domingo, 6 de julho de 2025

Analisando Discografias - Duke Ellington: Parte 1

                  

Liberian Suite – Duke Ellington And His Orchestra





















NOTA: 8/10


Em 1948, Duke Ellington lançava um de seus primeiros projetos na era do LP, o Liberian Suite. Ellington começou sua carreira musical nos anos 1910 como pianista e compositor. No início dos anos 20, mudou-se para Nova York, onde sua orquestra, The Washingtonians, passou a tocar no famoso Cotton Club. Durante as décadas de 30 e 40, Ellington se destacou como um dos mais inovadores líderes de big band, misturando Jazz, música clássica e elementos afro-americanos em obras complexas e sofisticadas. Com isso, assinou um contrato com a Columbia e ganhou a chance de realizar um trabalho mais amplo. A produção basicamente capturou toda a suíte, formada por seis movimentos, sendo o primeiro uma canção vocal e os demais instrumentais, todos ricos em texturas, com arranjos criativos e variações de timbre. O repertório ficou bem interessante, e tudo é muito bem executado. Em suma, é um trabalho bom, apesar de suas limitações. 

Melhores Faixas: Dance No. 2 
Vale a Pena Ouvir:  Dance No. 4, I Like The Sunrise, Dance No. 1

Masterpieces By Ellington – Duke Ellington And His Orchestra





















NOTA: 9/10


Aí, pulando para a década de 1950, foi lançado o aclamado Masterpieces by Ellington. Após o Liberian Suite, esse trabalho foi um dos primeiros de Jazz lançados no formato LP de 12 polegadas em 33⅓ rpm, o que permitia tempos de execução significativamente maiores do que os tradicionais discos de 78 rpm. Com o novo formato, os músicos podiam finalmente expandir ideias, criar desenvolvimentos mais longos e explorar mais profundamente a improvisação e os arranjos orquestrais. Duke, sempre inovador, foi um dos primeiros a aproveitar essa nova liberdade tecnológica. A produção tinha uma visão clara de como apresentar o Jazz em um formato mais duradouro e respeitável. O som, para a época, é surpreendentemente bom: limpo, balanceado e que valoriza os timbres da big band. O repertório contém 4 faixas longuíssimas, que seguem por um caminho mais virtuoso e atmosférico. No fim, é um disco maravilhoso e que serviu de base para todos os artistas desse gênero. 

Melhores Faixas: Sophisticated Lady, The Tattooed Bride 
Vale a Pena Ouvir: Mood Indigo, Solitude

The Duke Plays Ellington – Duke Ellington





















NOTA: 8,2/10


Então, se passaram dois anos e Duke Ellington lançava mais um trabalho, o The Duke Plays Ellington. Após o Masterpieces by Ellington, esse trabalho surge num contexto de reformulação. O início dos anos 1950 foi difícil para as big bands. O gosto popular se voltava para o Bebop e para grupos menores; manter uma grande orquestra era financeiramente inviável para muitos líderes. Duke, que sempre resistiu à mudança do formato, teve que lidar com desmanches temporários de sua banda e períodos de baixa comercial, fazendo assim um álbum mais intimista. A produção foi gravada em mono, com qualidade sonora limpa e equilibrada para os padrões da época. Ela valoriza o piano, posicionando-o à frente na mixagem, sem sufocar os acompanhamentos do baixo do Wendell Marshall e da bateria do Butch Ballard. O repertório foi um pouco mais extenso, com oito faixas muito boas e diversificadas. Enfim, é um ótimo trabalho, mas que caiu no esquecimento. 

Melhores Faixas: In A Sentimental Mood, Prelude To A Kiss 
Vale a Pena Ouvir: B Sharp Blues, Things Ain't What They Used To Be, Passion Flower

Such Sweet Thunder – Duke Ellington And His Orchestra





















NOTA: 8,8/10


Quatro anos depois, foi lançado mais um trabalho de Duke Ellington, o Such Sweet Thunder. Após o The Duke Plays Ellington, esse trabalho surgiu graças a uma parceria com Billy Strayhorn. Essa suíte orquestral foi inspirada na obra de William Shakespeare, e a ideia surgiu quando Ellington foi convidado para compor uma obra para o Shakespeare Festival no Canadá, em 1956. Ele e Strayhorn, ambos leitores assíduos e apaixonados por literatura, mergulharam no universo shakespeariano e criaram uma suíte que não apenas homenageia Shakespeare, mas traduz seus personagens e atmosferas em termos musicais. A produção, feita por Irving Townsend, destaca a clareza dos arranjos, equilibrando a complexidade orquestral com espaço para solos expressivos. O som é brilhante e conseguiu preservar o Swing e a personalidade dos músicos. O repertório ficou muito bom, e cada canção tem seu sentimento e dinâmica. Enfim, é um belo disco que vale a pena ser apreciado. 

Melhores Faixas: The Star-Crossed Lovers, Lady Mac 
Vale a Pena Ouvir: Sonnet For Sister Kate, Half The Fun, Such Sweet Thunder

Ellington Indigos – Duke Ellington And His Orchestra





















NOTA: 9,7/10


Mais um ano se passa, e foi lançado mais um álbum de Duke Ellington, o Ellington Indigos. Após o Such Sweet Thunder e aproveitando o momento do Newport Jazz Festival de 1956, ele recolocou seu nome em destaque. Aproveitou a ocasião para lançar diversos projetos que mostravam diferentes facetas de seu trabalho: desde grandes suítes orquestrais até gravações mais intimistas, como The Duke Plays Ellington (1953) ou este Indigos, que aposta na beleza melódica, nos arranjos de bom gosto e na interpretação refinada. A produção, feita novamente por Irving Townsend, trouxe um som intimista e quente, ideal para o clima noturno e nostálgico que o repertório exige. A mixagem prioriza a suavidade e o espaço em que a música respira, com foco nos timbres doces e nos solos expressivos. O repertório é muito bom, e as canções são todas exuberantes, com toda aquela leveza e melodia swingada. No final, é um belíssimo disco, recheado de delicadeza. 

Melhores Faixas: Mood Indigo, Prelude To A Kiss, The Sky Fell Down, Where Or When 
Vale a Pena Ouvir: Tenderly, Autumn Leaves, Dancing In The Dark

The Cosmic Scene – Duke Ellington's Spacemen





















NOTA: 6/10


Pouco tempo depois, foi lançado mais um trabalho do Duke Ellington, o The Cosmic Scene. Após o Ellington Indigos, diferente do seu habitual big band completo, aqui temos uma formação reduzida, apelidada de Duke Ellington’s Spacemen, que atua quase como um noneto (nove músicos). Essa escolha se alinha à estética mais moderna e “espaçosa” que o Jazz começava a explorar, mostrando que Duke estava se reinventando. A produção foi basicamente feita com o mesmo produtor, e aqui seguiu um caminho mais enxuto, com foco na sonoridade de câmara jazzística. O som é seco, direto, com ênfase nos solos e na interação entre os músicos. O título do álbum pode até sugerir algo vanguardista, mas na prática o disco é swingado, com muito espaço para improvisação individual e fraseados soltos, o que deixa muita coisa repetitiva. O repertório é bem irregular, tendo algumas canções boas e outras sem moldagem. Em suma, é um trabalho mediano, que foi mais escasso. 

Melhores Faixas: Perdido, Avalon, Midnight Sun 
Vale a Pena Ouvir: Jones, Bass-ment, Spacemen

Ellington Jazz Party – Duke Ellington And His Orchestra





















NOTA: 8/10


Perto do final dos anos 1950, foi lançado mais um trabalho de Duke Ellington, o Ellington Jazz Party. Após o The Cosmic Scene, Duke e seu parceiro de longa data, Billy Strayhorn, expandem a orquestra tradicional com participações especiais de grandes nomes do Jazz moderno, como Dizzy Gillespie, Jimmy Rushing e Johnny Hodges, além de explorar percussões não convencionais. Com isso, o álbum se torna mais do que uma "festa": é um verdadeiro banquete jazzístico. A produção, conduzida novamente por Irving Townsend, é nítida e viva, captando bem a dinâmica do grupo e o contraste entre texturas. A Columbia apostou alto nesse projeto, tanto pela presença dos convidados quanto pelo lançamento em estéreo, formato ainda recente e ideal para destacar os timbres da orquestra. O repertório ficou bem interessante, e as composições se mostram mais complexas e com um caminho mais coeso. Enfim, é um trabalho bacana e bem amarrado. 

Melhores Faixas: Red Shoes 
Vale a Pena Ouvir: Ready, Go!, Tymperturbably Blue, Malletoba Spank

Festival Session – Duke Ellington And His Orchestra





















NOTA: 5,8/10


Pouco tempo depois, foi lançado mais um trabalho de Duke Ellington, o Festival Session. Após o Ellington Jazz Party, Duke se viu reconectado com um público mais jovem e com o novo circuito de festivais, sendo este trabalho uma espécie de tributo a esse momento, reunindo alguns dos músicos mais expressivos da orquestra em um registro que mistura espírito festivo e virtuosismo técnico. A produção seguiu por um caminho que priorizou a espontaneidade e a energia, como se a orquestra estivesse tocando ao vivo; os solos são longos, os arranjos têm espaço para improvisação, e há uma sensação constante de celebração e fluidez. No entanto, fica bastante repetitivo e carente de imersão, dando a impressão de que recolheram um monte de arranjos e os misturaram sem muita coesão. O repertório até começa bem, mas depois decai bastante por conta de faixas descartáveis. Enfim, é um disco muito irregular, e essa espécie de celebração não funcionou como se esperava. 

Melhores Faixas: Launching Pad, Copout Extension 
Piores Faixas: Idiom 59 (I, II e III), Duael Fuel (I, II e III)

Blues In Orbit – Duke Ellington





















NOTA: 9,1/10


Entrando nos anos 1960, Duke Ellington lançava mais um álbum intitulado Blues in Orbit. Após o Festival Session, ele decidiu fazer um trabalho mais despretensioso, direto e descontraído. Além disso, o disco funciona como uma amostra informal da capacidade criativa e da coesão da orquestra de Ellington, mesmo em um contexto mais solto e menos “grandioso”. Ainda assim, carrega a assinatura inconfundível do maestro: elegância, precisão e carisma musical. Produção do Teo Macero, foi concebida com uma estética mais informal; várias faixas foram registradas em takes únicos, durante sessões noturnas, o que contribui para a atmosfera descontraída do projeto. Todo o material foi gravado ao longo dos dois anos anteriores. A produção é discreta, mas eficiente: o som é quente e coeso, com ênfase na ambiência e nos timbres individuais. O repertório é incrível, e as canções têm aquele toque de leveza e são bem dinâmicas. No fim, é um belo trabalho, bastante descontraído. 

Melhores Faixas: Blues In Orbit, C Jam Blues, Pie Eye's Blues, Sweet And Pungent, The Swingers Get The Blues Too 
Vale a Pena Ouvir: Villes Ville Is The Place, Man, Smada, Blues In Blueprint

Selections From Peer Gynt Suites Nos. 1 & 2 And Suite Thursday – Duke Ellington And His Orchestra





















NOTA: 8,7/10


No ano de 1961, foi lançado Selections From Peer Gynt Suites Nos. 1 & 2 And Suite Thursday. Após o Blues In Orbit, Duke Ellington que já era considerado um dos maiores compositores e arranjadores da história do Jazz. Ele decidiu fazer algo bastante ousado fazer uma interpretação e adaptação de duas suites baseadas na famosa música de Edvard Grieg para Peer Gynt (Suítes Nos. 1 & 2), um dos grandes clássicos da música erudita, e a Suite Thursday, composta por Ellington para a peça teatral de Broadway Thursday’s Child (1964). Produção conduzida mais uma vez por Irving Townsend, focou na excelência da captação, privilegiando as nuances dos arranjos complexos e os solos expressivos, mas mantendo um equilíbrio entre a grandiosidade orquestral e a intimidade dos momentos mais delicados. Com isso, o repertorio ficou muito bom sendo bem interpretado e que foi para um caminho mais abrangente. Em suma, é um trabalho muito legal, mas que caiu no esquecimento. 

Melhores Faixas: Suite Thursday, In The Hall Of The Mountain King 
Vale a Pena Ouvir: Solvejg's Song
 

First Time! The Count Meets The Duke – Duke Ellington And His Orchestra





















NOTA: 8,7/10


E ainda naquele mesmo ano foi lançado o álbum colaborativo com Count Basie, First Time! The Count Meets the Duke. Após o Selections from Peer Gynt Suites Nos. 1 & 2 and Suite Thursday, aconteceu a reunião de duas das maiores big bands da história do Jazz: a orquestra de Duke Ellington e a de Count Basie. Até então, as duas orquestras, que moldaram o Swing e o Jazz moderno nas décadas anteriores, haviam coexistido em paralelo, com estilos complementares, porém distintos: Ellington com sua elegância sofisticada e arranjos complexos; Basie com seu swing direto, groove pulsante e solos econômicos. A produção, feita por Teo Macero, é marcada pela alternância entre os estilos das duas orquestras, mas também por momentos em que elas dialogam, trocando frases, solos e acompanhamentos, com o som bem captado. O repertório ficou muito bom, e as canções são bem executadas. Enfim, é um trabalho sólido, com consistência e valor histórico. 

Melhores Faixas: Jumpin' At The Woodside, Until I Met You 
Vale a Pena Ouvir: Wild Man, Segue In C, To You


Por hoje é só, então flw!!! 

O Legado de Ozzy: Dois Meses de Saudade e Eternidade

Mesmo após sua partida, a influência do Ozzy permanece viva no rock e na cultura.  Foto: Ross Halfin Pois é, meus amigos, hoje faz 2 meses q...