terça-feira, 8 de outubro de 2024

Analisando Discografias - Sepultura e Soulfly (RA: LIII)

                 

Quadra – Sepultura





















NOTA: 9,2/10


E aí chegamos ao último álbum do Sepultura, o maravilhoso Quadra, que é, novamente, um trabalho conceitual. Após o Machine Messiah, que havia mostrado um amadurecimento da banda, houve o lançamento do documentário da banda (limitado pelos irmãos Cavalera), esse novo trabalho tem esse título, que é uma referência ao termo em português. Além de trazer a ideia de divisão em quatro partes, refletindo a estrutura do álbum, com as músicas organizadas de maneira a explorar diferentes estilos que a banda desenvolveu. A produção, mais uma vez, contou com Jens Bogren, que trouxe uma sonoridade ainda mais precisa, equilibrando perfeitamente a agressividade da banda com a complexidade dos arranjos, e destacando as performances dos integrantes, principalmente Eloy Casagrande, que impressionou com sua técnica impecável na bateria, e Derrick Green, que apresenta uma performance vocal intensa e mais articulada. O repertório é excelente, que é dividido: com Thrash Metal em Isolation e Means to an End; Groove Metal em Capital Enslavement e Raging Void; Prog Metal em Guardians of Earth; e instrumental em Fear; Pain; Chaos; Suffering, com a participação da Emmily Barreto, da banda Far From Alaska. Depois disso, nossa querida banda mineira anunciou o seu fim. Logo após, Eloy Casagrande foi para o Slipknot, e o Sepultura continua realizando sua turnê de despedida. Enfim, esse último trabalho da banda é maravilhoso e tem tudo para se tornar um clássico com o passar do tempo.

Soulfly – Soulfly 





















NOTA: 9/10


Logo após sua saída do Sepultura, Max Cavalera lançou o álbum de estreia de seu novo projeto, autointitulado Soulfly. Depois de deixar o Sepultura após desentendimentos com os outros membros, principalmente envolvendo a gestão da banda. A morte de seu enteado, Dana Wells, também teve um impacto profundo na separação. Com isso, ele quis seguir um caminho mais experimental, explorando novos estilos e incluindo influências tribais e espirituais. Para integrar a banda, Max chamou o guitarrista Lúcio Maia, do Nação Zumbi, o baixista Cello Dias e o baterista Roy Mayorga. Com tudo pronto, partiram para a gravação. A produção ficou a cargo de Ross Robinson, que havia recém-produzido Roots, do Sepultura. Ele trouxe uma sonoridade crua e visceral, destacando a intensidade emocional do Max Cavalera, além de criar uma parede sonora sólida. O uso de elementos percussivos tribais, instrumentos exóticos como o berimbau, e influências do Metal industrial e hip hop, sendo muito diversificado tudo isso juntado com o Nu Metal. O repertório é espetacular, com muitas canções pesadíssimas como Eye for an Eye, Tribe, Fire, Bleed (com a participação do Fred Durst), e as temáticas Quilombo e Bumba, além de outras canções boas como No Hope = No Fear, o ótimo cover de Umbabarauma, de Jorge Ben, e a faixa instrumental Karmageddon, que contém a faixa oculta Sultão das Matas. No final, esse disco é maravilhoso, sendo uma ótima estreia desse projeto promissor.

Primitive – Soulfly 





















NOTA: 9,2/10


No começo dos anos 2000, o Soulfly lança seu 2º trabalho, o ainda mais tribal Primitive. Após o álbum de estreia, Max Cavalera havia conquistado uma nova legião de fãs, consolidando sua carreira pós-Sepultura. A expectativa para o segundo álbum era alta, pois ele havia explorado temas de espiritualidade, dor pessoal e fusões tribais que começaram a definir sua estética. Após gravar o primeiro álbum, Jackson Bandeira retornou ao Brasil com o Nação Zumbi e foi substituído por Logan Mader, do Machine Head, para a turnê. Depois disso, chamaram Mikey Doling, que era do Snot. A abordagem de Max de mesclar o Metal pesado com elementos da cultura indígena brasileira e ritmos africanos trouxe muita originalidade. A produção ficou com Toby Wright, que trouxe uma sonoridade polida, mas ainda manteve a crueza visceral daquela era do Nu Metal. Os ritmos tribais, percussões variadas e a mistura de guitarras pesadas com efeitos sonoros mais atmosféricos são cuidadosamente integrados, dando uma identidade única. O repertório é maravilhoso e cheio de canções incríveis como Back to the Primitive, Pain, com a participação de Chino Moreno e Grady Avenell, as temáticas Mulambo e Flyhigh, e a clássica Jumpdafuckup com Corey Taylor, que é totalmente brutal, além de outras músicas boas como Son Song, com a participação do filho de John Lennon, Sean Lennon, e The Prophet. No fim, é um disco sensacional e que traz uma evolução em comparação à estreia.

3 – Soulfly





















NOTA: 8,3/10


Mais dois anos se passam, e a banda lança seu 3º álbum de estúdio, intitulado 3 (simples, mas com um motivo). Após o Primitive, que contou com uma variedade de convidados e explorou diversas texturas musicais, Max Cavalera decidiu voltar a um som mais concentrado em sua própria visão musical. A arte do álbum apresenta um Om, um ícone espiritual nas religiões indianas. O título original seria o da primeira faixa do disco, e Max declarou mais tarde que se arrependeu de ter mudado o nome. O álbum tem menos colaborações e foca mais no desenvolvimento do som do Soulfly em um formato mais direto e linear. O álbum foi gravado em Phoenix, Arizona, onde ele se estabeleceu após deixar o Brasil. O próprio Max Cavalera produziu esse álbum com a ajuda do renomadíssimo Terry Date. Com isso, a sonoridade ficou mais nítida e menos sobrecarregada em comparação com os álbuns anteriores, continuando a ser Nu Metal, mas indo para um lado quase de Groove Metal. Há uma maior ênfase nas guitarras, que soam mais limpas, embora ainda pesadas, e uma abordagem rítmica mais focada. O repertório é muito legal, começando com a ótima Downstroy, e logo depois vêm canções sensacionais como Seek ‘N’ Strike, Enterfaith e L.O.T.M., além de outras muito boas como One, Brasil, Tree of Pain e os belos covers de One Nation, do Sacred Reich, e Sangue de Bairro, do Chico Science & Nação Zumbi. Enfim, é um ótimo trabalho do Soulfly, que mostrava um afastamento das tendências da época.

Prophecy – Soulfly 





















NOTA: 8/10


O tempo passou, e o Soulfly retornou totalmente diferente com seu novo trabalho, o Prophecy. Após o terceiro álbum, que trouxe um lado mais introspectivo e espiritual, a banda passou por uma grande mudança em sua formação: Cello Dias foi demitido, e Roy Mayorga e Mikey Doling deixaram a banda em protesto, deixando Max sozinho. No entanto, ele logo trouxe de volta Joe Nunez na bateria e recrutou o baixista Bobby Burns, do Primer 55, e o guitarrista Marc Rizzo, do Ill Niño. Além de contar, com a colaboração do ex-baixista do Megadeth, David Ellefson, que contribuiu em algumas faixas. Este álbum é uma continuação da busca de Max Cavalera por novas influências musicais e espirituais, e ele viajou para a Sérvia e outros países do Leste Europeu, cujas culturas o influenciaram bastante. Novamente, Max produziu o disco, com o intuito de mesclar as influências globais que buscava. O álbum tem uma qualidade sonora poderosa e uma produção polida, mas sem perder a crueza característica da banda, e tudo isso inclui um mix de Groove Metal, Thrash Metal, Death Metal, world music e um pouco de Nu Metal, tudo se misturando. Já o repertório é muito bom, contendo muitas músicas interessantes, como Living Sacrifice, Defeat U e Moses, com a participação da banda Eyesburn, mas as que mais se destacam são as groovadas Mars, In the Meantime e a faixa-título, além da explosiva Porrada. No final de tudo, é um ótimo disco, que teve uma boa concepção.

Dark Ages – Soulfly 





















NOTA: 8,5/10


No ano seguinte, a banda lança seu 5º álbum de estúdio, o Dark Ages, que trazia uma pegada bem diferente. Após o Prophecy, Max Cavalera passou por mais uma tragédia pessoal, a morte de seu neto de oito meses e também a morte trágica de seu amigo Dimebag Darrell, além da crescente insatisfação com o cenário político global pós-11 de setembro. O álbum marca uma mudança significativa em relação aos trabalhos anteriores, que apresentavam uma forte fusão de Nu Metal e influências tribais. Esse novo trabalho retorna a uma abordagem mais crua e pesada, conectando-se com o Max dos tempos do Sepultura. A produção foi, mais uma vez, feita por ele mesmo, com ajuda de Terry Date, e traz uma variedade de influências sonoras e contextos políticos, culturais e emocionais, resultando em um som visceral, quase caótico. Com uma sonoridade totalmente bruta e agressiva, trazendo aquele lado de Thrash Metal com Death Metal, guitarras afiadas, vocais intensos e uma bateria poderosa, o álbum oferece um contraste às produções mais polidas dos discos anteriores. O repertório é muito bom, com muitas canções interessantes, como I and I, Molotov, que tem letras com várias línguas diferentes, e Riotstarter, que novamente conta com a presença de Dave Ellefson. No entanto, as canções que mais se destacam são Babylon, Carved Inside, Arise Again, Bleak e Fuel the Hate. No fim, é um trabalho muito legal da banda, apesar de todo o clima sombrio que esteve presente.

Conquer – Soulfly 





















NOTA: 8/10


Três anos se passam, e eles lançam mais um trabalho novo, o Conquer, que desta vez não chega a ser tão obscuro como seu antecessor. Depois do lançamento do Dark Ages, Max Cavalera acabou ficando mais combativo e renovado, ainda mais imerso no universo do Metal moderno. Afinal, eles já tinham se estabelecido no cenário por misturar diferentes estilos musicais, desde influências tribais até world music. Mas esse novo trabalho vem em um momento em que Max havia recuperado o contato com seu irmão Igor Cavalera, culminando na reunião de ambos no projeto Cavalera Conspiracy (que depois eu falo dele). Essa energia e reconexão com suas raízes musicais mais extremas transparecem fortemente em toda a concepção do álbum. A produção foi praticamente a mesma, trazendo uma sonoridade suja e muito agressiva, com um peso extra nos riffs de guitarra profundos e uma bateria poderosa. Marc Rizzo ganha destaque, trazendo solos afiados e complexos, enquanto a bateria de Joe Nunez é rápida e implacável. O repertório é muito bom, com muitas canções explosivas, como as sensacionais Blood Fire War Hate, Enemy Ghost e Doom. Além disso, há outras músicas muito boas, como Unleash, com a participação do Dave Peters do Throwdown, Warmaggeddon, e as atmosféricas For Those About to Rot e Touching the Void. Enfim, esse álbum é muito bom, sendo um dos mais agressivos da banda.

Omen – Soulfly 





















NOTA: 8,6/10


Pouco tempo depois, é lançado o 7º álbum da banda, o Omen, que trazia uma pegada mais orgânica. Após o Conquer, que marcou o retorno do Soulfly às suas influências mais brutais, eles decidiram continuar nessa mesma linha, trazendo um som mais direto, sem muita experimentação. Nesse período, Max estava profundamente envolvido em vários projetos paralelos, como Cavalera Conspiracy, mas o Soulfly continuava sendo o coração de sua expressão musical, demonstrando que ele ainda tinha muito a dizer sobre temas como guerra, política e resistência pessoal. Esse trabalho, além de ser produzido por Max Cavalera, também contou com a presença de Logan Mader. Eles trouxeram, mais uma vez, aquela sonoridade totalmente crua, sem sofisticação, sendo deliberadamente menos polida, com guitarras de afinação baixa, batidas pesadas e uma mistura de Thrash, Groove e Death Metal compondo as influências, com solos afiados de Marc Rizzo e uma bateria enérgica de Joe Nunez. O repertório é muito bom e traz muitas canções curiosas, como as violentas Bloodbath & Beyond, Counter Sabotage e Jeffrey Dahmer, que é totalmente sombria, relembrando o infame serial killer, mas as melhores faixas são Rise of the Fallen, Great Depression, Off with Their Heads e a bela faixa instrumental com o título da banda, que é tradição em todos os álbuns deles, só que, diferente das outras, essa foi a melhor. No fim, é um álbum muito legal, apesar de não ter o merecido reconhecimento.

Enslaved – Soulfly  





















NOTA: 2/10


Dois anos se passam, e o Soulfly retorna com mais um trabalho novo, o Enslaved, que trazia várias mudanças. Após o Omen, que trouxe um tom brutal e sombrio, a banda passa por mais uma mudança em sua formação: Bobby Burns acabou saindo, e em seu lugar entrou Tony Campos (ex-Static-X). Logo depois, Joe Nunez foi demitido, e David Kinkade (ex-Borknagar) assumiu a bateria, ambos trazendo uma nova energia e peso à banda. A temática do álbum abordava vários temas que iam muito além da escravidão física, mas também a escravidão mental, emocional e espiritual. A produção foi feita por Christopher Harris, mais conhecido como Zeuss (que já trabalhou com Hatebreed, Shadows Fall e Rob Zombie), uma escolha no mínimo ambiciosa. O trabalho da produção em si até que é bom, destacando os riffs pesados e as camadas de percussão. A sonoridade é muito alinhada ao Death Metal, mas ficou uma confusão, já que eles misturaram Groove Metal e influências tribais de uma forma totalmente mal executada. Kinkade pareceu descoordenado, enquanto Tony Campos tentou salvar de todas as maneiras possíveis. O repertório é muito ruim, trazendo músicas péssimas como Resistance, Legions e Revengeance (que conta com a família Cavalera inteira, mas não deu certo). O mesmo vale para Redemption of Man by God, com Dez Fafara do Coal Chamber. As únicas canções boas são Gladiator e Plata o Plomo. No final, é um disco bem ruim, que precisava ter sido melhor trabalhado.

Savages – Soulfly 





















NOTA: 8,7/10


Indo agora para Savages, que trouxe poucas mudanças e mostrou o Soulfly correndo atrás do prejuízo. Após o inexpressivo Enslaved, que trouxe uma sonoridade o mais próxima possível do Death Metal, Max Cavalera decidiu adotar uma abordagem mais groovada e acessível. Além disso, David Kinkade decidiu se aposentar, e em seu lugar entrou Zyon Cavalera, filho de Max, tornando-se o baterista oficial da banda, o que fez o Soulfly ganhar uma dimensão ainda mais familiar. O álbum explora a natureza destrutiva da humanidade e a selvageria que existe tanto em conflitos globais quanto nas relações pessoais. A produção ficou a cargo do Terry Date, que trouxe uma pegada mais refinada e polida ao som da banda, sem sacrificar a agressividade. A sonoridade é poderosa, com muito Groove Metal e riffs encorpados. Zyon Cavalera, apesar de jovem, se destaca na bateria, trazendo energia e uma boa química com o restante da banda. Max Cavalera também se mantém como o pilar da banda, com vocais guturais poderosos e letras que combinam crítica social e introspecção emocional. Novamente, o repertório ficou muito legal, trazendo faixas interessantes como as iniciais Bloodshed, Cannibal Holocaust, Fallen e a curiosa El Comegente, que fala sobre Dorángel Vargas, um serial killer venezuelano. Mas as melhores canções são Ayatollah of Rock 'N' Rolla, Master of Savagery e a brutal This Is Violence. No final de tudo, é um baita disco, e desta vez foi bem planejado.
 

                                                          Por hoje é só, então flw!!! 

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