas suaves, minimalistas e texturas que criam uma sensação de profundidade. O uso de batidas Boom bap tradicionais é complementado por elementos mais experimentais, criando uma sonoridade que remete a um lado consciente, mas com uma pegada muito mais emocional e reflexiva, para que as rimas densas de Neto e Ingles sejam ouvidas e absorvidas. Com isso, eles trouxeram um repertório incrível, com canções muito boas e carregadas de crítica social, como Penumbra, Luta e No Entanto..., além das sensacionais Fuga, Tempos de Desertos e Dias de Chuva, que são carregadas de muita reflexão. No final de tudo, é um disco muito interessante e que continua tudo o que seu antecessor apresentou.

Boomshot Apresenta – Síntese  





















NOTA: 8/10


Três anos se passam, e o Síntese retorna com um novo trabalho, desta vez um EP intitulado Boomshot Apresenta. O EP foi uma colaboração com a rádio Boomshot, o que deu visibilidade ao projeto, expandindo a música do Síntese para um público mais amplo. Apresenta o início de uma jornada musical e filosófica do Síntese, onde já é possível perceber a marca registrada do Neto: letras profundas, introspectivas e carregadas de uma visão crítica sobre a realidade, a vida nas periferias e questões espirituais. A produção do EP foi assinada, além do Neto, por Akillez do Projeto Nave, Kiko Dinucci e Thiago França, e manteve o estilo característico do Síntese: minimalista, melódico e profundamente atmosférico. As batidas seguem uma linha mais tradicional do Boom bap, com samples orgânicos e texturas sonoras que criam um ambiente introspectivo. A produção foi relativamente simples, e as canções são bem curtas, mas eficazes, colocando o foco nas letras, que são o ponto central de todas as faixas, com cada instrumental muito bem pensado. O repertório, mais uma vez, é muito bom, com várias faixas interessantes como Disparada e Pais e Filhos, que são afiadas, além das críticas sociais contidas em Estado Terminal e na nova versão de Eis-Me Aqui (uma das faixas do primeiro álbum), que fazem dessas duas canções espetaculares. Enfim, este trabalho é muito bem feito e, apesar de curto, tem muita consistência.

Trilha para o Desencanto da Ilusão, Vol. 1: Amem – Síntese 





















NOTA: 8,8/10


Um ano depois, o Síntese lançou outro álbum fantástico, o Trilha para o Desencanto da Ilusão, Vol. 1: Amém (o título complexo). Com esse novo trabalho, Neto quis aprofundar ainda mais sua narrativa existencialista, em um contexto de busca por respostas em meio ao caos interno e externo. O álbum reflete um ponto de amadurecimento, tanto pessoal quanto artístico. Neto estava começando a enfrentar a dura vida no meio artístico, além de ainda sentir a ausência de seu companheiro Léo. Além disso, o cenário político e social do Brasil à época, com polarizações e um clima de incerteza, também parece ter influenciado a visão de mundo expressa nesse disco. A produção, mais uma vez feita pelo próprio rapper, é profundamente atmosférica. Afasta-se de batidas convencionais e opta por uma sonoridade mais experimental, usando elementos de Jazz, música eletrônica e até música ambiental. A produção, que contou também com nomes como Daniel Ganjaman e Davi Chaves, colaborou para criar uma trilha sonora introspectiva e melancólica, adequada à temática do disco. A escolha dos instrumentos, como o uso de sintetizadores suaves, batidas sutis e samples etéreos, cria uma paisagem sonora quase cinematográfica. O repertório é excelente, com canções cheias de mensagens reflexivas, como Meu Caminho, Desconstrução e a parte 2 de Babilônia. Além disso, as últimas faixas Novo Dia, Religare, Vive Aqui e Gira Mundo são perfeitas. No fim, é um ótimo disco, com muita visão envolvida.
 


Analisando Discografias - Interpol

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