Lush Life – John Coltrane
NOTA: 8,1/10
No ano seguinte, mais um período produtivo marcou sua carreira, com o lançamento do Lush Life. Antes do Giant Steps, todas as gravações ocorreram entre 1957 e 1958, um período decisivo em sua trajetória. Coltrane ainda estava em transição, se libertando de seus problemas com drogas e consolidando sua voz musical após sair (temporariamente) do quinteto do Miles Davis. Nesse período, ele começava a explorar mais profundamente sua linguagem musical, e este trabalho capta exatamente esse momento de autodescoberta, antes do sheets of sound. A produção, conduzida por Bob Weinstock, apresenta uma sonoridade clara, com os instrumentos bem posicionados no espectro estéreo, apesar das limitações da época e do fato de parte do material ter sido reaproveitada de sessões antigas, dentro de uma estética típica do Cool Jazz. O repertório contém 5 ótimas faixas, com uma atmosfera mais introspectiva. No fim, é um trabalho bem consistente.
Melhores Faixas: Lush Life, I Love You
Vale a Pena Ouvir: I Hear A Rhapsody, Trane's Slow Blues, Like Someone In Love
Coltrane Jazz – John Coltrane
NOTA: 8,7/10
Melhores Faixas: I'll Wait And Pray, Like Sonny, Little Old Lady, My Shining Hour
Vale a Pena Ouvir: Harmonique, Some Other Blues
My Favorite Things – John Coltrane
NOTA: 10/10
Aí, no mês seguinte, foi lançado o espetacular My Favorite Things, um dos maiores álbuns do Jazz. Após o Coltrane Jazz, John Coltrane começou a buscar novas estruturas harmônicas e espirituais para sua música, sentindo-se cada vez mais atraído por formas modais, melodias orientais e improvisações mais livres. Com isso, ele formou um quarteto clássico com McCoy Tyner (piano), Steve Davis (baixo) e Elvin Jones (bateria). Além disso, começou a experimentar com o sax soprano, instrumento que até então era raro no momento atual do gênero (sendo mais utilizado no início do Jazz). A produção, feita novamente por Nesuhi Ertegün, gira em torno da ideia de simplificar a harmonia (em relação à complexidade de Giant Steps) para permitir improvisações mais livres e circulares, mantendo o foco na melodia e no sentimento. O repertório contém quatro faixas magníficas, dignas de coletânea. Em suma, é um disco fantástico e uma verdadeira obra-prima.
Melhores Faixas: My Favorite Things, Summertime, Everytime We Say Goodbye
Vale a Pena Ouvir: But Not For Me
Africa/Brass – The John Coltrane Quartet
NOTA: 7,7/10
Melhores Faixas: Greensleeves, Africa
Piores Faixas: Blues Minor
Settin' The Pace – John Coltrane
NOTA: 8/10
Lá para o final daquele ano, foram lançados mais alguns trabalhos. Um deles foi Settin' the Pace. Após o Africa/Brass, foi resgatado outro material do final dos anos 50. A Prestige Records, que possuía um extenso acervo de sessões não lançadas de John Coltrane, começou a publicar esses registros com destaque comercial, aproveitando o sucesso recente do saxofonista. Na época da gravação, Coltrane ainda estava em fase de consolidação estilística, tendo retornado do seu primeiro período no grupo do Miles Davis e se preparando para integrar o histórico quarteto do Thelonious Monk. A produção seguiu o padrão de qualidade característico da Prestige, com todas as faixas sendo standards, mas com interpretações longas, improvisações expansivas e foco na performance dos músicos. O repertório é bem legal, com ótimas canções que apresentam encadeamento rítmico, melódico e harmônico. Enfim, é um trabalho interessante e que tem sua concepção.
Melhores Faixas: I See Your Face Before Me
Vale a Pena Ouvir: If There Is Someone Lovelier Than You, Rise 'N' Shine, Little Melonae
Olé Coltrane – John Coltrane
NOTA: 9/10
E logo depois foi lançado outro disco (mais um ano superprodutivo): Olé Coltrane. Após Settin' The Pace, pouco antes de Coltrane assinar com a gravadora Impulse!, onde desenvolveria seus trabalhos mais transcendentes, ele ainda estava vinculado à Atlantic Records. Inspirado pelo álbum Sketches of Spain, do Miles Davis, no qual ele não participou, mas que admirava, esse trabalho é fortemente marcado por influências espanholas, árabes e norte-africanas, com ritmos baseados em ostinatos e uma abordagem modal mais aberta. A produção foi conduzida mais uma vez por Nesuhi Ertegun, que trouxe uma formação instrumental expandida, com trompete, e que foi mais livre, permitindo improvisações longas, clima hipnótico e ênfase nos timbres. O uso de modos orientais e escalas pouco convencionais também marca a sessão. O repertório é muito bom, e as canções são todas bem exuberantes e caprichadas. Em suma, é um belo disco, embora bastante subestimado.
Melhores Faixas: Olé
Vale a Pena Ouvir: Aisha, Dahomey Dance
Coltrane – The John Coltrane Quartet
NOTA: 8,8/10
Mais um ano se passa, e foi lançado mais um trabalho dele, intitulado apenas Coltrane. Após o Olé Coltrane, ele começou a se aprofundar em estruturas mais diretas, porém espiritualmente mais intensas. Seu quarteto já estava consolidado com os membros que fariam história ao seu lado: McCoy Tyner, Elvin Jones e o recém-chegado Jimmy Garrison. Esse álbum é importante porque registra o quarteto clássico em seu início pleno, com liberdade, coesão e visão compartilhada. A produção, desta vez feita por Bob Thiele, seguiu o padrão das gravações da Impulse!, com qualidade sonora cristalina e foco na experiência auditiva imersiva. Não há overdubs nem arranjos adicionais. O som é puro, direto e captura a intensidade emocional da performance, com tudo construído em duas sessões concentradas. O repertório é muito bom, e as canções são todas belíssimas e densas. Enfim, é outro trabalho muito interessante, que vale a pena ir atrás.
Melhores Faixas: Soul Eyes, Tunji (Toon-Gee)
Vale a Pena Ouvir: Out Of This World, The Inch Worm, Miles' Mode
Ballads – John Coltrane Quartet
NOTA: 9,8/10
No ano de 1963, John Coltrane surpreendeu a todos lançando um trabalho mais palatável: Ballads. Após o Coltrane (1962), em meio a críticas que o acusavam de ser excessivamente cerebral e até "incompreensível", ele decidiu voltar-se para a simplicidade expressiva: baladas tradicionais, tocadas com lirismo e sensibilidade. Segundo relatos, a própria gravadora Impulse! sugeriu a ideia, e ele aceitou de boa o desafio de registrar interpretações diretas de standards românticos, sem os complexos arranjos que vinham marcando sua obra recente. A produção, conduzida mais uma vez por Bob Thiele, foi discreta e elegante. Não há overdubs nem pós-produção notável; o som foi registrado com naturalidade, favorecendo a atmosfera intimista e calorosa das performances. Segundo McCoy Tyner, as faixas foram gravadas já no primeiro take. O repertório é maravilhoso, e as canções são belíssimas e aconchegantes. No fim, é um disco encantador e bastante subestimado.
Melhores Faixas: It's Easy To Remember, Say It (Over And Over Again), You Don't Know What Love Is
Vale a Pena Ouvir: Too Young To Go Steady, Nancy (With The Laughing Face)
John Coltrane And Johnny Hartman – John Coltrane And Johnny Hartman
NOTA: 9,9/10
Logo depois, foi lançado um álbum colaborativo com o cantor Johnny Hartman. Após o Ballads, Coltrane buscava aprofundar sua expressão espiritual e emocional, experimentando tanto a intensidade dos improvisos livres quanto a pureza lírica dos standards românticos. Hartman, por outro lado, era um cantor com voz de barítono aveludada, associado ao Jazz mais tradicional e sofisticado, mas ainda relativamente subestimado na época. Coltrane o admirava há anos e, assim, sugeriu uma colaboração entre os dois. Com produção mais uma vez do Bob Thiele, a gravação foi feita em apenas uma tarde, com os músicos e Hartman tocando juntos no estúdio, sem grandes ensaios formais. O clima era descontraído e espontâneo, mas altamente profissional. Apenas um take extra foi necessário em uma das faixas. O repertório é muito bom, com canções que alternam entre momentos vocais e instrumentais. Sendo assim, é outro trabalho bem curioso e honesto.
Melhores Faixas: My One And Only Love, They Say It's Wonderful
Vale a Pena Ouvir: You Are Too Beautiful, Lush Life
Crescent – John Coltrane Quartet
NOTA: 8,6/10
Mais um ano se passou, e ele retornou lançando mais um trabalho com seu quarteto: Crescent. Após o álbum colaborativo com Johnny Hartman, John Coltrane já estava profundamente imerso na busca por transcendência musical e espiritual, o que se refletia não apenas em sua técnica e composição, mas também na intensidade emotiva de suas interpretações. Ele criou um trabalho que fosse um retrato íntimo dessa fase de transição, ainda ligada ao Hard Bop e ao Modal Jazz, mas que já apontava para a radicalidade de um futuro projeto. A produção, como sempre feita por Bob Thiele, traz uma captação clara e natural dos instrumentos, evidenciando o contraste dinâmico entre a delicadeza e a intensidade da música, que alterna entre momentos mais introspectivos e outros mais frenéticos. O repertório é muito bom, com canções dinâmicas e mais relaxantes. No fim, é mais um ótimo álbum, que serviu como base para o que viria a seguir.
Melhores Faixas: Lonnie's Lament, Wise One
Vale a Pena Ouvir: Crescent, The Drum Thing, Bessie's Blue
Black Pearls – John Coltrane
NOTA: 8,1/10
E logo depois foi lançado mais um álbum novo, desta vez resgatando um material inédito: Black Pearls. Após o Crescent, a Prestige Records decidiu atacar novamente, tirando mais um material de 1958. John Coltrane já havia começado a desenvolver sua sonoridade característica, marcada pela técnica intensa e pelo “sheets of sound”, que consiste na sobreposição de linhas rápidas e densas. No entanto, ele ainda estava firmemente enraizado no Hard Bop, com influências de Bebop e Blues. A produção, como era de se esperar, foi conduzida por Bob Weinstock, mantendo aquela abordagem simples e direta, sem grandes artifícios. Tudo é claro e direto, com destaque para o sax tenor robusto do Coltrane e os arranjos quentes do quinteto. A gravação captura a energia crua e a interação viva entre os músicos. O repertório contém 3 faixas longas e de pura improvisação. Enfim, é mais um trabalho interessante, que revela ainda mais do seu domínio musical.
Melhores Faixas: Lover Come Back To Me
Vale a Pena Ouvir: Black Pearls, Sweet Sapphire Blues
A Love Supreme – John Coltrane
NOTA: 10/10
Então chegamos ao ano de 1965, quando John Coltrane lança o estupendo A Love Supreme. Após o Black Pearls, depois de anos de muita experimentação, incluindo sua luta contra o vício e a busca por sentido espiritual, Coltrane alcançou um estado de renovação. Este trabalho é um testemunho espiritual e musical dessa epifania, expressando sua gratidão a Deus por sua recuperação e inspiração, utilizando a música como uma forma de oração e meditação. A produção, novamente a cargo de Bob Thiele, foi minimalista, deixando a música falar por si, com clareza e profundidade. A sessão foi realizada em uma única tarde, e o engenheiro de som Rudy Van Gelder captou com maestria a dinâmica e a densidade sonora do quarteto de Coltrane, evidenciando o contraste entre os momentos de introspecção e as passagens mais explosivas. O repertório é simplesmente fantástico, digno de coletânea. No fim, é um disco sensacional e um dos melhores álbuns de todos os tempos.
Melhores Faixas: Part I – Acknowledgement, Part III - Pursuance / Part IV – Psalm
Vale a Pena Ouvir: Part II - Resolution
The John Coltrane Quartet Plays – The John Coltrane Quartet
NOTA: 8,2/10
Aí, pouco depois, foi lançado mais um álbum de John Coltrane: The John Coltrane Quartet Plays. Após A Love Supreme, ele continuou a explorar territórios musicais ainda mais audaciosos, transitando do Modal Jazz para experimentações mais intensas, rítmicas e livres. O álbum marca uma fase de transição, em que o quarteto clássico demonstra um domínio absoluto da técnica e uma ousadia crescente na improvisação e dinâmica, combinando temas já conhecidos com novas composições que prenunciam o Free Jazz. A produção seguiu o padrão de sempre, com um som claro, detalhado e energético, que capta a química e a intensidade do quarteto em um momento de grande criatividade. Rudy Van Gelder equilibrou a mixagem para destacar tanto os solos intensos de Coltrane quanto o suporte sólido do trio rítmico. O repertório é muito bom, com canções que são pura improvisação e complexidade. No final, é um disco bacana e muito técnico.
Melhores Faixas: Nature Boy
Vale a Pena Ouvir: Brazilia, Chim Chim Cheree (From Walt Disney's "Mary Poppins"), Song Of Praise
Por hoje é só, então flw!!!