Filha de Jesus – João Mineiro & Marciano
NOTA: 7,8/10
Agora, saindo de algo ruim para algo bom, vamos voltar exatamente 50 anos atrás para falar do disco de estreia da clássica dupla João Mineiro & Marciano. A dupla sertaneja teve início em 1970, após João Mineiro encerrar uma parceria de 8 anos com Zé Goiás, e teve a sorte de encontrar Marciano, que planejava formar uma dupla sertaneja voltada para a música romântica e que também abordasse a vida do campo. Então três anos depois, eles conseguiram ser contratados pela Choro Discos, uma gravadora independente. Falo isso porque a prensagem do disco foi paga pelo próprio bolso do João Mineiro. Que teve uma produção um tanto duvidosa, embora os arranjos mesclassem instrumentos tradicionais como violão e viola caipira, e a linha vocal da dupla estivesse ótima. O problema é que o trabalho estar muito mal mixado e com algumas gravações no mínimo questionáveis. Mas o repertório é muito interessante, com várias canções muito boas como a faixa-título, Último Adeus, Desprezo de Amor e Chuvisco de Madrugada, que teve uma parceria com o poeta Goiá. Porém, há algumas músicas fraquinhas como Magoado Coração, Casinha de Praia e Não Sei Porque, sendo essas 2 últimas músicas que encerram o álbum de forma abaixo do esperado. Mas, apesar disso, é um bom disco de estreia que mostrava o potencial a ser explorado pela dupla.
A Procura da Paz – João Mineiro & Marciano
NOTA: 8,6/10
Chorarei ao Amanhecer – João Mineiro & Marciano
NOTA: 8,1/10
Pouco tempo depois, chega mais um disco da dupla o Chorarei ao Amanhecer, que trazia a mesma abordagem com algumas coisas novas. Apesar de ainda estarem naquela fase underground e vinculados a uma gravadora bastante limitada, eles já tinham ganhado uma base de fãs que entendia que a dupla tinha bastante potencial. Sendo assim, um disco que tinha a mesma fórmula do seu antecessor, só que eles queriam fazer algo ainda mais eficaz. Mais uma vez, a produção fez um ótimo trabalho e trouxe uma sonoridade totalmente coesa e cheia de harmonia, mostrando que estava muito bem trabalhada. Além disso, as linhas vocais de João Mineiro & Marciano são muito destacadas, o que foi uma estratégia para que o público conseguisse sentir o sentimento transmitido pela dupla. Novamente, eles capricharam no repertório, recheado de músicas muito interessantes e bem-feitas, como O Meu Opala Preto (que está bem desatualizada essa música), Não Sou Palhaço de Ninguém e Menina Misteriosa. Além disso, tem outras canções maravilhosas que são muito pouco faladas, como O Adeus do Meu Bem, O Amor Não Tem Vergonha e Sozinho na Estrada, cujos arranjos são muito bons. A única coisa em que eles erraram foi na faixa-título, que tem uma letra que não tem muito a ver com a melodia. Mas, de resto, é mais um álbum muito legal e com um alto nível de coesão.
Os Inimitáveis – Vol. 4 – João Mineiro & Marciano
NOTA: 8/10
Os Inimitáveis – Vol. 5 – João Mineiro & Marciano
NOTA: 9/10
Dois anos se passaram, e chega mais um disco dos Inimitáveis, sendo esse o 5º trabalho deles lançado pelo selo da Chororó Discos. Esse disco foi mais uma vez intitulado com esse nome, que, para quem não sabe, foi dado por conta da voz deles ser muito diferente de outras duplas sertanejas e mostrava que nenhuma dupla conseguiria imitar o mesmo timbre de voz dos dois. E, como sempre, após verem que o último álbum teve muita coisa interessante, perceberam que tinham que seguir na mesma linha. Assim, tiveram uma produção excelente que mostrou a maturidade conquistada por João Mineiro & Marciano. Contendo arranjos muito bons, ótimas harmonias e uma instrumentação que foi, sinceramente, a melhor que eles conseguiram até aquele momento. Apresentando, assim, um repertório magnífico com muitas músicas boas, como Chuvas de Maio, Lembranças de Um Grande Amor e Amante Amiga, que, por mais que sejam cheias de sofrência, são canções que foram feitas em outro patamar. Isso também se aplica a outras como Sentimento Sertanejo, Esquecido e Pai Tião, que demonstram todo o carinho e gratidão que a dupla tem por terem sido criados e vivido no interior. Sendo assim, um disco espetacular que, infelizmente, não tem seu devido reconhecimento.
Filho de Jesus – João Mineiro & Marciano
NOTA: 8,4/10
No ano seguinte, é lançado mais um disco da dupla o Filho de Jesus, sendo um pouco diferente dos últimos trabalhos. Logo após lançarem um álbum muito legal e com abordagens diferentes, a dupla decidiu explorar temas mais espirituais neste álbum, trazendo uma nova dimensão à sua música. Claro, sem abandonar suas raízes com aqueles temas românticos (vulgo cheios de sofrência) e abordando as vivências do campo. A produção foi um pouco mais experimental e cuidadosa, demonstrando ser um trabalho mais sério e que prestou atenção em todos os detalhes na sonoridade contida, não só utilizando instrumentos tradicionais do Sertanejo, mas também inserindo algumas orquestrações sutis que adicionam profundidade às canções. As linhas vocais da dupla estão muito mais versáteis. Além disso, eles trazem um repertório com canções muito mais intensas e todas muito boas, como a faixa-título, que já demonstra a seriedade contida nas letras, e isso segue nas outras como Vinte Anos de Silêncio, a excelentíssima Desprezo, Navio do Adeus e Amor e Nada Mais. Além disso, há aquelas músicas feitas para serenatas, como Sem Você Não Sou Ninguém e Minha Serenata (título bastante explícito). No final, é mais um disco muito bom e que teve um ótimo recebimento, embora com o tempo tenha se tornado um trabalho subestimado.
Os Inimitáveis – Vol. 7 – João Mineiro & Marciano
NOTA: 3,5/10
Naquele mesmo ano de 1979, chega o Os Inimitáveis – Vol. 7, sendo uma continuação dos álbuns antigos e totalmente fora da abordagem do seu antecessor. Após terem lançado um trabalho muito mais introspectivo com temas espirituais, eles decidiram seguir a mesma fórmula dos álbuns anteriores, com toda aquela pegada mais enraizada da dupla. Eles queriam fazer canções que fossem ainda mais brilhantes do que já haviam feito. Só que o maior problema foi que a produção acabou sendo muito confusa e tentou fazer uma sonoridade detalhada, com arranjos que valorizassem as vozes dos dois cantores. Por mais que isso sempre tenha funcionado, parece que, ao invés de deixar as melodias totalmente conectadas, acabou ficando totalmente desorganizado. Isso se refletiu em um repertório completamente irregular e com muitas canções ruins, que parecem não ter nenhuma combinação harmônica, como Quem Ama Também Se Separa e Duas Famílias. Apesar disso, há três músicas muito boas, que conseguiram ser muito coesas, como as dos últimos trabalhos que são Essa Noite Será Só de Nós Dois, Meu Velho Amor e a maravilhosa Herança de um Carreiro. Falando em três canções, há uma sequência tenebrosa com Amanheço no Bar, Coitadinho de Mim e Corrente de Amor, que beiram o constrangedor. Enfim, esse acabou sendo um disco completamente ruim e que ficou muito forçado por tentar buscar as tendências da época.
Esta Noite Como Lembrança – João Mineiro & Marciano
NOTA: 8,1/10
Na virada da década de 80, saiu o 8º álbum da dupla João Mineiro & Marciano, que trazia algumas mudanças em comparação aos últimos trabalhos. Logo após terem tido um tropeço com seu último álbum, a dupla decidiu cortar seu vínculo com a Chororó Discos e produzir de forma quase independente o novo disco. Eles estavam em busca de algo para fazer sucesso e nada mais justo do que trazer pessoas experientes para colaborar. Tanto que isso se refletiu na produção, que ficou a cargo de ninguém mais e ninguém menos que José Homero Béttio, mais conhecido como Zé Béttio (provavelmente você que tá lendo não sabe quem é, mas seu pai, sua mãe e seus avós conhecem muito bem, pois ele tinha um dos melhores programas de rádio nos anos 70). Sério, gente, esse cara é muito foda e foi uma das pessoas essenciais para a explosão da música Sertaneja. Então, o que ele fez nesse álbum foi algo brilhante, além de trazer um lado mais espontâneo para os dois. O repertório é muito bom, com canções muito competentes como Canção do Nosso Adeus, Último Café e Mesa Reservada, que basicamente envolvem experiências da vida deles, além de outras faixas incríveis como Você É Mais Forte do Que Eu, Sofredor Apaixonado e a faixa-título, que foi a primeira canção deles a fazer um relativo sucesso. No final de tudo, é um álbum muito bom e que só marcaria o começo de uma grande transição na carreira da dupla.
Viciado em Você – João Mineiro & Marciano
NOTA: 8,8/10
Três anos se passaram e, após uma pausa sem qualquer tipo de material novo, além de algumas turnês, chega enfim mais um disco. Logo após a dupla ter lançado um último álbum muito coeso, eles haviam conquistado uma nova base de fãs. Além disso, Zé Béttio viu que aqueles dois tinham muito potencial e, com tudo isso, a renomadíssima gravadora Copacabana demonstrou interesse em João Mineiro & Marciano, e eles acabaram assinando com a gravadora dos Irmãos Vitale. Nesse trabalho, Zé Béttio acabou sendo um pouco mais técnico, trazendo arranjos que destacassem a melodia e as letras emotivas, além de deixar uma sonoridade perfeita para tocar nas rádios. Foi a partir desse álbum que é nítida a mudança nas linhas vocais da dupla, com Marciano impostando a voz sendo muito mais participativo e João Mineiro com a voz mais baixa e cadenciada, totalmente diferente dos últimos trabalhos em que todas as faixas eram cantadas por eles ao mesmo tempo. Falando nas faixas, o repertório é incrível, e isso aconteceu porque eles contaram com a ajuda nas composições de Darci Rossi, que foi bastante importante na carreira de Chitãozinho e Xororó. E as músicas são todas muito interessantes, como as românticas Vestido de Noiva, Última Serenata, O Beijo do Adeus e, logicamente, a faixa-título, e todas elas tocaram bastante nas rádios. Sendo assim, é um disco muito legal e que foi um divisor de águas na carreira da dupla.
Amor e Amizade (Dia Sim, Dia Não) – João Mineiro & Marciano
NOTA: 7,9/10
Um ano depois, é lançado outro disco da dupla, mais uma vez com bastante expectativa de que rendesse bastante na mídia. Após terem feito um álbum anterior completamente perfeito, que ajudou a divulgar ainda mais a dupla, eles sabiam que dava para seguir essa tendência. Como tinham pessoas muito importantes por trás do gerenciamento de carreira deles, eles estavam mais que preparados para lançar mais um álbum que alavancasse ainda mais a suas popularidades, já que não estavam mais no underground. A produção desse disco foi exatamente a mesma, sem qualquer mudança, mostrando ser quase uma consequência em todos os aspectos do Viciado em Você. Além disso, a gravação contou com instrumentistas competentes e, o que se nota também, é que, quando foram mixar, demonstraram priorizar o equilíbrio entre os instrumentos e as vozes. Com um repertório um pouco mais sólido, mas com várias canções interessantes, todas elas tiveram novamente Darci Rossi por trás das composições. As músicas que mais se destacam são Cem Anos, Sonho da Minha Vida, Ponto Vinte e As Paredes Azuis, que, entre todas as outras, foi uma das músicas mais tocadas nas rádios daquele ano. Contudo, também houve algumas faixas muito irregulares, com letras muito simples, como no caso de A Gaveta e Faça-Me Um Favor. Em suma, é um trabalho interessante, apesar de ter sido uma "nova versão" do disco anterior.
Então é isso, e flw!!!