sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Analisando Discografias - B.B. King: Parte 2

                  

Easy Listening Blues – B.B. King





















NOTA: 8,5/10


Mais um ano se passou, e foi lançado mais um trabalho dele, o Easy Listening Blues. Após o My Kind of Blues, a gravadora Crown procurava capitalizar seu nome através de álbuns que nem sempre tinham uma concepção artística planejada: muitos eram coletâneas ou discos com material rearranjado a partir de sessões antigas. Dentro desse contexto, surge um novo trabalho peculiar, pois é inteiramente instrumental. A produção colocou arranjos enxutos, gravações feitas em sessões rápidas e com poucos recursos, mas que ainda assim conseguem transmitir a expressividade de B. B. King. O som é cru, sem grandes embelezamentos, mas suficientemente claro para destacar tanto a técnica quanto a sensibilidade do artista, basicamente juntando todo o encadeamento do Blues elétrico daquele período. O repertório é muito bom, e as canções têm ótimas variações, bem harmônicas. No final, é outro ótimo disco, que mostra um lado versátil. 

Melhores Faixas: Blues For, Slow Walk, Don't Touch 
Vale a Pena Ouvir: Hully Gully, Night Long

Blues On Top Of Blues – B.B. King





















NOTA: 8,7/10


Aí, pulando lá para 1968, foi lançado outro trabalho de B. B. King, o Blues on Top of Blues. Após o lançamento do Easy Listening Blues, o guitarrista passou a gravar pela ABC-Paramount, onde passou a ter maior investimento em arranjos e qualidade técnica do que nos tempos da Crown. Essa virada de gravadora colocou King mais próximo do mercado da Soul music, já que a ABC buscava inserir seus artistas de Blues no mesmo circuito do Rhythm & Blues moderno e das rádios mais amplas. E, graças ao álbum ao vivo Live at the Regal, ele se aperfeiçoou ainda mais. A produção, feita por Johnny Pate, trouxe um som mais encorpado, com sopros que dialogam com a guitarra de King e uma seção rítmica que puxa mais para a modernidade, com sua guitarra “Lucille” explorando dinâmicas mais variadas. O repertório ficou muito bom, e as canções vão desde um lado melódico até um swing mais acentuado. No geral, é outro ótimo álbum, mostrando uma evolução. 

Melhores Faixas: Heartbreaker, Paying The Cost To Be The, Worried Dream 
Vale a Pena Ouvir: Now That You've Lost Me, Having My Say

Lucille – B.B. King





















NOTA: 9,2/10


No ano seguinte, foi lançado mais um trabalho dele, intitulado Lucille (que, como já foi dito, era o nome que ele dava à sua guitarra Gibson). Após o Blues on Top of Blues, B. B. King já vinha há mais de uma década gravando e excursionando sem parar, sendo reconhecido como um dos grandes nomes do blues, mas ainda com pouca projeção para além do circuito afro-americano. E, para este álbum, ele fez algo inédito, contando sua própria história dentro de um disco, algo mais raro em sua discografia até então. A produção foi conduzida por Bob Thiele, que buscava um equilíbrio entre a força crua do Blues e o apelo mais sofisticado dos arranjos do Soul e do R&B. É um trabalho que carrega a marca do Blues elétrico, mas com roupagem refinada, alinhada ao que gravadoras da época (como Stax e Motown) faziam com outros gêneros afro-americanos. O repertório é incrível, e as canções são bem sofisticadas e exuberantes. No fim, é um belo disco, bastante impactante. 

Melhores Faixas: Lucille (no geral é um Spoken Word, mas a instrumentação é meio que divina), No Money No Luck, I Need Your Love, Watch Yourself, You Move Me So 
Vale a Pena Ouvir: Rainin' All The Time, Stop Putting The Hurt On Me

Completely Well – B.B. King





















NOTA: 10/10


Meses depois, foi lançado o maravilhoso álbum Completely Well, que representou praticamente o auge de B. B. King. Após o Lucille, ele já era respeitado como um dos maiores nomes do Blues, mas ainda não havia alcançado o reconhecimento massivo do público branco e do mercado mainstream. Nos anos anteriores, ele vinha experimentando com arranjos mais sofisticados na ABC Records, gravadora que o ajudava a sair da sonoridade crua de antigamente, rumo a um Blues modernizado, com pitadas de Soul e Jazz. A produção foi feita por Bill Szymczyk, que depois se tornaria famoso por trabalhar com Eagles. O objetivo era claro: dar a King um som que mantivesse a essência do Blues, mas que dialogasse com as exigências do mercado dos anos 70. Os arranjos eram cuidadosamente planejados, com seções de cordas e metais em pontos estratégicos. O repertório é maravilhoso, e as canções são bem exuberantes. Em suma, é uma obra-prima e um clássico do Blues. 

Melhores Faixas: The Thrill Is Gone, Confessin' The Blues, So Excited, No Good, You're Mean
Vale a Pena Ouvir: Cryin' Won't Help You Now, Key To My Kingdom

Indianola Mississippi Seeds – B.B. King





















NOTA: 10/10


Indo para 1970, foi lançado mais um álbum de B. B. King, o Indianola Mississippi Seeds. Após o Completely Well, ele já era uma lenda do Blues dentro da comunidade afro-americana e nos circuitos de clubes, mas esse momento o colocou em contato com o público branco jovem, que via no Blues a raiz do Rock que consumiam. Aquele período foi marcado por uma intensa redescoberta do blues por parte de artistas como Eric Clapton, Rolling Stones e Jimi Hendrix, e King foi um dos grandes beneficiados dessa atenção. A produção, feita novamente por Bill Szymczyk, foi limpa, rica em detalhes e, ao mesmo tempo, fiel à emoção crua característica do guitarrista, fazendo um álbum de Blues que tivesse acabamento do Rock mainstream, com arranjos sofisticados, presença de piano, órgão, cordas e, sobretudo, com convidados de peso como Carole King. O repertório, novamente, é magnífico, com canções bem encadeadas. Enfim, é outra obra-prima de sua carreira. 

Melhores Faixas: Chains And Things, King's Special, Nobody Loves Me But My Mother, Hummingbird 
Vale a Pena Ouvir: You're Still My Woman, Ask Me No Questions

Live In Cook County Jail – B.B. King





















NOTA: 10/10


Aí, em janeiro de 1971, foi lançado um álbum ao vivo extremamente essencial, o Live in Cook County Jail. Após o clássico Indianola Mississippi Seeds, B. B. King finalmente atingia o auge da popularidade, e seus shows ao vivo eram sua maior arma. A ideia para este álbum nasceu de uma série de concertos que artistas afro-americanos vinham realizando em prisões nos EUA, muito por conta do Live at Folsom Prison (1968), de Johnny Cash. Em 10 de setembro de 1970, King se apresentou no presídio do Cook County, em Chicago, para cerca de 2.000 detentos. A produção, conduzida por Bill Szymczyk, captou a atmosfera da prisão. A gravação traz não apenas as músicas, mas também discursos introdutórios, comentários do público e a energia crua do momento. O repertório é incrível, com uma instrumentação riquíssima e canções animadas. No final, é um baita álbum, e, sinceramente, se esses presidiários não largaram a vida do crime após isso, é porque não tinham coração. 

Melhores Faixas: The Thrill Is Gone, How Blue Can You Get, Sweet Sixteen 
Vale a Pena Ouvir: Worry, Worry, Worry, Medley: 3 O'Clock Blues / Darlin' You Know I Love You / Sweet Sixteen

In London – B.B. King





















NOTA: 9/10


Se passaram alguns meses, e foi lançado mais um trabalho de estúdio do guitarrista, o In London. Após o Live in Cook County Jail, B. B. King decidiu dar um passo ainda mais ousado: gravar em Londres. A cidade era, naquele momento, um centro fervilhante do Blues Rock britânico. A geração de guitarristas ingleses, como Eric Clapton, Peter Green, Jeff Beck, Jimmy Page e Mick Taylor, sempre declarava sua devoção a B. B. King, e a ida do próprio mestre à capital britânica simbolizava a conexão direta entre a tradição americana e a reinterpretação inglesa do gênero. A produção, feita por Ed Michell e Joe Zagarino, mistura a intensidade crua do Blues com o brilho do Rock britânico, indo para uma pegada mais direta, voltada para a interação instrumental e o groove coletivo, que contava com vários nomes como Richard Wright, Ringo Starr e Peter Green (nada demais). O repertório é muito bom, e as canções são bem envolventes. No final, é outro disco muito bacana. 

Melhores Faixas: Ghetto Woman, Caldonia, Power Of The Blues, Wet Hayshark 
Vale a Pena Ouvir: Ain't Nobody Home, Blue Shadows

L.A. Midnight – B.B. King





















NOTA: 6/10


Outro ano se passou, e foi lançado mais um trabalho dele, intitulado L.A. Midnight. Após o In London, B. B. King retorna novamente ao ambiente norte-americano, mas agora dialogando com guitarristas e músicos da cena californiana. A ideia era repetir a experiência de colaboração de seu álbum anterior, mas com instrumentistas dos EUA, misturando o Blues tradicional com uma pegada mais expansiva e, em alguns momentos, jamística. A produção, conduzida por Ed Michel, seguiu para um lado mais amplo, explorando estruturas mais longas e improvisações mais abertas, refletindo um pouco da influência do Rock psicodélico que predominava nos anos 70. Entre os músicos presentes, destacam-se Jesse Ed Davis e Joe Walsh (que futuramente entraria no Eagles), mas, no geral, há muita repetição e faltou mais complexidade. O repertório até começa bem, mas depois decai com canções mais fracas. Enfim, é um trabalho mediano, que faltou mais imersão. 

Melhores Faixas: Help The Poor, I Got Some Help I Don't Need 
Vale a Pena Ouvir: Midnight, (I Believe) I've Been Blue Too Long

Guess Who – B.B. King





















NOTA: 8,3/10


Depois de mais alguns meses, foi lançado outro álbum, intitulado Guess Who, que voltou para um lado mais conciso. Após o L.A. Midnight, B. B. King retorna a um formato mais direto, equilibrando Blues tradicional, Soul, Rhythm & Blues e até interpretações de standards. Era como se, depois da liberdade das jams de estúdio, ele buscasse novamente um disco com repertório mais definido e estruturado. A produção, feita por Joe Zagarino, trouxe arranjos de metais marcantes, grooves consistentes e momentos que aproximam King do universo da Soul music e da música americana da época, resultando em canções bem mais construídas e menos puxadas para as jams, mas ainda mantendo toda a ousadia do Blues elétrico. O repertório ficou muito bom, e as canções soam mais melódicas e sofisticadas. Enfim, é outro ótimo disco, mais expansivo e refinado. 

Melhores Faixas: Guess Who, Summer In The City, Shouldn't Have Left Me 
Vale a Pena Ouvir: Neighborhood Affair, Any Other Way

To Know You Is To Love You – B.B. King





















NOTA: 8/10


Mais um ano se passou, e B. B. King lançava mais um trabalho novo, o To Know You Is To Love You. Após o Guess Who, o Blues tradicional já não era suficiente para definir sua trajetória naquele momento: King queria ser ouvido por públicos novos, e a música negra dos anos 70 abria espaço para isso, com arranjos mais modernos, grooves fortes e produções sofisticadas, aproximando-o bastante do universo da Motown e da Soul music orquestrada. A produção, feita por Dave Crawford, que vinha do Soul/Funk da Filadélfia, aumentou esse desejo do guitarrista. Crawford privilegiou arranjos exuberantes, cheios de cordas, metais e coros femininos, típicos da sonoridade Soul setentista. A guitarra do B. B. King, embora menos crua do que em seus álbuns anteriores, aparece sempre pontual, dialogando com a sofisticação dos arranjos. O repertório ficou muito bom, e as canções são bem exuberantes e consistentes. No fim, é um ótimo álbum, que mostrou um lado mais versátil. 

Melhores Faixas: To Know You Is To Love You (curiosidade: isso aqui é um cover de uma música do Stevie Wonder junto com sua esposa na época, Syreeta Wright), I Can't Leave
Vale a Pena Ouvir: Love, Thank You for Loving the Blues
 

  Por hoje é só, então flw!!!  

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