sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Analisando Discografias - Chet Baker: Parte 3

                   

In Milan – Chet Baker





















NOTA: 8/10


Pouco tempo depois foi lançado mais um álbum do Chet Baker, intitulado In Milan. Após o Chet, ele começou a atravessar turbulências pessoais, especialmente relacionadas ao uso de drogas, principalmente heroína, e à instabilidade de sua vida nos Estados Unidos. Essa fase o levou a buscar novos caminhos na Europa, onde encontrou acolhimento em países como a Itália. Decidiu então gravar esse próximo trabalho em Milão, que seria um ótimo lugar para uma reinvenção. A produção, conduzida por Giulio Libano, contou com músicos locais, e a sonoridade é elegante, mais próxima da tradição jazzística norte-americana do que de experimentações radicais. A gravação valoriza a clareza do trompete de Baker, sempre colocado em primeiro plano, com um clima intimista, além de um ótimo balanceamento entre os outros instrumentos. O repertório ficou muito bom, e as canções são bem variadas. Em suma, é um trabalho interessante e muito expressivo. 

Melhores Faixas: Pent Up House, Indian Summer 
Vale a Pena Ouvir: My Old Flame, Lady Bird

Chet Is Back! – Chet Baker Sextet





















NOTA: 8,2/10


Em 1962, foi lançado mais um disco intitulado Chet Baker Is Back!, em um período bem complicado. Após o In Milan, a trajetória do trompetista foi interrompida por problemas relacionados ao uso de drogas, prisões e até mesmo um tempo afastado dos palcos. Ao sair da prisão na Itália, em 1961, Baker precisava se reafirmar, não apenas artisticamente, mas também como músico ainda capaz de ocupar espaço no Jazz internacional. A produção, feita por Daniel Baumgarten e Joshua Sherman, trouxe um som mais vibrante, moderno, com arranjos abertos e espaço para improvisação. Não há o peso de orquestrações ou de clima “camerístico”, mas sim uma atmosfera de combo jazzístico, mais próxima da energia que se vivia no Hard Bop, só que ainda mantendo os pés no Cool Jazz. O repertório é muito bom, e as canções são todas bem aconchegantes. No geral, é um trabalho bacana, apesar de os problemas pessoais dele continuarem. 

Melhores Faixas: Over The Rainbow, Ballata In Forma Di Blues 
Vale a Pena Ouvir: These Foolish Things, Star Eyes

Baker's Holiday – Chet Baker





















NOTA: 3/10


Três anos depois, foi lançado mais um disco intitulado Baker's Holiday, que quis ser mais variado. Após o Chet Is Back!, que marcou sua volta após um período de prisão na Itália, Baker seguiu explorando diferentes frentes musicais, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. Com isso, ele decidiu fazer um projeto conceitual no qual presta homenagem a Billie Holiday, uma de suas maiores referências. O disco é inteiramente dedicado a canções imortalizadas por Lady Day, mas recriadas na voz e no trompete de Chet. Produzido por Luchi DeJesus, o álbum apresenta arranjos de orquestra de sopros, que lhe conferem um clima sofisticado e mais polido, contrastando com a simplicidade intimista dos registros anteriores. A produção aposta em uma atmosfera elegante, e as orquestrações funcionam como pano de fundo, só que muita coisa acaba não funcionando. O repertório é bem fraco, tendo poucas canções interessantes. Enfim, é um álbum ruim e sem graça. 

Melhores Faixas: Easy Living, These Foolish Things (Remind Me Of You), When Your Lover Has Gone 
Piores Faixas: That Ole Devil Called Love, You're My Thrill, There Is No Greater Love, Mean To Me

She Was Too Good To Me – Chet Baker





















NOTA: 8,1/10


Indo lá para 1972, Chet Baker retornava lançando mais um álbum intitulado She Was Too Good To Me. Após o Baker’s Holiday, Baker voltou aos estúdios europeus e norte-americanos com uma vontade renovada de afirmar sua música, depois de um período em que se viciou completamente, chegou ao fundo do poço, perdeu tudo, trabalhou em um posto de gasolina e até mesmo ficou sem uma parte de seus dentes. No início da década de 1970, ele conseguiu voltar e estava tentando reconstruir sua carreira, mas seu estilo havia mudado. A produção, feita por Creed Taylor, trouxe um som cristalino, com o trompete em primeiro plano e a seção rítmica mantendo um suporte discreto, mas firme. A gravação equilibra intimidade e sofisticação de estúdio: há clareza, presença e espaço para cada nuance do instrumento e da voz. O repertório ficou muito bom, e as canções são bem dinâmicas. Enfim, é um disco ótimo e bem coeso. 

Melhores Faixas: Autumn Leaves, She Was Too Good To Me 
Vale a Pena Ouvir: Tangerine, What'll I Do

Broken Wing – Chet Baker




















NOTA: 5/10


Seis anos depois, Chet Baker lançou mais um disco, o irregular Broken Wing, que tentou ser mais ousado. Após o She Was Too Good To Me, o trompetista encontrou na Europa um ambiente mais acolhedor para retomar sua carreira. Em 1978, ele se estabeleceu em Paris e decidiu lançar um trabalho contando com músicos locais, assim como havia feito anos antes em In Milan. A produção, conduzida por Gilles Gautherin, apresenta uma sonoridade refinada, característica do Jazz europeu da época, mostrando o destaque da interação entre os músicos, com arranjos que valorizam a expressividade individual. O problema é que muita coisa parece sem imersão, fazendo com que o trompete de Baker não sirva para quase nada, pois pouca coisa se sustenta. O repertório é mediano: tem canções boas, mas também muitas fracas. No fim, é um álbum bem fraco e cheio de irregularidades. 

Melhores Faixas: Broken Wing, Black Eyes 
Piores Faixas: Blue Gilles, Oh You Crazy Moon, How Deep Is The Ocean

Peace – Chet Baker





















NOTA: 8,2/10


Nos anos 80, por volta de 1982, foi lançado um disco bastante esquecido de Chet Baker, Peace. Após o irregular Broken Wing, o álbum surge como uma extensão natural de sua busca por introspecção: o título já indica o clima da obra, sugerindo calma, contemplação e momentos de quietude emocional. Aqui, Baker parece mais interessado em explorar nuances e sutilezas do que em impressionar tecnicamente, reafirmando sua maturidade e sensibilidade. A produção, feita por Matthias Winkelmann, valoriza a interação entre os músicos, sem sobrecarga de arranjos ou efeitos artificiais. O piano, o baixo e a bateria aparecem como suporte sutil, proporcionando textura e espaço para que o trompete possa respirar. O clima geral da gravação é introspectivo, quase meditativo, reforçado pelo som limpo e transparente da captação, resultando em um Cool Jazz exuberante. O repertório é muito bom, com canções leves e expressivas. No final, é um trabalho muito bom e subestimado. 

Melhores Faixas: The Song Is You, Shadows 
Vale a Pena Ouvir: Peace

Diane – Chet Baker & Paul Bley





















NOTA: 9/10


Três anos se passam e foi lançado um belo álbum colaborativo junto com Paul Bley, intitulado Diane. Após o Peace, naquele período Chet Baker não buscava virtuosismo técnico nem experimentações radicais, mas sim a expressão emocional de cada nota, refletindo sua trajetória de vida turbulenta, marcada por sucesso, excessos, recaídas e recuperações constantes. Com isso, ele decidiu gravar esse trabalho com o pianista Paul Bley na Dinamarca, que era um local bem pacífico. A produção, feita por Nils Winther, é minimalista e transparente, destacando o trompete e, em poucos momentos, a voz de Chet. O som é limpo, a mixagem valoriza cada nuance, e a seção rítmica atua mais como um suporte sensível do que como força motriz. O clima geral é intimista, reforçando a sensação de proximidade com o ouvinte. O repertório é belíssimo, e as canções são todas bem suaves. No final, é um disco incrível, que seria seu último ato, entre aspas, grandioso. 

Melhores Faixas: If I Should Lose You, Everytime We Say Goodbye, Pent-Up House 
Vale a Pena Ouvir: You Go To My Head, Diane

Chet Baker Sings And Plays From The Film "Let's Get Lost" – Chet Baker





















NOTA: 8,9/10


Então chegamos ao ano de 1989, quando foi lançado o que seria, de certo modo, o trabalho final do Chet Baker, Sings And Plays From The Film "Let's Get Lost". Após o Diane, a fase final da carreira do trompetista continuou marcada por uma intensidade emocional ainda maior. Em 1988, porém, Chet foi encontrado morto na rua abaixo de seu quarto no Hotel Prins Hendrik, em Amsterdã. O motivo foi tratado como um acidente, já que ele teria tentado pular da sacada de um outro quarto para entrar no seu, que estava trancado. Nesse mesmo período começou a ser preparado o filme documental sobre sua trajetória e, a trilha sonora já havia sido gravada antes. A produção, realizada por Steve Backer, trouxe uma gravação nostálgica e intimista; os arranjos são simples e delicados, evitando grandes orquestrações para que a emoção e a nuance de cada interpretação sejam o foco. O repertório ficou muito bom, com canções interessantes. No geral, é um ótimo trabalho de despedida. 

Melhores Faixas: Every Time We Say Goodbye, Blame It On My Youth 
Vale a Pena Ouvir: Zingaro, Everything Happens To Me, You're My Thrill

 

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