domingo, 7 de setembro de 2025

Analisando Discografias - Charles Mingus: Parte 3

                            

Oh Yeah – Charles Mingus





















NOTA: 8/10


Passando para 1962, foi lançado mais um trabalho dele, intitulado Oh Yeah, que foi um pouco mais pacífico. Após o Presents Charles Mingus, Mingus resolveu explorar uma faceta distinta: em vez de tocar contrabaixo, seu instrumento habitual, assumiu o piano e a voz, entregando as linhas graves a Doug Watkins. A decisão mostra sua versatilidade e desejo de experimentar novos papéis dentro da música. A produção, conduzida por Nesuhi Ertegün, ocorreu num clima descontraído, quase de jam session, mas com a direção firme de Mingus no piano. Ela valoriza a energia crua e a espontaneidade dos músicos, com destaque para os diálogos entre os sopros e a percussão. O registro transmite uma sensação de liberdade, humor e irreverência, algo raro em discos mais “sérios” dele. O repertório é bem interessante, com canções mais variadas. Enfim, é um disco legal e, ao mesmo tempo, um pouco mais complexo. 

Melhores Faixas: Oh Lord Don't Let Them Drop That Atomic Bomb On Me, Wham Bam Thank You Ma'am 
Vale a Pena Ouvir: Eat That Chicken, Devil Woman

Tijuana Moods – Charles Mingus





















NOTA: 9/10


Tempos depois, foi lançado mais um álbum, Tijuana Moods, que foi ainda mais diversificado. Após Oh Yeah, Charles Mingus já vinha se firmando como um dos compositores mais inovadores do Jazz. Em 1957, após uma passagem turbulenta pelo México, Mingus decidiu canalizar a experiência em um projeto ambicioso. Sua estadia em Tijuana foi marcada pelo contato com bares, dançarinas, música local e uma atmosfera decadente, que o inspirou a traduzir tudo isso em sons. O projeto seria gravado ainda em 1957, mas, por questões da própria Atlantic Records, só foi realizado tempos depois. A produção foi conduzida por Bob Rolontz, que captou esse híbrido de Jazz moderno, música popular mexicana, Flamenco, Blues e improvisação livre. O time de músicos mostrou grande variedade em seus instrumentos, deixando tudo bem energético. O repertório é muito bom, e as canções são imersivas e profundas. No final, é um belo disco, com um conceito que funcionou. 

Melhores Faixas: Ysabel's Table Dance, Flamingo 
Vale a Pena Ouvir: Los Mariachis = The Street Musicians, Dizzy Moods, Tijuana Gift Shop

The Black Saint And The Sinner Lady – Mingus





















NOTA: 10/10


Então chegamos ao ano seguinte, quando foi lançado o atemporal The Black Saint and the Sinner Lady. Após o Tijuana Moods, Mingus continuava a carregar conflitos pessoais, crises de saúde mental, tensões sociais ligadas ao racismo nos EUA e o fardo de ser constantemente comparado a Duke Ellington. Esses elementos convergiram em uma obra escrita como uma suíte única em seis movimentos. É Jazz, mas com dimensões sinfônicas; é moderno, mas profundamente enraizado na tradição afro-americana. A produção foi feita pelo lendário Bob Thiele, que enfatizou a continuidade: mesmo dividida em faixas, a suíte deve ser ouvida como um todo. A gravação buscou capturar a intensidade emocional de Mingus e seus arranjos intricados, que misturam contraponto, polirritmia, harmonias complexas e elementos de música clássica. O repertório é sensacional e bem estruturado. No final de tudo, é um álbum fantástico e um dos melhores de todos os tempos. 

Melhores Faixas: Track A - Solo Dancer, Track B - Duet Solo Dancers 
Vale a Pena Ouvir: Medley: Mode D - Trio And Group Dancers/Mode E - Single Solos And Group Dance/Mode F - Group And Solo Dance, Track C - Group Dancers

Mingus Mingus Mingus Mingus Mingus – Mingus





















NOTA: 9,7/10


No início de 1964, foi lançado mais um álbum, intitulado Mingus Mingus Mingus Mingus Mingus (é isso mesmo). Após o clássico The Black Saint and the Sinner Lady, o baixista queria dar uma nova roupagem a algumas composições em um projeto igualmente grandioso, sendo ao mesmo tempo uma retrospectiva e uma reafirmação de sua estética. Muitas das faixas são reinterpretações de temas antigos, mas rearranjadas para uma formação orquestral ampla. A produção, conduzida mais uma vez por Bob Thiele, ofereceu liberdade criativa, e Mingus aproveitou para expandir os arranjos em escala de big band. Assim, foram realizadas duas sessões com músicos diferentes, mas a variedade tímbrica dá ao álbum uma densidade sonora próxima de uma orquestra de concerto, sem perder o estilo do Post-Bop. O repertório é muito bom, e as canções são bem técnicas e energéticas. No geral, é um baita disco e mostra muita ousadia. 

Melhores Faixas: II B.S., Mood Indigo, Better Get Hit In Yo' Soul 
Vale a Pena Ouvir: Hora Decubitus, Celia

Mingus Plays Piano (Spontaneous Compositions And Improvisations) – Mingus





















NOTA: 8,4/10


Pouco tempo depois, foi lançado outro álbum, Mingus Plays Piano (Spontaneous Compositions and Improvisations). Após o Mingus cinco vezes (nerfando aqui o título), apesar de estar no auge, havia uma pressão psicológica enorme, que desembocaria em crises nos anos seguintes. O piano era, para Mingus, tanto instrumento de trabalho quanto espaço íntimo, onde podia experimentar ideias sem a intermediação de outros músicos. Então, ele decidiu fazer um trabalho sozinho, improvisando e compondo em tempo real. A produção foi feita novamente por Bob Thiele, e a gravação ocorreu em estúdio com som intimista, sem overdubs, cortes ou retoques. Não há grandes preocupações com polimento técnico: a intenção é capturar a espontaneidade do artista sentado ao piano, deixando fluir ideias, memórias e fragmentos. O repertório ficou muito bom, e as canções são todas improvisadas e carregadas de pureza. No fim, é um belo disco, que mostra a genialidade dele. 

Melhores Faixas: Memories Of You, I'm Getting Sentimental Over You, I Can't Get Started
Vale a Pena Ouvir: Body And Soul, Compositional Theme Story...Medleys, Anthems And Folklore, Myself When I Am Real

Let My Children Hear Music – Charles Mingus





















NOTA: 9/10


Agora, indo para 1972, Mingus retorna lançando Let My Children Hear Music, que foi profundamente experimental. Após o Mingus Plays Piano, ele sofreu com crises pessoais e de saúde mental, chegando a um afastamento quase total da música. Foi somente no final da década de 60 que começou a retomar atividades, compondo novamente com ambição e recebendo incentivo de amigos e colaboradores. O início dos anos 1970 viu um Mingus em processo de renascimento artístico e, com isso, ele realizaria o sonho de escrever para uma grande orquestra de Jazz. A produção, feita por Teo Macero, trouxe uma formação que incluía dezenas de músicos, com seção de sopros extensa, percussões, além de piano e contrabaixo. Não é exatamente uma big band tradicional: Mingus pensou em camadas, timbres e cores como um compositor sinfônico, incorporando influências do Third Stream e até progressivas. O repertório é muito bom, e as canções são bem complexas, mas têm aquela envolvência. No fim, é um disco incrível e completamente essencial. 

Melhores Faixas: Adagio Ma Non Troppo, The Shoes Of The Fisherman's Wife Are Some Jive Ass Slippers 
Vale a Pena Ouvir: Hobo Ho, The I Of Hurricane Sue

Changes One – Charles Mingus





















NOTA: 8,2/10


Três anos depois, foi lançado mais um trabalho, Changes One, que foi bem moderno. Após o Let My Children Hear Music, Mingus estava vivendo uma fase de redescoberta criativa, contando com a colaboração fiel de sua esposa, Sue Graham Mingus, e cercado de novos músicos excepcionais. A parceria com a Atlantic Records garantiu liberdade e infraestrutura. Em 1974, Mingus reuniu um quinteto que viria a ser considerado sua última grande banda: George Adams (saxofone tenor e voz), Don Pullen (piano), Jack Walrath (trompete), Dannie Richmond (bateria) e ele próprio no contrabaixo. A produção, conduzida por Ilhan Mimaroglu, deixou o som cru, mas quente, preservando a intensidade das performances. O baixista optou por uma formação enxuta, confiando na química do quinteto, além de promover toda aquela mistura de gêneros. O repertório contém 4 faixas muito boas, todas bem cadenciadas. No fim, é um trabalho bacana e complexo e tinha mais. 

Melhores Faixas: Devil Blues, Sue's Changes 
Vale a Pena Ouvir: Duke Ellington's Sound Of Love, Remember Rockefeller At Attica

Changes Two – Charles Mingus





















NOTA: 8,2/10


E, logicamente, no mesmo dia foi lançado Changes Two, que seguia quase a mesma linha. Ou seja, esses álbuns foram gravados praticamente juntos, em janeiro de 1974, mas lançados separadamente (pique Use Your Illusion, do Guns N’ Roses). Enquanto o primeiro é mais lírico e acessível, o segundo enfatiza a crítica social, o sarcasmo e a improvisação expansiva, funcionando quase como o “lado B” mais ousado e contestador. A produção, obviamente, foi a mesma; o registro sonoro é cru, mas potente, valorizando o impacto imediato dos instrumentos. Mingus e sua banda exploram aqui não apenas a composição detalhada, mas também a improvisação coletiva, com trechos longos em que o caos controlado domina. O repertório, dessa vez, contém 5 faixas mais improvisadas, mas puxadas para um lado mais técnico e profundo. Em suma, assim como seu “irmão”, é um ótimo trabalho, cheio de complexidade. 

Melhores Faixas: Black Bats And Poles, Duke Ellington's Sound Of Love (Jackie Paris canta aqui) 
Vale a Pena Ouvir: For Harry Carney, Free Cell Block F, 'Tis Nazi U.S.A, Orange Was The Colour Of Her Dress, Then Silk Blue
 

                Então é isso, um abraço e flw!!!               

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