sexta-feira, 11 de abril de 2025

Analisando Discografias - Miles Davis: Parte 5

                 

E.S.P. – Miles Davis





















NOTA: 8,5/10


Mais dois anos se passaram e Miles Davis lançava mais um trabalho intitulado E.S.P.. Após o Quiet Nights, depois de um período conturbado na virada dos anos 60, incluindo problemas de saúde e afastamentos temporários, Miles retorna com uma nova visão criativa e uma banda que desafiava os limites do Jazz tradicional. Formando assim seu Second Great Quintet com Wayne Shorter (sax tenor), Herbie Hancock (piano), Ron Carter (baixo) e Tony Williams (bateria). Todos eram músicos jovens, criativos e ousados, que davam suporte (e desafio) à liderança do trompetista. Com produção conduzida por Irving Townsend, a estética do álbum acompanha o clima de um Jazz que se desprende do passado e busca o novo, sendo tudo muito movimentado, mostrando experimentação e liberdade. O repertório é muito bom, com canções energéticas e também com uma camada intimista. Enfim, é um trabalho muito bom e diferenciado. 

Melhores Faixas: Little One, Mood 
Vale a Pena Ouvir: Eighty-One, Iris

Miles Smiles – Miles Davis





















NOTA: 7,2/10


Novamente se passam dois anos, e Miles Davis lança Miles Smiles, que trouxe algumas mudanças. Após o E.S.P., seu quinteto já era conhecido por suas performances ao vivo eletrizantes, que transformavam standards em longas viagens sonoras usando time no changes, ou seja, tocando fora de uma progressão harmônica fixa, mesmo dentro de composições relativamente simples. A produção foi realizada por Teo Macero, sendo gravado em apenas dois dias, com uma gravação que capturou a espontaneidade crua do quinteto, com poucas edições e overdubs. É um álbum mais cru e direto que seu antecessor, e ainda mais ousado em termos de forma, ritmo e harmonia. Só que muita coisa é bastante desequilibrada e, às vezes, percebe-se que falta um pouco mais de camadas rítmicas. O repertório é bem legal, com canções atmosféricas, mas com apenas uma abaixo da média. No geral, é um disco bom, mas que é muito superestimado pelos adoradores do gênero. 

Melhores Faixas: Footprints, Ginger Bread Boy, Orbits 
Piores Faixas: Circle

Sorcerer – Miles Davis





















NOTA: 8,7/10


Pouco tempo depois, foi lançado mais um disco intitulado Sorcerer, que foi para um lado mais envolvente. Após o Miles Smiles, Miles Davis e seu Second Great Quintet entraram em uma fase ainda mais sofisticada. O grupo já havia consolidado sua linguagem: o uso de formas abertas, a desconstrução dos standards, o improviso como diálogo coletivo. Então Miles decidiu fazer algo que soasse mais completo. Com produção feita por Teo Macero, o álbum trouxe uma sonoridade orgânica, com espaço para cada instrumento respirar. Miles, como de costume, evitou ensaios extensos: a música foi desenvolvida ao vivo no estúdio, capturando a espontaneidade e a química do grupo. A estética da produção reflete o caráter quase esotérico do disco: tudo soa meticulosamente livre. O repertório é muito bom, e as canções são mais leves, com traços mais climáticos. Enfim, é um ótimo disco, e com bastante ousadia. 

Melhores Faixas: Pee Wee, The Sorcerer 
Vale a Pena Ouvir: Limbo, Masqualero

Nefertiti – Miles Davis





















NOTA: 9/10


Em 1968, Miles Davis lançava mais um trabalho novo, o Nefertiti, que trouxe poucas mudanças. Após o Sorcerer, o trompetista estava decidido a sair dessa fórmula acústica, fazendo um canto do cisne da linguagem acústica do grupo e, ao mesmo tempo, o mais radical e introspectivo. Neste álbum, a coletividade atinge o ápice: as composições são mais concisas, mas a interpretação é altamente abstrata. A produção foi feita por Teo Macero junto com Howard Roberts, que colocaram um som limpo e bem balanceado, captando a sutileza da dinâmica do grupo. A produção se destaca por não interferir: Miles queria capturar o som do quinteto em estado puro, sem overdubs ou manipulação. Um detalhe interessante: esta é a primeira vez que todas as composições do álbum são dos integrantes da banda, refletindo em um repertório incrível, com canções diversificadas e belíssimas. Em suma, é um baita trabalho e totalmente abstrato. 

Melhores Faixas: Madness, Riot 
Vale a Pena Ouvir: Nefertiti

Miles In The Sky – Miles Davis





















NOTA: 9,2/10


Logo no meio do ano foi lançado Miles in the Sky, que seguiu uma abordagem totalmente diferente. Após o Nefertiti, Miles Davis sentia que o Jazz tradicional, mesmo em seu formato mais avançado, começava a parecer estagnado. Ele queria mudar o som para dialogar com o presente, e esse presente, em 1968, incluía James Brown, Jimi Hendrix, Sly Stone, os Beatles e o Funk (americano, logicamente), que nascia no meio da psicodelia. A produção, feita como sempre por aquele mesmo produtor, mostra um Miles cada vez mais obcecado por textura e repetição. O tempo se estica, os temas se reduzem ao essencial e a performance ganha contornos quase hipnóticos, mostrando estruturas baseadas em grooves e as influências que acabaram sendo a base do que seria chamado de Jazz Rock e Jazz Fusion. O repertório contém apenas 4 faixas, muito boas e totalmente atmosféricas. Enfim, esse disco é maravilhoso e puramente experimental. 

Melhores Faixas: Black Comedy, Stuff 
Vale a Pena Ouvir: Country Son, Paraphernalia

Filles De Kilimanjaro – Miles Davis





















NOTA: 8,8/10


Aí entra o ano de 1969, e Miles lança outro disco totalmente virtuoso, o Filles de Kilimanjaro. Após o Miles in the Sky, o trompetista estava cada vez mais interessado em expandir a linguagem do Jazz para além de seus limites tradicionais, buscando inspirações no Rock, no Funk e nas novas possibilidades tímbricas que surgiam com instrumentos eletrificados. Na época, Miles era profundamente influenciado por artistas como Jimi Hendrix e até mesmo os Beatles. A produção, feita pelo mesmo produtor de sempre, trouxe uma sonoridade mais aberta e atmosférica, dando espaço para os timbres elétricos respirarem. O repertório é dividido em duas partes, com o lado A contando com seu derradeiro quinteto, e o lado B introduzindo Chick Corea e Dave Holland, sinalizando uma nova fase, sendo tudo consistente. No fim, é um ótimo disco, apesar de não ser o ápice. 

Melhores Faixas: Filles De Kilimanjaro (Girls Of Kilimanjaro), Tout De Suite 
Vale a Pena Ouvir: Mademoiselle Mabry (Miss Mabry), Frelon Brun (Brown Hornet), Petits Machins (Little Stuff)

In A Silent Way – Miles Davis





















NOTA: 10/10


Logo no meio daquele ano foi lançado o sensacional In a Silent Way, que foi ainda mais virtuoso. Após o Filles de Kilimanjaro, Miles Davis via que o Jazz parecia ter se distanciado do corpo, da rua, da negritude contemporânea. Miles então decide criar algo completamente novo: um som que misture o ritual do Jazz, a energia do Rock e a textura do ambiente elétrico. A produção, feita como sempre por Teo Macero, foi construída com um alto nível de experimentação. A sessão original era composta por longas improvisações. Teo depois editou, recortou, duplicou e reorganizou os trechos como um verdadeiro colagista sonoro. Ele transformou jam sessions livres em obras com forma, narrativa e arquitetura, o que faz desse um dos primeiros discos de Jazz pensados com lógica pós-produtiva, quase cinematográfica. O repertório contém apenas 2 faixas que são sensacionais, e juntas elas dão quase 20 minutos. No final de tudo, é um disco maravilhoso e um grande clássico. 

Melhor Faixa: Shhh / Peaceful 
Vale a Pena Ouvir: In A Silent Way

                                                         Então é isso e flw!!!     

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