domingo, 6 de julho de 2025

Analisando Discografias - John Coltrane: Parte 3

                 

Ascension – John Coltrane





















NOTA: 9/10


Indo para 1966, foi lançado mais um trabalho do John Coltrane em formato duplo: o virtuoso Ascension. Após o The John Coltrane Quartet Plays, o saxofonista decidiu romper quase totalmente com as estruturas convencionais do Hard Bop e do Modal Jazz, aproximando-se do Free Jazz em sua forma mais ampla. A obra também reflete a influência direta do Ornette Coleman e Albert Ayler, ao mesmo tempo em que Coltrane tenta integrar sua própria linguagem. A produção foi conduzida, como sempre, por Bob Thiele, e foram registradas duas tomadas da obra, conhecidas como Edition I e Edition II. Ambas duram cerca de 40 minutos, mas apresentam variações significativas na ordem dos solos e na interação entre os músicos. Trata-se de um som denso, muitas vezes caótico, que evidencia uma forte improvisação coletiva. O repertório é interessante, e as composições apresentam toda aquela dinâmica voraz. Enfim, é um disco legal, que não pode ser ouvido de forma simples. 

Melhores Faixas: Ascension (Part 2) 
Vale a Pena Ouvir: Ascension (Part 4), Ascension (Part 1), Ascension (Part 3)

Meditations – John Coltrane





















NOTA: 9,7/10


Aí, mais um tempinho se passou e foi lançado mais um trabalho novo: o Meditations. Após o Ascension, John Coltrane decidiu fazer com que esse álbum fosse uma espécie de aprofundamento introspectivo da mesma busca espiritual e estética. Nesse período, Coltrane já começava a se afastar das estruturas tonais e rítmicas convencionais, dando espaço a uma liberdade cada vez maior na forma e na improvisação. A produção foi praticamente a mesma, e a grande diferença é que aqui temos um sexteto que criou uma música de densidade e energia ímpar. A presença de dois bateristas (Elvin Jones e Rashied Ali) gera camadas rítmicas entrelaçadas, enquanto os saxofones de Coltrane e Pharoah Sanders colidem e se entrelaçam, alternando momentos de lirismo com explosões caóticas. O repertório ficou incrível, e as composições têm um lado mais atmosférico e simplista, apesar de muita técnica. No geral, é um baita álbum, que apresenta uma complexidade coesa. 

Melhores Faixas: The Father And The Son And The Holy Ghost, Consequences, Compassion
Vale a Pena Ouvir: Serenity, Love

Kulu Sé Mama – John Coltrane





















NOTA: 8/10


E aí, em janeiro daquele ano de 1967, foi lançado o último álbum em vida do John Coltrane: Kulu Sé Mama. Após o Meditations, ele seguiu por um caminho que se aproxima de uma colagem sonora, em que elementos do Modal Jazz, do Free Jazz e da música espiritual africana convivem de forma quase ritualística. O álbum também reflete as influências extramusicais que vinham se intensificando em sua vida: espiritualidades não ocidentais, rituais afro-diaspóricos, filosofia oriental e consciência cósmica. Dessa vez, a produção do Bob Thiele foi bem mais exigente, já que ele teve que ir atrás de gravações realizadas entre 14 de outubro e 10 e 16 de junho de 1965, representando uma transição intensa e fragmentada na trajetória do saxofonista, selecionando faixas que, embora gravadas em contextos distintos, compartilham uma aura  experimental comum. O repertório ficou muito bom, e as composições estão bem detalhadas. Enfim, é um ótimo disco, que foi bastante arriscado. 

Melhores Faixas: Vigil 
Vale a Pena Ouvir: Welcome, Kulu Sé Mama (Juno Sé Mama)

Expression – John Coltrane





















NOTA: 9,3/10


E aí, meses depois, foi lançado seu primeiro trabalho póstumo, o Expression, que surpreendeu a todos. Após o Kulu Sé Mama, infelizmente John Coltrane veio a falecer em 17 de julho de 1967, precocemente, aos 40 anos de idade, vítima de um câncer no fígado. Com isso, resgataram um material que possivelmente seria lançado mais para o final daquele ano, e que mostrou o saxofonista buscando não apenas romper com formas convencionais, mas se tornar um canal de expressão espiritual absoluta. A produção foi feita pelo mesmo produtor de sempre, e com um detalhe: quem toca piano aqui é a esposa do John, Alice Coltrane. Aqui seguiram uma sonoridade etérea, livre e desmaterializada, com interações que muitas vezes ignoram ritmo fixo, tonalidade clara ou estrutura tradicional, sendo mais cadenciado. O repertório ficou muito bom, e as composições são mais melódicas e meditativas. Enfim, é outro trabalho incrível, mas que acabou caindo no esquecimento. 

Melhores Faixas: To Be, Offering 
Vale a Pena Ouvir: Ogunde, Expression

Om – John Coltrane





















NOTA: 8,6/10


E logo após isso, foi lançado mais um álbum intitulado Om, em 1968. Após o Expression, foi resgatado um material de três anos antes, em que Coltrane já estava imerso em uma jornada espiritual que ultrapassava os limites do Jazz, da música ocidental e da forma artística tradicional. Após a elevação modal do A Love Supreme e a expansão coletiva do Ascension, ele passou a integrar filosofias orientais, cosmologia, espiritualidade africana e práticas devocionais em sua música. A produção foi a mesma de sempre, só que tudo seguiu por um caminho mais cru e caótico, adotando uma abordagem do Free Jazz com uma pegada densa e ritualística. Um detalhe notável: Coltrane, Sanders e outros membros do grupo recitam versos de textos sagrados hindu-budistas no início da gravação. O repertório é basicamente uma faixa dividida em duas partes, que começa de forma caótica e depois se torna mais leve. No geral, é um disco interessante, mas definitivamente não feito para ouvidos medíocres. 

Melhores Faixas: Om, Part 1 
Vale a Pena Ouvir: Om, Part 2
  

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