quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Analisando Discografias - Mateus Aleluia

                 

Cinco Sentidos – Mateus Aleluia





















NOTA: 8,6/10


Em 2010, foi lançado o primeiro trabalho solo de Mateus Aleluia, intitulado Cinco Sentidos. Depois de muito tempo após o fim dos Tincoãs, o cantor acabou meio que sumindo da grande mídia, já que, nos anos 80, começou a morar em Angola, onde se tornou pesquisador cultural sobre manifestações musicais e rituais africanos. Em 2002, ele retornou ao Brasil a pedido do governo e, anos depois, preparou seu disco solo, que retrata tudo o que viveu nesses últimos anos. Produzido pelo cantor junto com Ubiratan Marques, o álbum traz uma sonoridade bem intimista, com arranjos que evocam o violão dedilhado, percussão leve e timbres sutis de sopros ou cordas, sem perder a naturalidade orgânica. É basicamente um trabalho que tem influências da MPB e do Chamber Folk, mescladas às suas influências espirituais. O repertório ficou muito bom, e as canções são pacíficas e meditativas. No fim, é um ótimo álbum de estreia e bastante preciso. 

Melhores Faixas: Koumba Tam, Amor Cinza, Despreconceituosamente, Quem Guiou A Cega
Vale a Pena Ouvir: Lamento Às Águas | Na Beira Do Mar, A Lente Do Homem

Fogueira Doce – Mateus Aleluia





















NOTA: 9/10


Sete anos se passaram, e foi lançado seu 2º álbum solo, intitulado Fogueira Doce. Após o Cinco Sentidos, ele decidiu fazer um trabalho ainda mais poético, que mostrasse toda a sua influência tridimensional da cultura africana. O título é uma expressão que surge de uma visão em Luanda, na época do “cacimbo”, quando o sol nascia ou se punha de maneira que parecia “uma gema de ovo” que não queimava, era “doce”. Sendo assim, uma metáfora para um trabalho que aquece sem queimar, que ilumina sem explodir. Produzido por Alê Siqueira, o álbum traz uma sonoridade bem delicada e segue a linguagem que Mateus denomina de “afro-barroco”, uma matriz estética que articula influências dos batuques, da música de terreiro, da ancestralidade africana e da cultura do Recôncavo Baiano. Basicamente, a influência principal é do Afoxé. O repertório é muito bom, e as canções são todas bem profundas. Enfim, é um ótimo trabalho e bem consistente. 

Melhores Faixas: Filha! Diga O Que Vê?, Bahia... Bate O Tambor!, Ogum Akorô, Fogueira Doce, Sonhos De Crioula 
Vale a Pena Ouvir: O Serpentear Da Natureza, Convênio No Orum, Eu Vi Obatalá

Olorum – Mateus Aleluia





















NOTA: 8/10


Em 2020, foi lançado mais um álbum de Mateus Aleluia, intitulado Olorum, que foi mais amplo. Após o Fogueira Doce, esse próximo projeto seria bem mais espiritual, mas também uma sustentação da criação e da cosmologia africana. Contaria com muito mais da atenção do ouvinte, já que traria elementos que estão dentro do padrão tradicional de seus trabalhos mais antigos, como do período dos Tincoãs. A produção foi bem intimista e segue um caminho mais diverso, com instrumentos de percussão de matriz africana (atabaque, ilu, talking drum, m’bira), além de cordas, sopros e arranjos que remetem a uma aproximação com a polifonia ocidental, com influências que vão além do Afoxé, como em seus últimos trabalhos, trazendo muitas referências às músicas religiosas africanas tradicionais (o que pode causar certo estranhamento). O repertório é bem legal, tem canções bem melódicas e outras mais contidas. Enfim, é um trabalho bastante interessante. 

Melhores Faixas: Canta Sabiá, Bem-Te-Vi, Pimenta Mumuíla, Nganga Njila 
Vale a Pena Ouvir: Olorum, Talismã, Filho de Rei

Afrocanto das Nações – Mateus Aleluia





















NOTA: 7,1/10


No ano seguinte, foi lançado mais um trabalho bem mais complexo, o Afrocanto das Nações. Após o Olorum, o Mateus Aleluia ele decidiu fazer um álbum que fosse muito mais amplo cuja proposta é “registrar, reatar e retratar de forma fiel a ancestralidade ritualística afro-musical do Brasil, comparando os toques e cantos praticados aqui no Brasil com os toques e cantos dos Orixás, Nkises e Voduns em suas terras de origem no continente africano”. Produção foi aquela de sempre, sendo bem intimista e bem atmosférica, com tudo movimentando-se entre voz, violão, percussão de matriz africana, timbres contemporâneos e estruturas que evocam o sagrado. E aqui tem influencia de Afoxé, Candomblé, Afro-Jazz e até Yoruba music, e lembrando que a maioria das vezes tudo tá em Spoken Word, mesmo que muita coisa acaba não se sustentando. O repertório é bem interessante, tem ótimas canções e outras bem dispensáveis. No fim, é um trabalho bom, mas com irregularidades. 

Melhores Faixas: Vida, Filho de Nanã, Sopro do pássaro, Thobossi, Mawu, Gestação da vida, Sakpatá 
Piores Faixas: Soluar, E noite, meia-noite é, Águas, Voz do tempo, Ladainha sempre o caminho

Mateus Aleluia – Mateus Aleluia





















NOTA: 9,4/10


Então chegamos em 2025, quando foi lançado seu belíssimo 5º álbum de estúdio, autointitulado. Após o Afrocanto das Nações, ele decidiu fazer um trabalho em tom pessoal e existencial, mas mantendo a linha de pesquisa e ancestralidade que marca sua obra. É uma reflexão sobre o amor enquanto força vital, terrena e, ao mesmo tempo, transcendental. Produzido pelo cantor junto com Tadeu Mascarenhas e Tenille Bezerra, o disco apresenta uma aproximação maior com formações orquestrais (cordas, madeiras, metais) e composições mais longas, com tudo tendo bastante densidade e trazendo um lado bem intimista, com arranjos leves e aconchegantes, e influências centralizadas no Folk progressivo e no Chamber Folk, que casam perfeitamente com as linhas vocais delicadas e sinceras de Mateus. O repertório é incrível, e as canções são perfeitas, cheias de mensagem e reflexão. Enfim, é um baita trabalho e um dos melhores do ano. 

Melhores Faixas: Lua / Luar, outra face do Sol, Oh, música! / Aleluia, No amor não mando
Vale a Pena Ouvir: Márua


    Por hoje é só, então flw!!!    

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