sábado, 12 de abril de 2025

Analisando Discografias - Miles Davis: Parte 6

                 

Bitches Brew – Miles Davis





















NOTA: 9/10


Entrando na década de 70, Miles Davis lança Bitches Brew, onde segue por um lado mais tematizado. Após o excepcional In a Silent Way, o trompetista percebeu que, ao seguir aquele caminho do Jazz Fusion, unindo a improvisação jazzística à energia elétrica do Rock e às camadas do Funk, estava abrindo novas possibilidades musicais. Neste projeto, ele rompeu com estruturas convencionais, consolidando uma revolução estética. A produção, como sempre, ficou a cargo do Teo Macero, que também atuou como um "compositor de fita", fazendo colagens e edições com os takes de estúdio, criando novas formas musicais a partir da improvisação livre. O uso de instrumentos elétricos, sobreposições rítmicas, repetições hipnóticas e edições pós-gravação deram ao álbum uma sonoridade densa, caótica e revolucionária. O repertório é muito bom, com canções mais atmosféricas e envolventes. Enfim, é um belo disco e totalmente essencial. 

Melhores Faixas: Miles Runs The Voodoo Down, Bitches Brew 
Vale a Pena Ouvir: Spanish Key

Jack Johnson (Original Soundtrack Recording) – Miles Davis




















NOTA: 8,8/10


Se passou outro ano e Miles volta lançando Jack Johnson, que serviu como trilha sonora de um documentário. Após o Bitches Brew, percebendo que já havia rompido com os padrões do Jazz tradicional e mergulhado de cabeça na fusão com o Rock e o Funk, ele decide continuar explorando esse caminho. Esse disco foi concebido como trilha sonora para um documentário sobre Jack Johnson, o primeiro boxeador negro campeão mundial dos pesos pesados (em 1908), que enfrentou o racismo institucional dos EUA com ousadia, arrogância e talento bruto. A produção foi realizada por Teo Macero, a partir de longas jam sessions que foram editadas e rearranjadas em fita. Ele decidiu fazer algo mais urbano, sujo, elétrico, físico, imprimindo uma grande crueza nos acabamentos rítmicos. Apesar do repertório conter apenas 2 faixas, ambas ultrapassam os 25 minutos e são bem estruturadas e cadenciadas. No fim, é um trabalho muito interessante, com muito perfeccionismo. 

Melhor Faixa: Yesternow 
Vale a Pena Ouvir: Right Off

On The Corner – Miles Davis





















NOTA: 9,4/10


Em 1972, foi lançado On The Corner, um trabalho que ia para um lado um pouco mais midiático. Após o Jack Johnson, Miles Davis estava frustrado com a crítica especializada (a maioria sendo branca) que rejeitava seus discos mais experimentais. Ao mesmo tempo, ele sentia que os jovens negros não estavam ouvindo Jazz. Então, ele quis fazer um álbum direcionado ao gueto, como disse em entrevistas. Um disco para os pretos da rua, e não para os fãs de Jazz da elite. A produção foi feita pelo mesmo produtor de sempre, que usou o mesmo procedimento de montagem e colagem em fitas. Além disso, Miles chamou um elenco pesadíssimo e só dava instruções vagas antes das gravações (“toquem um groove de James Brown, mas com textura indiana”), deixando espaço para improvisação e caos. Com isso, o repertório, que contém 4 faixas, é incrível, com canções que, mesmo sendo longuíssimas, são envolventes. Enfim, é um trabalho fantástico e um dos melhores do Miles. 


Melhores Faixas: Black Satin, Helen Butte / Mr. Freedom X 
Vale a Pena Ouvir: On The Corner / New York Girl / Thinkin' One Thing And Doin' Another / Vote For Miles, One And One

Get Up With It – Miles Davis





















NOTA: 9,8/10


Se passaram dois anos, e Miles Davis foi lá e lançou um álbum duplo extremamente essencial, intitulado Get Up With It. Após o On The Corner, Miles estava empurrando os limites do Jazz para territórios inexplorados. Entre 1972 e 1974, ele mergulha num estado físico e emocional caótico: problemas de saúde (úlceras, dores crônicas), dependência química e crises pessoais. Mas também foi um período musicalmente feroz, com muitos ensaios e sessões com formações mutantes. A produção ficou a cargo do mesmo produtor de sempre, aproveitando sessões avulsas gravadas em diferentes anos, algumas anteriores a On The Corner e outras bem posteriores. So que aqui há menos colagens em fita e mais "takes inteiros", que mantêm a organicidade dos músicos tocando ao vivo no estúdio. O repertório é sensacional, com faixas longuíssimas, mas todas bem diversificadas. No fim, é um baita álbum e um dos mais ousados de sua carreira. 

Melhores Faixas: Billy Preston, Rated X 
Vale a Pena Ouvir: Honky Tonk, He Loved Him Madly

Agharta – Miles Davis





















NOTA: 8/10


No ano seguinte, Miles Davis lança um trabalho ao vivo intitulado Agharta, que surge em um grande contexto. Após o Get Up With It, o trompetista já estava no limite físico e mental. Seu corpo estava em colapso: dores crônicas, dependência de cocaína, depressão severa. Sua música estava cada vez mais intensa, mais barulhenta, mais densa. Ele já não era o “líder do jazz moderno”, mas sim um xamã elétrico à frente de uma seita sonora, guiando músicos jovens por caminhos violentamente improvisados. Então, ele decidiu fazer uma turnê no Japão, e foi lá que gravou dois discos ao vivo em um mesmo dia, em Osaka, sendo este o primeiro. A produção ficou por conta do mesmo produtor de sempre, e a gravação aconteceu à tarde, no Osaka Festival Hall. Ao contrário dos álbuns anteriores, que tinham muita pós-produção, aqui tudo é raw, direto e cru, com tudo sendo bem executado. O repertório traz novamente 4 faixas atmosféricas e com tom grave. Enfim, é um disco legal e mais atrativo. 

Melhores Faixas: Prelude (Part 2) / Maiysha 
Vale a Pena Ouvir: Theme From Jack Johnson, Interlude, Prelude (Part 1)

Pangaea – Miles Davis





















NOTA: 8/10


Só no ano seguinte foi lançado o disco irmão, intitulado Pangaea, que trazia um lado mais improvisado. Após o Agharta, eles não tiveram nem muito tempo para descansar, já que, em questão de algumas horinhas, fariam a gravação desse outro álbum à noite. Esses shows representaram o ápice da fase elétrica, onde Jazz, Funk, Rock e rituais tribais se fundem em algo indefinível. A produção foi praticamente a mesma, mas com um grande diferencial: embora seja a mesma banda do Agharta, aqui eles estão mais cansados, o que dá ao disco um clima alucinado, mais denso, mais psicodélico, como se a música estivesse derretendo. E aqui há bastante improvisação, quase como um "do it yourself" do Punk Rock. O repertório é dividido em duas ótimas suítes, com nomes mitológicos: "Zimbabwe" e "Gondwana". Ambas duram cerca de 40 minutos, mas foram divididas para caber em cada lado do LP. Em suma, é um ótimo trabalho e ainda mais imersivo. 

Melhores Faixas: Gondwana Part I 
Vale a Pena Ouvir: Zimbabwe Part II, Zimbabwe Part I, Gondwana Part II

The Man With The Horn – Miles Davis





















NOTA: 7/10


Se passaram seis anos, e após ter praticamente sumido da face da Terra, Miles Davis lança The Man With The Horn. Após os álbuns ao vivo Agharta e Pangaea, Miles Davis entra em retiro total. Abandona os palcos, para de gravar, mergulha em dores físicas, vícios (cocaína, álcool), depressão profunda e isolamento. Muitos achavam que ele nunca mais voltaria. Durante esse hiato, o Jazz muda, o mundo muda, e Miles observa tudo de longe. Ele volta lentamente ao convívio musical no final da década de 70, tocando de forma privada com músicos jovens. A produção foi feita novamente por Teo Macero. Este não é uma continuação direta da fase elétrica, nem um retorno ao Jazz clássico. Aqui, ele quis flertar com Funk, Pop e até Smooth Jazz, ainda buscando algo autêntico, mas o resultado acaba ficando muito confuso. O repertório é até interessante, com faixas livres e intensas, mas também traz algumas fraquinhas. Enfim, é um disco bom, mas com muita irregularidade. 

Melhores Faixas: Back Seat Betty, The Man With The Horn (essa música é cantada por Randy Hall) 
Piores Faixas: Shout, Ursula


                                              Então é isso, um abraço e flw!!!         

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