quarta-feira, 28 de maio de 2025

Analisando Discografias - Bunny Wailer: Parte 2

                   

Dubd’sco Vol. 1 – Bunny Wailer





















NOTA: 8/10


Indo para 1979, Bunny Wailer lançava mais um trabalho novo, o Dubd’sco Vol. 1. Após o Struggle, e vendo que o Dub, um estilo instrumental e experimental do Reggae, já havia se consolidado como um dos pilares da música jamaicana, produtores como King Tubby, Lee "Scratch" Perry, Scientist e, claro, Augustus Pablo já haviam revolucionado o estúdio como instrumento, e Bunny Wailer não ficaria de fora dessa tendência. A produção foi feita novamente pelo próprio cantor, que utilizou os efeitos clássicos do Dub, como reverberação, delay, drop-outs de voz e manipulação criativa dos canais de som. Os instrumentais originais foram reaproveitados de faixas dos trabalhos anteriores, mas transformados em novas paisagens sonoras. O repertório, em si, ficou muito bom, com canções bem mais atmosféricas e uma vocalização coesa. Enfim, é um ótimo disco, que mostrou seu próprio estilo. 

Melhores Faixas: Rasta Man (Dubd'sco), Roots Raddics (Dubd'sco) 
Vale a Pena Ouvir: Armagedon (Dubd'sco), Fig Tree (Dubd'sco)

In I Father's House – Bunny Wailer





















NOTA: 7,9/10

E ainda naquele mesmo ano, foi lançado mais um de seus trabalhos tradicionais, o In I Father's House. Após o Dubd’sco Vol. 1, Bunny Wailer decidiu fazer um álbum menos "comercial", com enfoque fortemente espiritual e doutrinário. Trata-se de um álbum com ares quase litúrgicos, destinado a ser ouvido não só com os ouvidos, mas com a alma e a consciência desperta, com toda aquela consciência rastafari. Produção feita, como sempre, por ele mesmo, trouxe uma sonoridade totalmente limpa, austera e firme. Não há exageros ou experimentações dub, mas sim um Roots Reggae clássico, com linhas de baixo profundas, guitarras rítmicas precisas, percussões nyabinghi discretas e vocais carregados de reverência. O repertório é bem curto, tendo 6 faixas muito boas, e as canções são bem meditativas e leves. No fim, é um trabalho interessante, apesar de não trazer muitas novidades. 

Melhores Faixas: Roots Raddics, Love Fire 
Vale a Pena Ouvir: Rock In Time

Sings The Wailers – Bunny Wailer





















NOTA: 8,8/10


Entrando na década de 80, Bunny Wailer lançava outro ótimo disco, o Sings The Wailers. Após In I Father's House, Bunny decidiu revisitar o legado de seu antigo trio, fazendo uma reinterpretação pessoal de canções clássicas dos Wailers, compostas e gravadas originalmente nos anos 60. Na época, essas faixas tinham produção simples e orçamentos baixos, mas carregavam grande força criativa e espiritual. A produção foi aquela de sempre, com uma instrumentação refinada, harmonias vocais bem trabalhadas e um uso cuidadoso de efeitos e mixagem. A banda de apoio incluía músicos de renome, como Sly Dunbar (bateria), Robbie Shakespeare (baixo) e Earl "Chinna" Smith (guitarra), compondo uma formação de elite do Reggae. A nova roupagem das músicas não dilui sua essência, apenas a realça com maior profundidade e textura. O repertório é muito bom, e as canções ficaram todas bem reinterpretadas. Enfim, é um belo trabalho, muito bem renovado. 

Melhores Faixas: Mellow Mood, Hypocrite, I Stand Predominate, Rule This Land 
Vale a Pena Ouvir: Dreamland, Burial

Dubdsco Vol. 2 – Bunny Wailer





















NOTA: 8,2/10


Outro ano se passou, e foi lançado o volume 2 do Dubd’sco, que foi para um lado um pouquinho mais instrumental. Após o Sings The Wailers, ele decidiu lançar mais um projeto do Dub que, por sua vez, flertava com o Dancehall, mostrando um Bunny mais acessível e rítmico. Na verdade, esse álbum é mais um experimento de estúdio do que uma extensão meditativa do trabalho vocal que o precede. A produção, conduzida como sempre por ele mesmo, mostrou a utilização de equipamentos analógicos, reverbs de mola, delays de fita e mesas de mixagem que viraram instrumentos em si. O álbum é 100% instrumental, com vocais do Bunny surgindo apenas em forma de ecos, fragmentos ou efeitos fantasmas. A instrumentação é sólida e dançante, sustentada por riddims do álbum seguinte, que eram mais próximos do estilo rub-a-dub. O repertório é bem legal, e as canções são mais atmosféricas e delicadas. Enfim, é um ótimo trabalho, melhor que seu antecessor. 

Melhores Faixas: Burial, Walk The Proud Land 
Vale a Pena Ouvir: Hypocrite, Keep On Moving

Rock 'N' Groove – Bunny Wailer





















NOTA: 8,6/10


Logo depois, foi lançado mais um disco do Bunny Wailer, intitulado Rock 'N' Groove. Após o Dubd’sco Vol. 2, vendo que o Reggae entrava em uma nova era dominada pelo rub-a-dub e Dancehall digital, Bunny surpreende com um trabalho que marca sua transição para uma sonoridade mais contemporânea, rítmica e dançante. Sem abandonar suas mensagens espirituais e sociais, ele incorpora elementos do novo som que ganhava força nas ruas e festas da Jamaica. A produção foi novamente conduzida pelo próprio Wailer, que partiu para um som marcadamente digital, com ênfase em bateria eletrônica, linhas de baixo repetitivas e sintetizadores minimalistas. A produção reflete a transição do Roots para o Dancehall, mas ainda carrega a elegância e os fundamentos do Reggae dos anos 70. O repertório é incrível, e as canções são mais divertidas e envolventes, mas com todo aquele toque de profundidade. No final de tudo, é um belo disco e totalmente consistente. 

Melhores Faixas: Dance Rock, Roots Man Skanking 
Vale a Pena Ouvir: Rock And Groove, Ballroom Floor

Hook Line & Sinker – Bunny Wailer





















NOTA: 8/10


Mais um ano se passa, e ele volta lançando mais um disco, o Hook Line & Sinker, que trouxe pequenas mudanças. Após o Rock 'N' Groove, ele decidiu modernizar seu som, mas sem abandonar suas raízes rastafáris e a crítica social contundente. Trata-se de um álbum híbrido e multifacetado, onde Bunny Wailer exercita sua liberdade artística como produtor, compositor e pensador musical, misturando temas espirituais, denúncias sociais e batidas cada vez mais urbanas. A produção, em si, foi a mesma: estética compacta, direta e limpa. A instrumentação é robusta, com base nos riddims digitais e rub-a-dub que começavam a dominar a sonoridade jamaicana dos anos 80, porém ainda mantendo a estrutura e a integridade harmônica do Reggae clássico, além de mostrar alguns elementos de Dub e um pouco daquela essência funkeada. O repertório é bem interessante, e as canções são bem profundas e atmosféricas. Enfim, é um trabalho legal e um pouco mais reflexivo. 

Melhores Faixas: Soul Rocking Party, Riding 
Vale a Pena Ouvir: Simmer Down, The Monkey

Marketplace – Bunny Wailer





















NOTA: 2,6/10


Se passaram três anos, e Bunny Wailer lançava mais um trabalho, o Marketplace. Após o Hook Line & Sinker, ele decidiu fazer um álbum em que seus temas criticassem diretamente o sistema capitalista, o consumismo, a perda de valores espirituais e morais, tudo isso usando uma linguagem musical acessível, às vezes dançante, mas sempre politizada. Marketplace é, acima de tudo, um disco de crítica sociocultural, no qual Bunny expõe a mercantilização da vida e a corrupção dos valores. A produção foi aquela de sempre, seguindo aquela linha sonora do Reggae moderno, incorporando elementos do rub-a-dub e do Dancehall, mas com uma abordagem mais suave e orgânica do que a de seus contemporâneos. Aqui você percebe um maior uso de sintetizadores e de efeitos eletrônicos, só que tudo soa bem arrastado e altamente repetitivo. O repertório é fraquíssimo, e as canções, em sua maioria, são medíocres, com poucas se salvando. No fim, é um disco ruim e totalmente desconexo. 

Melhores Faixas: Ally Worker, Home Sweet Home 
Piores Faixas: Together, Dance The Night Away, Electric City

Run Dance Halls – Bunny Wailer





















NOTA: 2,9/10


Dois anos depois, foi lançado o problemático Run Dance Halls, que foi para um lado mais comercial. Após o Marketplace, vendo que a Jamaica vivia a consolidação do Dancehall, uma vertente marcada por riddims digitais, lirismo mais direto, batidas minimalistas e forte presença de DJs (toasters), Bunny Wailer decidiu adotar toda essa estética, que ele também já havia utilizado anteriormente, embora de forma mais moderada. Esse cenário contrastava fortemente com a era do Roots Reggae, que acabou sendo deixada mais de lado. A produção foi como sempre conduzida por ele mesmo, combinando elementos digitais modernos com instrumentação orgânica, mantendo a base rítmica tradicional do Reggae, mas com uma pegada mais rápida e pulsante. Só que tudo ficou bastante rígido, os arranjos se tornaram altamente repetitivos e completamente chatos. O repertório é bem ruim, e as canções, em sua maioria, são bem fracas. Enfim, é outro disco terrível e sem graça. 

Melhores Faixas: Put It On, Stir It Up, Hot Food Head 
Vale a Pena Ouvir: Jolly Session, Old Time Sinting, Reasons, Haughty Tempo

Liberation – Bunny Wailer





















NOTA: 8,1/10


Entra no ano de 1989, e Bunny Wailer lança outro disco intitulado Liberation, voltando para sua abordagem padrão. Após o Run Dance Halls, ele decidiu fazer uma obra-conceito de militância panafricanista, crítica anticolonial e celebração da consciência negra. É uma declaração de guerra contra os sistemas opressivos e, ao mesmo tempo, um hino à libertação espiritual, cultural e política do povo negro. O motivo era que o disco foi lançado no centenário do nascimento do Marcus Garvey, o maior pensador político e espiritual do movimento negro jamaicano. A produção foi aquela bem tradicional de sempre, onde ele retornou à abordagem do Roots Reggae, fazendo essa sonoridade soar ritualística, com andamento quase sempre lento, o que acentua sua função de meditação e proclamação, voltando para aquele lado atmosférico. O repertório é muito bom, e as canções são todas bem reflexivas e críticas. Em suma, é um belo disco e merece mais atenção. 

Melhores Faixas: Dash Wey The Vial, Botha The Mosquito 
Vale a Pena Ouvir: Didn't You Know, Rise And Shine, Serious Thing

Grumption – Bunny Wailer





















NOTA: 7,3/10


Entrando na década de 90, Bunny Wailer lançava seu último trabalho relevante e inédito, o Grumption. Após o Liberation, percebendo a diluição do Reggae em termos de conteúdo e qualidade, ele criou uma forma de reafirmar coragem e determinação (“gumption” significa coragem, iniciativa, ousadia) para manter acesa a chama da luta. Este álbum também reafirma a importância da independência artística e do compromisso espiritual em um cenário musical que mudava rápido e, por vezes, perdia a conexão com as raízes. A produção foi conduzida pelo próprio cantor, combinando elementos tradicionais do Roots Reggae com uma abordagem contemporânea para a época, com uma instrumentação mais sintetizada e uma base totalmente orgânica, apesar de apresentar alguns momentos abafados. O repertório é bom, tendo canções legais, mas também algumas bem descartáveis. No final, é um trabalho ótimo, e depois disso foi só ladeira abaixo, com muita repetição. 

Melhores Faixas: Gumption, Closer Together, Don Man 
Piores Faixas: Reggae Burden, Pieaka "Bus Dem Shut"
 

                                              Então é isso, um abraço e flw!!!    

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