quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Analisando Discografias - Jorge Ben Jor: Parte 2

                  

O Bidú: Silêncio No Brooklin – Jorge Ben





















NOTA: 8,9/10


E aí, dois anos se passam, e Jorge Ben lançava seu 5º álbum, O Bidú: Silêncio no Brooklin. Após o Big Ben, ele decidiu se aproximar mais explicitamente das texturas elétricas e do universo da Jovem Guarda, tanto que, para o disco, ele gravou acompanhado pela banda paulista The Fevers (o que dá ao álbum um caráter mais “de conjunto” do que seus registros puramente acústicos anteriores). O título refere-se a um carro que Ben tinha e a um vizinho que reclamava do barulho no Brooklin, bairro de São Paulo onde ele morava. A produção, conduzida por Roberto Corte Real, tem um som cru e direto, assim como algumas escolhas de arranjo que soam um pouco menos polidas do que nos trabalhos posteriores. A presença dos Fevers confere ao acompanhamento uma base rítmica e de guitarra mais alinhada, fazendo assim uma base do Samba-rock. O repertório é muito bom, e as canções são bem divertidas e descontraídas. Enfim, é um ótimo disco, que foi só uma base. 

Melhores Faixas: Vou Andando, Frases, Quanto Mais Te Vejo, Jovem Samba, Rosa Mas Que Nada 
Vale a Pena Ouvir: Si Manda, Amor De Carnaval

Jorge Ben – Jorge Ben





















NOTA: 9,9/10


Pulando para 1969, foi lançado o sensacional álbum autointitulado dele (que certamente é muito marcante também para a torcida do Mengão). Após O Bidú: Silêncio no Brooklin, que soou mais cru e ligado ao espírito da Jovem Guarda, ele mostrava estar desenvolvendo uma nova linguagem no samba. Ao mesmo tempo, a cena brasileira estava efervescente: Caetano Veloso e Gilberto Gil lançavam as bases do Tropicalismo, mesclando guitarras elétricas, psicodelia e canção popular em um clima tenso da ditadura militar. A produção foi conduzida por Manoel Barenbein, o que permitiu qualidade sonora superior e arranjos mais bem amarrados. O Trio Mocotó (com João Parahyba, Nereu Gargalo e Fritz Escovão) trouxe um suingue percussivo que se tornaria inseparável da identidade do cantor, fazendo assim a base final do Samba-rock. O repertório é incrível, e as canções são bem envolventes, com um lado mais melódico. Em suma, é um belíssimo disco e certamente um clássico. 

Melhores Faixas: País Tropical, Take It Easy My Brother Charles, Charles Anjo 45, Criola, Domingas, Bebete Vãobora 
Vale a Pena Ouvir: Cadê Teresa, Que Pena

Fôrça Bruta – Jorge Ben





















NOTA: 10/10


Em 1970, foi lançado certamente uma das maiores obras-primas da música brasileira, o Fôrça Bruta. Após o álbum de 1969, que consolidou o Samba-rock como uma linguagem própria, apoiada pela parceria com o Trio Mocotó, o Brasil vivia anos de ditadura, censura e repressão, mas a música popular encontrava formas de circular entre festa e crítica. Jorge, em sua postura positiva, sempre evitou o panfletarismo direto, preferindo tratar da vida cotidiana, da sensualidade e da celebração de forma simbólica, decidindo, então, ir para um lado mais íntimo. A produção, feita por Manoel Barenbein, resultou em uma sonoridade envolvente, que valoriza a sensualidade e o romantismo, com Jorge cantando bem mais baixo, quase sussurrando, contribuindo para a atmosfera do disco. O repertório é simplesmente sensacional e digno de coletânea; alguns de seus clássicos estão aqui. Com isso, esse disco é atemporal e um dos melhores de todos os tempos. 

Melhores Faixas: Oba, Lá Vem Ela, Charles Jr., O Telefone Tocou Novamente, Fôrça Bruta
Vale a Pena Ouvir: Mulher Brasileira, Zé Canjica, Domenica Domingava Num Domingo Linda Tôda De Branco

Negro É Lindo – Jorge Ben





















NOTA: 9,5/10


No ano seguinte, foi lançado outro álbum magnífico, o Negro É Lindo, que foi ainda mais sofisticado. Após o Fôrça Bruta, ele decidiu reforçar a sua estética, mas também assume, de forma explícita, a celebração da negritude no título e em várias faixas. Vendo que o movimento Black Rio ainda não tinha explodido, mas que a afirmação da identidade negra já começava a ecoar na cultura brasileira, acompanhando reverberações internacionais, Jorge Ben, atento e orgulhoso de suas raízes, cria um álbum em que o lirismo amoroso convive com a exaltação da beleza negra. A produção, conduzida por Paulinho Tapajós, foi para um lado mais expansivo e mais alegre, ainda que mantendo a suavidade vocal do Jorge. A produção dá muito espaço para os violões e para a percussão orgânica, que se somam às cordas em arranjos de clima quase cinematográfico. O repertório é ótimo, e as canções são mais envolventes e sentimentais. No geral, é um disco excepcional e bastante coeso. 

Melhores Faixas: Porque É Proibido Pisar Na Grama, Que Maravilha, Comanche, Rita Jeep, Cassius Marcelo Clay 
Vale a Pena Ouvir: Cigana, Maria Domingas

Ben – Jorge Ben





















NOTA: 9,8/10


Então, se passa mais um ano, e Jorge Ben lançava mais um trabalho, intitulado Ben. Após o Negro É Lindo, como o Brasil ainda vivia os anos mais duros da ditadura militar, Jorge continuava em um discurso mais simbólico, mas isso não significava alienação: afirmar o amor, a mulher, o corpo e a negritude num período de repressão também era uma forma de resistência. Além disso, o cenário internacional via a música negra ganhar força com Marvin Gaye, Curtis Mayfield, Stevie Wonder e James Brown. Jorge Ben, sem copiar modelos, dialogava naturalmente com esse universo, transformando seu Samba em algo universal. A produção, feita por Paulinho Tapajós, buscou uma sonoridade bem limpa e sofisticada, com arranjos tendo uma ótima base rítmica, sustentando o groove com naturalidade e precisão. O repertório é muito legal, e as canções são mais descontraídas e profundas. Enfim, é um belo disco e certamente brilhante. 

Melhores Faixas: Fio Maravilha, Morre O Burro, Fica O Homem, Taj Mahal, Domingo 23, Moça, Caramba!... Galileu Da Galileia 
Vale a Pena Ouvir: O Circo Chegou, As Rosas Eram Todas Amarelas

10 Anos Depois – Jorge Ben





















NOTA: 8,8/10


Se passa outro ano, e foi lançado outro disco, desta vez de reinterpretações: 10 Anos Depois. Após o Ben, ele decidiu fazer um álbum que revisitasse sua própria obra para celebrar a primeira década de carreira. Lançado pela Philips, o projeto marca um momento de síntese: em vez de apostar apenas em inéditas, Jorge decide regravar alguns de seus maiores sucessos, repaginando-os com a estética refinada que vinha desenvolvendo desde 1969. A produção foi conduzida por Paulinho Tapajós, que colocou arranjos de cordas e metais mais contidos e sofisticados, integrados à batida inconfundível do violão do Jorge e à base rítmica segura do Trio Mocotó. O clima do álbum é mais contemplativo, quase de antologia, com Jorge revisitando suas composições em versões maduras, polidas e muitas vezes menos cruas do que as originais. O repertório ficou muito bom, e as canções são todas em pot-pourri. No geral, é um ótimo disco e bastante divertido. 

Melhores Faixas: Por Causa De Vocë, Menina / Chove Chuva / Mas Que Nada, País Tropical / Fio Maravilha / Taj Mahal, A Minha Menina / Que Maravilha / Zazuiera 
Vale a Pena Ouvir: Bebete Vãobora / Crioula / Cadê Tereza

A Tábua De Esmeralda – Jorge Ben





















NOTA: 10/10


Indo para 1974, foi lançado seu excepcional 11º álbum, o lendário A Tábua de Esmeralda. Após 10 Anos Depois, todo o conceito desse trabalho, que vem do tema da alquimia, da ciência mística e do esoterismo, já havia aparecido discretamente em Ben (1972). Então, ele resolve expandir essa vertente a um nível conceitual, sendo um álbum que, ao mesmo tempo, celebra o misticismo hermético e mantém o olhar cotidiano de sempre. O título faz referência à lendária Tábua de Esmeralda, texto atribuído a Hermes Trismegisto, que sintetizaria os princípios da alquimia e da filosofia hermética. Produzido novamente por Paulinho Tapajós, que colocou cordas exuberantes, sopros precisos e percussão quente, mas tudo equilibrado para que o violão e a voz do Jorge permanecessem no centro, sendo bem direto e de uma riqueza instrumental absurda. O repertório é maravilhoso e praticamente uma coletânea. No final, é um baita disco, uma obra-prima essencial. 

Melhores Faixas: Os Alquimistas Estão Chegando Os Alquimistas, Magnólia, Menina Mulher Da Pele Preta, O Homem Da Gravata Florida (A Gravata Florida De Paracelso), Zumbi 
Vale a Pena Ouvir: Hermes Trismegisto E Sua Celeste Tábua De Esmeraldas, Eu Vou Torcer, O Namorado Da Viúva

Solta O Pavão – Jorge Ben





















NOTA: 9,6/10


Outro ano se passou, e Jorge Ben retorna lançando mais um disco, o Solta o Pavão. Após o clássico A Tábua De Esmeralda, que explorava temas místicos e alquímicos, Jorge buscava novas sonoridades. Nesse contexto, surgiu a banda Admiral Jorge V, composta por músicos como Dadi Carvalho (baixo), Gustavo Schroeter (bateria), João Roberto Vandaluz (piano) e Joãozinho Pereira (percussão). Essa formação trouxe uma abordagem mais elétrica e experimental ao seu som, marcando uma transição em sua carreira. Produzido pelo mesmo produtor de sempre, teve a introdução da guitarra elétrica por Jorge Ben, que até então utilizava apenas o violão. Essa mudança proporcionou uma sonoridade mais robusta e moderna, incorporando elementos do Rock à base rítmica tradicional do Samba. O repertório é muito bom, e as canções são bem divertidas e descontraídas. No geral, é um ótimo disco e foi mais percussivo. 

Melhores Faixas: Dorothy (participação da Evinha), Cuidado Com O Bulldog, Se Segura Malandro, O Rei Chegou, Viva O Rei, Zagueiro 
Vale a Pena Ouvir: Jorge De Capadócia, Assim Falou Santo Tomaz De Aquino, Jesualda

África Brasil – Jorge Ben





















NOTA: 9,9/10


Mais um ano se passou, e foi lançado outro álbum sensacional, intitulado África Brasil. Após o Solta o Pavão, Jorge Ben decidiu seguir por um caminho bem diferente: acabou largando seu querido violão e trocou-o pela guitarra elétrica, conectando-se de vez com sua banda de apoio Admiral Jorge V. Com isso, eles decidiram mergulhar em um som ainda mais experimental e com toques mais percussivos. A produção, conduzida por Marco Mazzola, resultou em uma sonoridade mais robusta e moderna, incorporando elementos do Rock e do Funk à base rítmica tradicional do samba. A banda Admiral Jorge V desempenhou um papel crucial, trazendo uma energia jovem, enquanto a percussão de Joãozinho Pereira manteve as raízes afro-brasileiras presentes na obra de Jorge. Além disso, há momentos em que se percebe a influência do Afoxé e do Soul psicodélico. O repertório é espetacular, e as canções são contagiantes e energéticas. No fim, é um baita disco e outro clássico. 

Melhores Faixas: Ponta De Lança Africano (Umbabarauma), Camisa 10 Da Gávea, Xica Da Silva, Taj Mahal, O Filósofo, Meus Filhos, Meu Tesouro 
Vale a Pena Ouvir: Hermes Trismegisto Escreveu, A História de Jorge

A Banda Do Zé Pretinho – Jorge Ben





















NOTA: 9/10


Pulando para 1978, foi lançado aquele que certamente foi o último grande álbum do cantor e que fechou um ciclo: A Banda do Zé Pretinho. Após o maravilhoso África Brasil, ele decidiu continuar com uma sonoridade moderna, mergulhando em sua fase mais experimental. Como já tinha abandonado o violão e começado a tocar guitarra elétrica, o caminho que quis trilhar foi o de um som mais festivo e descontraído. A produção, feita novamente por Paulinho Tapajós, manteve aquela sonoridade robusta e moderna, dialogando com as influências do Rock e do Funk, tudo isso com o uso de uma instrumentação bastante percussiva e encorpada. Além disso, o disco mostra uma energia contagiante e a capacidade de Jorge de criar músicas que convidam à dança e à celebração. Falando nisso, o repertório é muito legal, e as canções são divertidas e mais voltadas para o clima festivo. Enfim, é um disco incrível, que fechou sua fase de ouro. 

Melhores Faixas: Minha Estrela É Do Oriente, Amante Amado, A Banda Do Zé Pretinho, Menino Jesus De Praga, Denize Rei 
Vale a Pena Ouvir: Viva São Pedro, Cadê O Penalty

Salve Simpatia – Jorge Ben





















NOTA: 8,6/10


Então, chegando ao fim dos anos 70, Jorge Ben lançava mais um disco, o Salve Simpatia. Após A Banda do Zé Pretinho, o cantor estava em seu ápice, só que retorna com uma sonoridade mais Pop e acessível, já que naquele processo a música brasileira começava a precisar tocar nas rádios. Mesmo assim, ele manteve sua essência do Samba, com influências de Soul, Funk e Boogie. A produção, feita por Max Pierre, trouxe uma sonoridade bem polida e contou com arranjos do lendário (e ao mesmo tempo odiado pela crítica) Lincoln Olivetti, que utilizou cordas, metais e, claro, sintetizadores para criar um som mais voltado às pistas de dança, mas ainda preservando a energia contagiante de Jorge. O repertório é muito legal, e as canções são envolventes e mais profundas. Enfim, é um disco interessante, que mostra um lado mais ousado. 

Melhores Faixas: Salve Simpatia, Adelita 
Vale a Pena Ouvir: Boiadeiro, Menina Crioula, Ive Brussel (participação do Caetano Veloso)

Alô Alô, Como Vai? – Jorge Ben





















NOTA: 8/10


Entrando nos anos 80, Jorge Ben lança mais um trabalho, o Alô Alô, Como Vai?. Após o Salve Simpatia, o momento da música brasileira começou a se tornar padronizado para poder tocar nas rádios e, com isso, aquela sonoridade clássica de Jorge acabou tendo que ser sacrificada, já que ele precisou se adequar às normas da Som Livre. Mas isso não o desanimou, pois as influências do Boogie e do Funk eram de origem africana e faziam sucesso nos bailes black do Rio. A produção, feita mais uma vez por Max Pierre, seguiu praticamente a mesma linha, só que indo para um caminho ainda mais comercial. Com isso, Lincoln Olivetti e Robson Jorge tiveram mais liberdade nos arranjos, que ficaram bem mais dançantes e radiofônicos, com ótima percussão e uma instrumentação de Samba-rock bem decente. O repertório é bem legal, com canções divertidas e outras mais inocentes. No geral, é um disco interessante, apesar de sua falta de inovação. 

Melhores Faixas: Solitário Surfista, Lady Benedicta 
Vale a Pena Ouvir: Olha A Pipa, A Cegonha Me Deixou Em Madureira, Georgia E Jorge

Bem-Vinda Amizade – Jorge Ben





















NOTA: 8,2/10


No ano seguinte, foi lançado o seu 17º álbum de estúdio, o Bem-Vinda Amizade, que trouxe um pouco do seu lado característico. Após o Alô Alô, Como Vai?, que causou certa estranheza por parte da crítica, Jorge Ben percebeu que seu som havia ficado bem pasteurizado e, com isso, decidiu ainda seguir as influências que conquistavam as rádios, mas recolocando o seu Samba característico que marcou a MPB dos anos 70. A produção, feita por Guto Graça Mello, trouxe um som mais íntimo e também voltado para o lado dançante, com o uso de sintetizadores da época, mas se adequando ao seu Samba-rock característico. Além disso, contou com uma banda de apoio bem precisa, que deixou os arranjos variados, principalmente nas faixas mais próximas do Boogie. O repertório é muito bom, com canções descontraídas e outras mais reflexivas. Em suma, é um ótimo disco, que remete ao seu auge na década anterior. 

Melhores Faixas: Era Uma Vez Um Aposentado Marinheiro, O Dia Que O Sol Declarou O Seu Amor Pela Terra, Curumin Chama Cunhãtã Que Eu Vou Contar (Todo Dia Era Dia De Índio), Para Que Digladiar 
Vale a Pena Ouvir: Katarina, Katarina, Santa Clara Clareou
 

  Por hoje é só, então flw!!!  

Analisando Discografias - Jorge Ben Jor: Parte 3

                  Dádiva – Jorge Ben NOTA: 2,7/10 Dois anos se passaram, e Jorge Ben lançou mais um disco, intitulado Dádiva, e aqui tivemos...