segunda-feira, 7 de julho de 2025

Analisando Discografias - Duke Ellington: Parte 2

                   

Duke Ellington & John Coltrane – Duke Ellington & John Coltrane





















NOTA: 10/10


No ano de 1963, foi lançado um dos álbuns colaborativos mais cultuados até hoje: o encontro entre Duke Ellington e John Coltrane. Isso foi algo totalmente surpreendente. De um lado, Duke, o arquétipo do Jazz orquestral e do Swing sofisticado, com uma carreira iniciada ainda na década de 20 e vasta experiência como compositor, pianista e líder de big band. Do outro, Coltrane, então em sua fase madura e influente no movimento do Modal Jazz e do Post-Bop, com um estilo visceral e exploratório. A produção, feita por Bob Thiele, tinha uma ideia simples: reunir dois gigantes do Jazz com um pequeno grupo de apoio, sem orquestra, sem arranjos grandiosos, apenas um diálogo musical direto e espontâneo. A sessão seguiu um espírito de camaradagem e improvisação: era Ellington compondo e Coltrane ajustando seu approach expressivo. O repertório é incrível, e as canções são todas exuberantes. Em suma, é um baita álbum que se tornou um clássico do Jazz. 

Melhores Faixas: In A Sentimental Mood, My Little Brown Book, Take The Coltrane 
Vale a Pena Ouvir: Stevie, The Feeling Of Jazz

All American In Jazz – Duke Ellington And His Orchestra





















NOTA: 8/10


Ainda naquele mesmo ano, foi lançado mais um álbum solo do Duke Ellington, o All American in Jazz. Antes do álbum colaborativo com John Coltrane, o musical All American, estreado na Broadway no mesmo ano (com Ray Bolger no elenco), não foi um grande sucesso comercial, mas continha músicas com potencial melódico e temático para interpretações jazzísticas. O libreto era de Mel Brooks e a trilha de Charles Strouse e Lee Adams, dupla responsável também por Bye Bye Birdie. Então, Duke decidiu reimaginar essas músicas em seu contexto de big band. A produção, conduzida por Teo Macero, apresentou um projeto orquestrado com elegância, mantendo o DNA elingtoniano: ênfase em timbres ricos, solos bem distribuídos e uma harmonia sofisticada que eleva o material original. A gravação capta bem o som expansivo da orquestra, com clareza nos arranjos. O repertório ficou bem interessante, e as canções têm sua envolvência. No fim, é um disco legal, só que foi esquecido. 

Melhores Faixas: Our Children, We Speak The Same Language 
Vale a Pena Ouvir: What A Country!, Back To School, Once Upon A Time, If I Were You

Duke Ellington Meets Coleman Hawkins – Duke Ellington Meets Coleman Hawkins





















NOTA: 9,8/10


Aí, mais um tempinho se passou e foi lançado mais um álbum colaborativo, dessa vez com Coleman Hawkins. Após o álbum colaborativo com John Coltrane, este trabalho reúne dois pioneiros absolutos do Jazz em um registro histórico. Ellington, pianista, arranjador e arquiteto do Jazz orquestral, já era considerado um dos maiores compositores da música americana. Hawkins, por sua vez, é frequentemente chamado de “o pai do saxofone tenor no Jazz”, por sua importância em transformar o instrumento em uma voz solista expressiva, desde a época do Swing do Bepob. A produção, conduzida por Bob Thiele, ao contrário das gravações típicas de Ellington com big band, apresenta aqui uma formação de quinteto ou sexteto, o que permite mais espaço para os solistas respirarem e improvisarem, deixando tudo bem cadenciado. O repertório é incrível, e as canções são todas exuberantes e leves. Em suma, é um belíssimo disco, totalmente essencial. 

Melhores Faixas: Mood Indigo, Wanderlust, The Ricitic, Self Portrait (Of The Bean) 
Vale a Pena Ouvir: You Dirty Dog, Limbo Jazz

Afro-Bossa – Duke Ellington And His Orchestra





















NOTA: 8,3/10


Meses depois, foi lançado mais um trabalho de Duke Ellington, intitulado Afro-Bossa. Após o álbum colaborativo com Coleman Hawkins, Duke passou a experimentar novas formas e fusões culturais. Um dos eixos dessa nova fase era o interesse por sonoridades globais, especialmente de origens africanas, latino-americanas e asiáticas. Este trabalho sintetiza seu fascínio por esses ritmos, inclusive pela Bossa Nova, que havia se tornado uma febre mundial graças ao João Gilberto e Stan Getz. Vale lembrar que, nesse período, Duke Ellington havia recém-assinado com a gravadora do Frank Sinatra, a Reprise Records. A produção foi possivelmente feita por ele mesmo, sem se apoiar em overdubs ou efeitos de estúdio: trata-se de uma gravação ao vivo em estúdio, com foco na dinâmica natural e na textura rítmica, resultando em algo mais dinâmico e feito de forma livre. O repertório é bem interessante, e as canções são todas mais suaves e contidas. No fim, é um trabalho legal e mais ousado. 

Melhores Faixas: Angu, Moonbow 
Vale a Pena Ouvir: Bonga, Sempre Amore, Eighth Veil, Afro-Bossa

The Far East Suite – Duke Ellington





















NOTA: 10/10


Indo para 1967, foi lançado mais um álbum fantástico de Duke Ellington, o The Far East Suite. Após o Afro-Bossa, Duke e sua orquestra embarcaram em uma extensa turnê internacional patrocinada pelo Departamento de Estado dos EUA, com apresentações na Síria, Índia, Paquistão, Afeganistão, Ceilão (atual Sri Lanka), Tailândia e Japão. Ao longo do percurso, ele e Billy Strayhorn foram absorvendo as sonoridades, ambientes e impressões desses países, sem a pretensão de fazer música “etnográfica”, mas sim de reinterpretar suas sensações em linguagem jazzística. A produção, feita por Brad McKuen e lançada pelo selo da RCA, apostou em toques exóticos fundidos à estética do swing e à sofisticação harmônica do Ellington, além de valorizar o equilíbrio entre os sopros e a seção rítmica. O repertório é espetacular, e as canções são todas bem animadas e elegantes. No final, é um belíssimo disco e um clássico absoluto. É uma pena que Billy Strayhorn tenha falecido antes do lançamento. 

Melhores Faixas: Isfahan, Tourist Point Of View, Agra 
Vale a Pena Ouvir: Blue Pepper (Far East Of The Blues), Depk, Ad Lib On Nippon

Latin American Suite – Duke Ellington And His Orchestra





















NOTA: 8,4/10


Indo para 1972, foi lançado mais um trabalho de Duke Ellington, o Latin American Suite. Após o The Far East Suite, foi preparada essa suíte, inspirada por uma turnê realizada em 1968 por vários países da América Latina, incluindo México, Brasil, Argentina e Uruguai. Durante essa viagem, Duke absorveu os ritmos e melodias locais não com o intuito de imitá-los, mas de reinterpretá-los à sua maneira, inserindo-os em sua linguagem jazzística madura. Vale lembrar que esse trabalho foi lançado quando ele já tinha mais de 70 anos de idade. A produção, conduzida por ele próprio, é mais direta e sem ornamentações: o foco está no som puro da orquestra, com ênfase rítmica, espaço para solos e arranjos com coloração harmônica característica, resultando em uma mistura de ritmos bem consistente. O repertório é muito bom, e as canções são bem variadas, indo para um clima descontraído. No fim, é um disco bem bacana e bastante subestimado. 

Melhores Faixas: The Sleeping Lady And The Giant Who Watches Over Her, Chico Cuadradino 
Vale a Pena Ouvir: Latin American Sunshine, Tina

Duke's Big 4 – Duke Ellington Quartet





















NOTA: 3/10


Dois anos depois, foi lançado um dos últimos álbuns em vida de Duke Ellington, o Duke's Big 4. Após o Latin American Suite, depois de décadas comandando uma das mais influentes big bands da história do Jazz, ele demonstrava cada vez mais interesse em explorar o lado íntimo e improvisado do gênero em pequenas formações. Era uma espécie de celebração tardia de sua genialidade pianística, frequentemente ofuscada por sua fama como compositor e maestro. A produção, conduzida por Norman Granz, reuniu um quarteto enxuto com Joe Pass (guitarra), Ray Brown (contrabaixo) e Louie Bellson (bateria), que ficou equilibrado, com Ellington guiando a música com autoridade, mas deixando muito espaço para o diálogo e a improvisação. O quarteto, no entanto, acabou soando sem energia e repetitivo. O repertório é fraco, e as canções são bem monótonas, com poucas realmente interessantes. No geral, é um disco pouco inspirado e bastante esquecível. 

Melhores Faixas: Love You Madly, Just Squeeze Me (But Don't Tease Me) 
Piores Faixas: The Hawk Talks, The Blues, Everything But You

The Afro-Eurasian Eclipse (A Suite In Eight Parts) – Duke Ellington





















NOTA: 8,7/10


E aí chegamos ao último lançamento essencial de Duke Ellington, lançado de forma póstuma: The Afro-Eurasian Eclipse (A Suite in Eight Parts). Após o fraquíssimo Duke’s Big 4 e o falecimento do pianista, vítima de pneumonia, foi resgatado esse material gravado em 1971. A ideia da suíte foi inspirada na frase do historiador Arnold Toynbee, que previu que o mundo do futuro não seria dominado pelo Ocidente, mas sim por uma fusão das culturas africanas, asiáticas e europeias. Na sua interpretação, Duke criou uma suíte que explora diferentes sons, ritmos e atmosferas de vários continentes. A produção, feita por seu filho Mercer Ellington, apresentou uma execução orquestral precisa e sofisticada, com ênfase rítmica e colorística. A orquestra, já envelhecida, ainda era capaz de proezas de timbre, sutileza e potência rítmica. O repertório ficou bem interessante, e as canções são mais dinâmicas e profundas. Enfim, é um último trabalho até que consistente e digno. 

Melhores Faixas: Tang, Gong, True 
Vale a Pena Ouvir: Didjeridoo, Hard Way
 

                                        Então é isso, um abraço e flw!!!    

Review: The Same Old Wasted Wonderful World do Motion City Soundtrack

                   The Same Old Wasted Wonderful World – Motion City Soundtrack NOTA: 8,2/10 Dias atrás, o Motion City Soundtrack retornou, ...