Cartola II – Cartola
NOTA: 9,9/10
Dois anos depois, chega o segundo disco do sambista, conhecido como Cartola II ou Cartola (1976), que já em sua capa mostrava que vinha coisa boa. Este álbum veio em um momento de grande reconhecimento do público e crítico para Cartola, que, aos 67 anos, já era uma lenda viva do Samba. Aclamado pelo seu lirismo e sofisticação musical, o álbum reafirma a genialidade dele e solidifica seu legado na música brasileira. Então, ele tinha que fazer uma continuação fiel ao seu álbum de estreia. A produção ficou dessa vez a cargo de Juarez Barroso, que manteve a abordagem simples e intimista que caracterizou o primeiro álbum, mas com um refinamento adicional nos arranjos, que novamente são extremamente elegantes, com destaque para violões, cavaquinhos, flautas e percussões que complementam a voz doce e emotiva do cantor. Além disso, mais uma vez o repertório é extremamente maravilhoso. Logo no começo, já vêm clássicos como O Mundo É um Moinho, que foi composta para Creusa, sua filha adotiva (que daqui a pouco eu falo dela), além das emotivas Minha, Preciso Me Encontrar e também As Rosas Não Falam, que foi aquela canção crucial na vida do Cartola, gravada por Beth Carvalho. E falando na Creusa, ela participa de duas faixas deste disco, que são Sala de Recepção e Ensaboa, todas muito bem interpretadas. Em suma, é mais um disco incrível e que também se tornou outro clássico. Que fase que tava o Poeta das Rosas!
Verde Que Te Quero Rosa – Cartola
NOTA: 10/10
Cartola 70 Anos – Cartola
NOTA: 9,3/10
Depois de algum tempo, chega o último álbum lançado em vida do Cartola, com uma temática totalmente diferente. Em 1978, quase chegando aos 70 anos, o sambista se transferiu da Mangueira para uma casa em Jacarepaguá, buscando um pouco mais de tranquilidade na tentativa de continuar compondo, mas sempre voltava para visitar os amigos. Além disso, o cantor já estava doente e havia sido diagnosticado com câncer na tireoide. Mesmo tendo passado por uma operação, ainda conseguiu gravar este disco. O álbum foi produzido novamente pelo Sérgio Cabral e conta com arranjos de mestres do Samba, o que garante uma qualidade excepcional em termos de instrumentação e harmonia. A produção mantém a essência do Samba tradicional, mas com um lado muito mais refinado, destacando cada detalhe das composições. O repertório é muito bom e tem várias canções maravilhosas como A Cor Da Esperança, Ciência e Arte (que foi samba-enredo da Mangueira no carnaval de 1947) e Evite Meu Amor, todas com temas diferentes e com arranjos bem harmônicos. Além disso, há outras canções muito boas como O Inverno do Meu Tempo, A Mesma Estória, De-Me Graças, Senhora e Silêncio De Um Cipreste. Mas logo após o lançamento deste disco, a saúde do sambista piorou, e no dia 30 de novembro de 1980 ele acabou falecendo, perdendo a luta contra o câncer. Apesar disso, o último disco do Cartola é excelente e muito grandioso de se ouvir.
Documento Inédito – Cartola
NOTA: 9/10
2001 – Dr. Dre
NOTA: 9,8/10
Após todo o sucesso do seu álbum de estreia, era óbvio que uma sequência deveria vir. Demorou, mas veio com o título de 2001, mesmo que não tenha sido lançada nesse ano. Mas qual é o contexto? Em 1995, o sucessor original seria intitulado The Chronic II: A New World Odor. No entanto, esta versão do álbum foi descartada depois que Dre saiu da Death Row. Então, após a criação da Aftermath, ele foi intitulado de Chronic 2000. Só que Suge Knight, muito esperto, tinha os direitos desse título e acabou pegando, então Dre mudou o nome para Chronic 2001: No Seeds até que ele deixou apenas 2001. Como já imaginado, ele próprio produziu esse disco, e ele colabrou com Mel-Man e Lord Finesse na produção, criando batidas complexas, profundas e polidas que misturam samples de Funk e Soul. Além das batidas serem caracterizadas por linhas de baixo pesadas, sintetizadores agudos e uma produção extremamente limpa e precisa. Nem preciso dizer que esse trabalho teve várias feats e todas elas excelentes, só vou citar três aqui das mais de 10: Eminem, Snoop Dogg e Kurupt (pesado, né?). Agora falando do repertório, ele é completamente fantástico e todas as canções são completamente viciantes, indo desde Still D.R.E., Xxplosive, What’s The Difference, Forgot About Dre, The Next Episode, Let’s Get High e várias outras, além de também ter ótimos interlúdios. Em suma, é um disco maravilhoso e incrível, sendo um sucessor fiel e que dá até dúvida em dizer se ele é melhor que The Chronic.
Compton – Dr. Dre
NOTA: 8,6/10
Passou-se bastante tempo desde o último álbum, lançado em 1999, e quase 16 anos depois chega o terceiro disco do Dr. Dre de forma inesperada. Inicialmente, Dre estava trabalhando em um álbum intitulado Detox, que foi anunciado, mas acabou sendo cancelado pois não atendia aos seus padrões e decidiu descartá-lo. Então, ele decidiu lançar este disco inspirado pelo filme biográfico Straight Outta Compton, que conta a história do grupo N.W.A. O álbum serve como uma espécie de trilha sonora não oficial do filme e uma homenagem à cidade de Compton, Califórnia, onde Dre cresceu. A produção é muito boa e completamente moderna, mantendo a assinatura de Dre de beats pesados e polidos, criando uma sonoridade rica e diversificada. O álbum é uma mistura de instrumentação ao vivo e samples, tendo arranjos orquestrados. Mais uma vez, conta com várias participações, não só de rappers clássicos como Snoop Dogg e Eminem, mas também da nova geração como Kendrick Lamar e Anderson .Paak. Contendo um repertório muito bom cheio de faixas incríveis como It’s All On Me, Deep Water e Darkside/Gone, essa última inclusive conta com uma fala do Eazy-E. Por outro lado, algumas faixas ficaram um pouco confusas, como Satisfiction e Animals. Além disso, há duas faixas não creditadas para Dr. Dre: One Shot One Kill com Jon Connor e Snoop Dogg, e Just Another Day com The Game e Asia Bryant. Enfim, este álbum é muito legal e dá aquela sensação de que virá mais coisa boa.
Yo! Bum Rush The Show – Public Enemy
NOTA: 9/10
No início do ano de 1987, é lançado o primeiro álbum de um dos maiores grupos de Rap de todos os tempos e um dos mais importantes da cena. Formado em 1985 por Chuck D, Flavor Flav, Professor Griff, Terminator X e outros membros do The Bomb Squad, o Public Enemy rapidamente se destacou por suas letras politicamente engajadas e seu som agressivo. Antes do lançamento do álbum, Chuck D era radialista na WBAU, uma estação de rádio universitária, onde conheceu Bill Stephney, que se tornou um dos produtores desse disco. A produção foi liderada por ele e também por Rick Rubin (que na época era iniciante nesse ramo). A sonoridade desse álbum é caracterizada por beats pesados, riffs de guitarra e samples de Rock e Funk, criando uma sonoridade densa, agressiva e totalmente crua e direta. Contendo um repertório completamente maravilhoso e muito bem ordenado, com várias canções incríveis e cheias de críticas sociais e políticas como Sophisticated Bitch, Timebomb, You’re Gonna Get Yours, que têm beats pesadas que se encaixam perfeitamente nas linhas vocais do Chuck D e Flavor Flav. Além disso, tem um dos primeiros hits do grupo, a maravilhosa Public Enemy No. 1, onde o destaque são os scratches do Terminator X. Falando nele, a última faixa do disco é basicamente ele mostrando suas habilidades. No final de tudo, é um disco de estreia incrível e que mostrava que o grupo de Long Island tinha bastante potencial.
It Takes A Nation Of Millions To Hold Us Back – Public Enemy
NOTA: 10/10
Logo no ano seguinte, chega um dos maiores clássicos não só do grupo como também da história do Hip-Hop/Rap o It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back. Após o sucesso moderado de seu álbum de estreia, o Public Enemy procurou criar um trabalho mais impactante e inovador. Então, eles decidiram fazer um disco que consideravam ser o equivalente do Hip-Hop ao What's Going On de Marvin Gaye. A produção foi completamente revolucionária para a época. O pessoal da Bomb Squad utilizou uma técnica de colagem sonora que incorporava uma grande variedade de samples, desde Funk, Soul Music e às vezes indo para o Rock e Jazz, criando uma paisagem sonora densa e complexa, graças principalmente a Hank Shocklee, que, como o próprio Chuck D disse, era basicamente o Phil Spector do Hip-Hop (e não é de menos). As batidas eram agressivas e os ritmos frenéticos, refletindo a mensagem urgente das letras. Tudo isso se demonstra em um repertório fantástico e muito bem ordenado, até os interlúdios foram muito bem feitos, sendo o melhor deles Show ‘Em Whatcha Got. Falando das canções, todas são incríveis e abordam críticas políticas e sociais de forma brilhante, como é o caso de Bring The Noise, Don’t Believe The Hype, Louder Than A Bomb, She Watch Channel Zero?! e Rebel Without A Pause. É muita música sensacional uma atrás da outra, parecendo até uma coletânea. Sendo assim, um verdadeiro clássico do Rap e um dos melhores discos de todos os tempos.
Fear Of A Black Planet – Public Enemy
NOTA: 10/10
Indo para Fear Of A Black Planet, que é o 3º álbum do Public Enemy e que tem uma grande base que seu antecessor teve. Após todo o grande sucesso que It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back teve, ajudando a elevar o perfil do Hip-Hop/Rap, acabou vindo uma polêmica gigantesca. O que aconteceu foi que Professor Griff fez comentários antissemitas em uma entrevista ao The Washington Times, dizendo que "Os judeus eram a causa da maioria da maldade no mundo". Isso repercutiu muito mal, tanto que Chuck D estava até fazendo um acordo para que a produção da gravadora Def Jam fosse maior e teve que receber um ultimato para demitir Griff, e logicamente ele fez isso. A produção do álbum foi dirigida pelo pessoal da The Bomb Squad, que utilizou tecnologias de estúdio avançadas para a época, o que permitiu a criação de um som denso e multicamadas. Além disso, os samples foram multiversos; a sonoridade ia desde o Hardcore Hip Hop, passando pelo Hip Hop da Costa Leste e até mesmo um pouco de Rap progressivo. Mais uma vez, eles fizeram um repertório excelente e com canções muito bem elaboradas, principalmente nas letras, que focavam ainda mais em questões raciais e críticas políticas, o que é notado em canções como Fight The Power, Brothers Gonna Work It Out, 911 Is A Joke, a faixa-título e Burn Hollywood Burn, que conta com a participação de Big Daddy Kane e Ice Cube. No final de tudo, é um disco maravilhoso e que realmente chega a competir com seu anterior.
Apocalypse 91... The Enemy Strikes Black – Public Enemy
NOTA: 9,7/10
No ano seguinte (em 1991), chega Apocalypse 91... The Enemy Strikes Black, que é meio que uma sequência do seu antecessor. Após o maravilhoso e aclamado Fear of a Black Planet, que marcou um momento significativo no grupo, em meio a crescentes tensões raciais nos Estados Unidos, principalmente por conta do caso de Rodney King e os subsequentes distúrbios de Los Angeles, o Public Enemy continuou a utilizar os mesmos temas que seu último álbum abordou. Além disso, este é o primeiro trabalho após a saída do Professor Griff, lembrando que ele participou do último disco. A produção foi exatamente a mesma, mas com uma abordagem um pouco mais refinada e menos caótica em comparação com os três primeiros discos. Havia uma maior ênfase na clareza e no impacto direto das batidas e rimas. E tudo isso aconteceu devido ao fato de que eles tinham perdido uma boa parte do seu material original. O repertório é muito bom e cheio de canções espetaculares que, logo no começo, trazem Lost At Birth, Rebirth, Nighttrain e Can’t Truss It, que são bem agressivas, além de 1 Million Bottlebags, que foi feita para protestar contra a difusão das bebidas alcoólicas na comunidade negra. Também tem as não muito lembradas Shut Em Down e Get The F... Outta Dodge. E, claro, também tem a versão thrasheira de Bring The Noise, que foi feita com a banda Anthrax e ficou maravilhosa. Enfim, esse disco é incrível e, mesmo com as mudanças, não deixa de ser uma ótima obra.