The Clown – Charles Mingus
NOTA: 9,4/10
No ano seguinte, foi lançado mais um trabalho de Charles Mingus, o The Clown. Após o Pithecanthropus Erectus, ele já havia mostrado sua intenção de transformar o Jazz em algo mais conceitual, misturando improvisação livre, arranjos coletivos e um espírito próximo ao vanguardismo. Com isso, decidiu dar um passo além na fusão de improvisação e narrativa, agora incorporando explicitamente a ideia de uma “história contada” através da música. A produção, feita por Nesuhi Ertegün, dá destaque tanto ao caráter orquestral dos arranjos de Mingus quanto à liberdade dos solistas. O som é mais direto, vibrante e cheio de textura, realçando o caráter dramático da música. Isso se deve muito à formação certeira, que contava com Shafi Hadi (sax alto e tenor), Jimmy Knepper (trombone), Wade Legge (piano) e Dannie Richmond (bateria). O repertório é incrível, e as 4 canções são todas bem encadeadas e imersivas. No fim, é outro belo disco e mais um clássico de sua carreira.
Melhores Faixas: Haitian Fight Song, The Clown Vale a Pena Ouvir: Reincarnation Of A Lovebird, Blue Cee
East Coasting – Charles Mingus
NOTA: 8/10
E lá para o final do ano foi lançado outro disco de Mingus, o East Coasting, que apresentou elementos inéditos. Após o The Clown, o baixista já era visto como um dos compositores mais ousados do Jazz moderno. Nesse período, consolidava seu ‘Jazz Workshop’, grupo em constante mutação que funcionava como laboratório de ideias. Ele decidiu fazer um trabalho que funcionasse como uma espécie de contrapeso: um álbum mais elegante, melódico e coeso, que dialoga tanto com a tradição quanto com a modernidade. A produção é límpida, dando espaço para que os arranjos respirem. Aqui, a formação com Bill Evans, cuja sonoridade introspectiva cria belíssimos contrastes com os metais angulares de Jimmy Knepper e Shaw, além do sax de Shafi Hadi, é de destaque. Richmond, parceiro inseparável de Mingus, fornece a flexibilidade rítmica que sustenta os arranjos. O repertório é muito bom, e as canções são bem dinâmicas. No geral, é um disco legal e com qualidades notáveis.
Melhores Faixas: Conversation, Celia
Vale a Pena Ouvir: Memories Of You
Mingus Ah Um – Charles Mingus
NOTA: 10/10
Indo para 1959, foi lançado o sensacional Mingus Ah Um, que é um dos trabalhos mais importantes do Jazz. Após o East Coasting, a intenção para esse projeto foi dupla: de um lado, prestar homenagens aos músicos e tradições que moldaram sua identidade (do Blues e do Gospel a Duke Ellington e Lester Young); de outro, consolidar sua linguagem como compositor, criando peças memoráveis, com arranjos intricados, mas cheios de alma. A produção, feita por Teo Macero, e o lançamento pela Columbia Records mostraram um som polido e claro, mas sem perder a crueza e a intensidade características da Jazz Workshop. A formação de noneto soava como uma mini-orquestra, perfeita para os arranjos coletivos de Mingus, cheios de camadas e contrapontos, tendo momentos do Cool Jazz, Hard Bop e ainda com influências do Post-Bop. O repertório é maravilhoso, parecendo uma coletânea. No final, é um disco fantástico e certamente uma obra-prima.
Melhores Faixas: Goodbye Pork Pie Hat, Better Git It In Your Soul, Fables Of Faubus, Self-Portrait In Three Colors
Vale a Pena Ouvir: Jelly Roll, Bird Calls
Blues & Roots – Charles Mingus
NOTA: 8,2/10
Melhores Faixas: Moanin', Wednesday Night Prayer Meeting
Vale a Pena Ouvir: My Jelly Roll Soul, Tensions
Mingus Dynasty – Charles Mingus
NOTA: 8,7/10
Passaram-se alguns meses e foi lançado outro álbum intitulado Mingus Dynasty. Após o Blues & Roots, Charles Mingus decidiu continuar aquele diálogo entre tradição e modernidade, homenageando músicos importantes, refletindo sobre identidade cultural e explorando formas complexas de Blues, Gospel e Hard Bop. É também uma resposta à crescente fama de Mingus: ele precisava reafirmar seu poder composicional e sua visão estética. A produção, conduzida mais uma vez por Teo Macero, colocou um som potente, captando tanto a densidade do arranjo coletivo quanto os solos individuais. Mantendo a energia visceral das sessões de Mingus, mas com um acabamento mais polido que valorizava a textura e a articulação de cada instrumento, só que muita coisa acabou ficando bem arrastada, e algumas improvisações soam imprecisas. O repertório é bom, contém ótimas canções, mas outras são fracas. Enfim, é um trabalho interessante, mas que tem seus erros.
Melhores Faixas: Diane, Slop, Mood Indigo, New Now, Know How
Piores Faixas: Song With Orange, Far Wells, Mill Valley
Presents Charles Mingus – Charles Mingus
NOTA: 8/10
E lá para o fim daquele ano de 1960, foi lançado Presents Charles Mingus, que foi ainda mais complexo. Após o Mingus Dynasty, Mingus já estava consolidado como uma das figuras centrais do Jazz moderno. Porém, ele ainda queria explorar diferentes configurações de grupo, texturas e liberdades coletivas. Decidindo dessa vez optar por um quinteto mais enxuto do que o noneto, mas ainda assim capaz de gerar grande densidade musical. Produção feita por Bob D'Orleans e lançado pelo selo da Candid, que permitiu liberdade artística aos músicos, favorecendo justamente a espontaneidade: o som é cru, direto e intenso, sem polimento excessivo mostrando o que é chamado de Avant-Garde Jazz. Isso permite que a energia coletiva do quinteto se destaque, principalmente Eric Dolphy, que começava a se tornar um parceiro musical crucial de Mingus. O repertório contem 4 faixas muito boas e que são bem imersas. No final, é um disco bacana e que mostrava uma base futura.
Melhores Faixas: Original Faubus Fables, Folk Forms No. 1
Vale a Pena Ouvir: All The Things You Could Be By Now If Sigmund Freud's Wife Was Your Mother, What Love
Então é isso, um abraço e flw!!!