domingo, 6 de outubro de 2024

Analisando Discografias - Sepultura (RA: LII)

                 

Chaos A.D. – Sepultura





















NOTA: 10/10


Mais um tempo se passa, e o Sepultura lança o seu 5º álbum, o atemporal Chaos A.D., que é diferente dos seus antecessores. Após o sucesso do Arise, que consolidou o Sepultura como uma força global no Thrash Metal, a banda começou a explorar novos territórios musicais e temáticos. O contexto sociopolítico mundial influenciou fortemente os temas. O álbum reflete essa atmosfera, com letras altamente politizadas, que criticam governos, militarismo e injustiças sociais. Esse disco foi produzido por Andy Wallace, que havia trabalhado na mixagem do último álbum da banda, e ele trouxe uma clareza e um peso adicionais ao som do Sepultura. O mais curioso é que eles foram gravar esse álbum no Rockfield Studios, no País de Gales, em um ambiente totalmente novo. A sonoridade, além de crua, é bem mais acessível, dando ênfase às guitarras do Andreas Kisser e ao groove poderoso da bateria do Igor Cavalera. Ir para um lado mais puxado para o Groove Metal foi um verdadeiro acerto da banda. O repertório é magnífico e traz um monte de músicas pesadas desde o início com Refuse/Resist, Territory e Slave New World, além de outras canções excelentes como Propaganda, We Who Are Not as Others e Nomad. Fora o maravilhoso instrumental acústico Kaiowas, que foi gravado em um castelo em Chepstow, e Manifest, cuja letra aborda o Massacre do Carandiru. É muita coisa doida aqui. Mas, enfim, esse álbum é sensacional e um dos melhores trabalhos da banda.

Roots – Sepultura 





















NOTA: 9,5/10


Três anos depois, a banda retorna com o estrondoso Roots, mais um clássico que era uma continuação perfeita. Após o maravilhoso Chaos A.D., que trouxe influências mais groovadas à banda, esse novo trabalho levou essa fusão a um novo nível, incorporando fortemente elementos de música indígena brasileira, percussões tribais e world music, criando um estilo inovador. O álbum foi profundamente inspirado pela visita da banda à tribo Xavante, onde tiveram a oportunidade de vivenciar a cultura indígena de perto. A produção ficou por conta de Ross Robinson, o padrinho de um subgênero que estava em ascensão com Korn e Deftones. Ele trouxe uma abordagem crua e visceral, encorajando a banda a explorar novos territórios sonoros, sem sobreproduzir ou refinar demais o som, e tudo aqui é bastante experimental. Com isso, além de ter uma sonoridade de Groove Metal, eles adicionaram o Nu Metal e pegaram muita influência do que Chico Science & Nação Zumbi estavam fazendo com o movimento Manguebeat. O repertório, novamente, é excelente, com muitas canções sensacionais, desde Roots Bloody Roots, Attitude, Cut-Throat (praticamente uma diss para a Epic Records) e Straighthate, além de outras com participações especiais, como Carlinhos Brown em Ratamahatta e Lookaway, que conta com Jonathan Davis, Mike Patton e DJ Lethal. Enfim, apesar de logo depois Max Cavalera ter saído da banda, isso não apaga o peso que esse álbum tem e o quão maravilhoso ele é.

Against – Sepultura 





















NOTA: 8,4/10


Dois anos após muita incerteza, o Sepultura retorna totalmente renovado, lançando seu 7º disco, o Against. Depois de todo o sucesso do Roots, a banda teve uma grande baixa com a saída do Max Cavalera, um dos fundadores e principal vocalista, que deixou o grupo em 1997, após uma série de conflitos. Isso foi devastador, deixando a banda à deriva em um momento em que estavam no auge da popularidade global. Para substituir Max, o Sepultura recrutou Derrick Green, um vocalista norte-americano com uma voz mais grave e profunda em comparação com a de Max. A decisão de continuar sem Max foi controversa, tanto para os fãs quanto para a própria banda. Esse álbum foi produzido por Howard Benson, que havia trabalhado nos últimos álbuns do Motörhead. Ele trouxe uma produção clara e polida, contrastando com a crueza do disco anterior, mas ainda capturou a intensidade e agressividade da nova formação. A sonoridade incorporou ritmos brasileiros e percussões tribais, mas com uma abordagem menos focada em experimentações extremas, mantendo elementos do Groove e do Nu Metal. O repertório, de certo modo, é muito bom e conta com muitas canções legais como Rumors e Hatred Aside, que tem a participação do Jason Newsted. No entanto, as que mais se destacam são Choke, Boycott, Reza com a participação do João Gordo e, claro, a faixa-título. No final, é um disco muito bom, apesar de que, infelizmente, ele é bastante desprezado pelos fãs por tudo que aconteceu.

Nation – Sepultura





















NOTA: 3,8/10


Indo para 2001, o Sepultura lança seu 8º álbum de estúdio, o decepcionante Nation, que estava cheio de participações. Após o Against, que foi recebido com críticas mistas devido à dificuldade da transição pós-Max, esse novo álbum teria a missão de solidificar a nova formação e reforçar o estilo da banda. Surgindo essencialmente como uma resposta ao tumultuado cenário político e social da virada do milênio, o álbum reflete a frustração da banda com a desigualdade global, a violência e a opressão. O conceito de Nation gira em torno da criação de uma utopia fictícia, onde a música, o respeito e a união prevalecem. A produção ficou a cargo de Steve Evetts, que trouxe uma sonoridade bem lapidada, com camadas que combinam elementos de Thrash Metal, Nu Metal e influências de música tradicional brasileira. E, apesar de ter deixado o som bem pesado, ele fez uma confusão ao adicionar elementos experimentais e percussivos, que acabaram soando esquisitos e muito distantes do que a banda fez em Roots. O repertório ele é muito ruim, quando chega a primeira música, Sepulnation, já dá para perceber que algo está errado. Embora haja algumas músicas boas, como Revolt, Border Wars, Uma Cura e Politricks (com a participação de Jello Biafra, do Dead Kennedys), há um monte de canções que, além de chatas, são horríveis, como Vox Populi, Human Cause e Reject. Enfim, este álbum é completamente péssimo e foi totalmente mal elaborado.

Roorback – Sepultura 





















NOTA: 8,8/10


Pouco tempo depois, eles lançam Roorback, que veio com a promessa de consertar os erros do seu último trabalho. Após o pavoroso Nation, a banda precisava fazer uma tentativa clara de reafirmar sua relevância com Derrick Green nos vocais, e logicamente eles nem estavam ligando para as "viúvas" do Max Cavalera. Esse título é uma palavra derivada de uma antiga gíria americana usada para designar boatos e difamações políticas, algo que ecoa nas letras politicamente carregadas do álbum. Até porque esse trabalho foi lançado em um contexto global pós-atentados de 11 de setembro e durante a Guerra do Iraque, o que influenciou profundamente o tom geral do álbum. A produção foi novamente feita por Steve Evetts, em quem eles confiaram que, dessa vez, as coisas dariam certo. Além disso, eles lançaram esse álbum pelo selo da SPV Records. A produção é bastante crua e direta; Evetts manteve o foco na intensidade das guitarras e no groove pesado da seção rítmica, deixando de lado os elementos mais experimentais e tribais presentes em trabalhos anteriores, além de pegar a tendência do Nu Metal. O repertório é muito bom e tem várias canções interessantes, como As It Is, Leech e Activist, mas as que mais se destacam são Come Back Alive, Urge, Corrupted e Bottomed Out, além da faixa bônus, que é um ótimo cover de Bullet the Blue Sky do U2. No fim, é um disco muito bom, sendo um dos mais pesados dessa nova era da banda.

Dante XXI – Sepultura 





















NOTA: 8/10


Mais um tempo se passa, e o Sepultura lança seu 10º álbum, o Dante XXI, que era bem diferente de todos os outros trabalhos da banda mineira. Após Roorback, a banda queria, desta vez, fazer um álbum que não apenas reafirmasse sua relevância no cenário do Metal, mas também mostrasse evolução criativa. Esse trabalho é baseado na obra-prima da literatura mundial A Divina Comédia, de Dante Alighieri, e está estruturado nas três seções: Inferno, Purgatório e Paraíso. Esta foi a primeira vez que o Sepultura dedicou um álbum inteiro a um conceito literário, explorando temas como a corrupção da alma, o sofrimento, a redenção e a busca pela salvação. A produção foi feita por André Moraes e Stanley Soares, junto com a banda, e eles buscaram um som que refletisse um equilíbrio entre a ferocidade bruta do Sepultura e uma abordagem mais refinada, com arranjos orquestrais e instrumentação clássica, como violoncelos e violinos, utilizados para intensificar a atmosfera conceitual inspirada pelo poema. O repertório é muito interessante, com várias músicas que são cheias de sinfonia com um som groovado, como Dark Wood of Error, Ostia e Crown and Miter. Porém, quando surgem as canções mais pesadas, tudo fica perfeito, como em Convicted in Life, False e Repeating the Horror. As faixas instrumentais também são todas muito boas. Enfim, este álbum é muito bom, sendo um trabalho bastante interessante.

A-Lex – Sepultura 





















NOTA: 3/10


Três anos se passam, e o Sepultura lança mais um disco conceitual, intitulado A-Lex. Depois do sucesso do Dante XXI, o Sepultura continuou com a fórmula de álbuns conceituais, explorando as tensões entre liberdade e coerção no comportamento humano. No entanto, em 2007, Max Cavalera afirmou que ele e Igor, tendo se reconciliado, estavam considerando uma reunião da formação clássica para tocar no Ozzfest 2007. No entanto, isso foi negado por Kisser, e a reunião não ocorreu. Em vez disso, Igor Cavalera deixou a banda e foi substituído pelo baterista Jean Dolabella, deixando a banda sem nenhum de seus membros originais. Esse disco é uma adaptação conceitual do clássico literário Laranja Mecânica (A Clockwork Orange), de Anthony Burgess, que também foi imortalizado no famoso filme de Stanley Kubrick. A produção foi feita mais uma vez pela banda, com a colaboração de Stanley Soares. Em termos sonoros, eles quiseram deixar tudo pesado, mas com uma clareza na mixagem, só que eles colocaram tantos interlúdios e riffs totalmente técnicos que tudo ficou muito estranho. O repertório é muito ruim, cheio de canções chatíssimas como Filthy Rot, Conform, Enough Said, We’ve Lost You e nem mesmo a reinterpretação da Nona Sinfonia de Beethoven, intitulada Ludwig Van, ficou boa. Poucas canções se salvam, como Moloko Mesto, Metamorphosis e Sadistic Values. No fim, é um trabalho sem graça e com uma experimentação que não funcionou.

Kairos – Sepultura 





















NOTA: 9/10


Em 2011, o Sepultura volta a lançar mais um trabalho novo, intitulado Kairos, com muitas mudanças. Após lançarem o péssimo A-Lex, descontentes com a SPV Records, eles encerraram o vínculo com a gravadora e assinaram com a Nuclear Blast. Dessa vez, a banda optou por um álbum que equilibrasse sua história musical com uma renovação de energia. O tema central do álbum é o próprio conceito de tempo, pois o título Kairos vem da palavra grega que significa "tempo certo" ou "momento oportuno", em contraste com Chronos, que representa o tempo cronológico. A produção ficou a cargo de Roy Z, conhecido por seu trabalho com artistas como Bruce Dickinson e Judas Priest. Ele trouxe uma sonoridade polida e direta, focada em capturar a agressividade natural da banda, sem muitos elementos experimentais ou orquestrais, como em seus dois últimos álbuns. Conseguindo equilibrar a crueza das performances com um som moderno, as composições foram mantidas relativamente simples, focando em riffs pesados, uma bateria pulsante e vocais potentes, com uma clara intenção de reconectar a banda às suas raízes no Thrash Metal, incorporando influências do metal moderno. O repertório é ótimo e contém muitas canções incríveis, como a faixa-título, Mask, Born Strong, No One Will Stand e o maravilhoso cover de Just One Fix do Ministry, além de outras canções legais como Spectrum e Seethe. No final de tudo, é um baita disco que fez a banda voltar às suas raízes.

The Mediator Between Head And Hands Must Be the Heart – Sepultura  





















NOTA: 8,7/10


Dois anos se passam e a banda mineira lança mais um novo trabalho, o The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart (título bem grande em). Este álbum marca algumas mudanças importantes: o baterista Jean Dolabella acabou deixando a banda e, em seu lugar, entrou Eloy Casagrande, que, algum tempo antes, tocava no Glória. Além disso, esse álbum também é visto como um retorno ao peso e à brutalidade característicos da banda, após uma fase mais experimental, com influências de música tribal e industrial. Esse título gigantesco é uma referência ao filme clássico de ficção científica Metropolis (1927), que carrega temas de desigualdade social e mecanização da sociedade, apesar de não ser uma adaptação literal do filme. A produção foi feita por Ross Robinson, retomando aquela parceria bem-sucedida com a banda no Roots. Ele trouxe aquela sonoridade mais visceral, refletida numa brutalidade direta, com elementos de Thrash Metal e Death Metal. Além disso, ele explorou o potencial máximo deles, especialmente do baterista Eloy Casagrande, cujas linhas de bateria são um dos grandes destaques do disco. O repertório ficou muito bom, com canções esmagadoras como Tsunami e Obsessed, mas tem outras que são perfeitas, como Trauma of War, Impending Doom, Manipulation of Tragedy e The Age of the Atheist, além do ótimo cover de Da Lama ao Caos, de Chico Science & Nação Zumbi. Enfim, esse álbum é muito bom e bastante pesado.

Machine Messiah – Sepultura 





















NOTA: 9/10


O tempo passa, e o Sepultura retorna com mais um disco novo, o magnífico Machine Messiah, que traz um lado mais raiz da banda. Após o The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart, a banda passava por um momento de amadurecimento musical, explorando novos horizontes, mas sem abandonar sua sonoridade característica. Esse novo trabalho se destaca por sua abordagem conceitual sobre a dependência tecnológica e o impacto das máquinas na sociedade moderna. A banda explora temáticas filosóficas e existenciais, refletindo sobre a alienação humana em meio ao avanço tecnológico. O disco foi produzido pelo excelente produtor Jens Bogren, que trouxe uma sonoridade polida e bem estruturada. Além disso, destaca-se a coesão entre os membros da banda, permitindo que cada instrumento tivesse seu devido espaço, contribuindo para uma sonoridade limpa, mesmo nos momentos mais intensos. Com os ótimos riffs de Andreas Kisser e Eloy Casagrande totalmente preciso na bateria, assim como a pegada brutal de Paulo Jr. no baixo, esse disco também conta com elementos orquestrais e arranjos experimentais. O repertório é simplesmente maravilhoso, com canções totalmente arrasadoras, como a trinca I Am the Enemy, Phantom Self e Alethea, além de Silent Violence e Cyber God. Outras faixas muito boas são Resistant Parasites e, claro, a faixa-título. No fim, é um disco excelente e um dos melhores trabalhos da banda mineira nesta última década.
 

Então é isso, um abraço e flw!!!

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