domingo, 12 de outubro de 2025

Analisando Discografias - Belchior: Parte 1

                 

Belchior – Belchior





















NOTA: 9,8/10


Indo lá para 1974, Belchior lançava seu maravilhoso álbum de estreia autointitulado. O nosso querido Antônio Carlos Belchior, vindo de Sobral, no interior do Ceará, já havia conquistado certo reconhecimento em festivais universitários e programas de calouros, especialmente após vencer o IV Festival Universitário da Música Brasileira, em 1971, com uma certa música. Nesse período, foi formado um coletivo chamado Pessoal do Ceará, que contava com ele, Fagner, Ednardo e Amelinha. Com isso, ele teve a oportunidade de gravar seu álbum pela Chantecler. A produção, feita pelo cantor junto com Sidney Morais, foi relativamente simples e direta. O som é predominantemente acústico, com arranjos centrados em violões, percussões leves, sopros ocasionais e uma instrumentação enxuta que realça a voz e a palavra, lembrando influências do folk. O repertório é incrível, e as canções são todas bem profundas. No final, é um belo álbum de estreia e um clássico. 

Melhores Faixas: Na Hora Do Almoço (a música que ele venceu o festival), Mote E Glosa, Passeio, A Palo Seco, Senhor Dono Da Casa 
Vale a Pena Ouvir: Rodagem, Cemitério, Todo Sujo De Batom

Alucinação – Belchior





















NOTA: 10/10


Dois anos depois, Belchior lançou o atemporal e clássico 2º álbum dele, o Alucinação. Após o álbum de 1974, que foi um tanto ignorado na época, Belchior passou por um período de incertezas artísticas e pessoais. Com isso, ele passou a colaborar mais com Fagner, Ednardo e Amelinha. Estava, como sabemos, no período da ditadura militar, e havia uma juventude ansiosa por novas linguagens artísticas que refletissem as contradições do momento. O cantor, já amadurecido, decidiu então escrever letras críticas e confessionais. A produção, feita por Marco Mazzola e lançada pela PolyGram, soube dar forma à sonoridade única de Belchior. O resultado é um disco que mescla Folk, Rock, MPB e Blues, com arranjos sóbrios, mas cheios de nuances, incluindo guitarras elétricas, teclados e percussões discretas que situam o som num ambiente contemporâneo. O repertório é sensacional, é praticamente uma coletânea. Enfim, é uma obra-prima e um dos melhores álbuns da música brasileira. 

Melhores Faixas: Apenas Um Rapaz Latino Americano, Sujeito De Sorte, Como Nossos Pais, Velha Roupa Colorida, Alucinação, Fotografia 3x4 
Vale a Pena Ouvir: A Palo Seco, Não Leve Flores

Coração Selvagem – Belchior





















NOTA: 9,7/10


No ano seguinte, foi lançado o seu 3º álbum, o Coração Selvagem, que trouxe coisas novas. Após o clássico Alucinação, Belchior se viu numa posição ambígua: finalmente reconhecido nacionalmente, mas também pressionado a repetir o impacto artístico do disco anterior. Em meio a essa fama repentina, o artista sentia a necessidade de reafirmar sua autenticidade, e fugir da armadilha de ser apenas um porta-voz de uma geração desencantada. A produção foi feita novamente por Marco Mazzola, que trouxe um som mais elaborado e polido do que o anterior, com maior presença de instrumentos elétricos, teclados e arranjos orquestrais sutis. Há uma busca por um equilíbrio entre o violão característico do cantor e uma instrumentação mais rica, que abre espaço para camadas melódicas transitando entre Folk, Soft Rock e, claro, MPB. O repertório é ótimo, e as canções são belíssimas e todas cheias de sentimento. Enfim, é outro disco incrível, que mostrava sua versatilidade. 

Melhores Faixas: Coração Selvagem, Pequeno Mapa Do Tempo, Paralelas, Todo Sujo De Baton, Carisma 
Vale a Pena Ouvir: Populus, Caso Comum De Trânsito

Todos Os Sentidos – Belchior





















NOTA: 8/10


Indo para 1978, foi lançado mais um álbum dele, o Todos os Sentidos, que tentou ser mais modernizado. Após o Coração Selvagem, esse novo disco aparece num período em que o artista vinha alternando reflexões existenciais e canções mais próximas do cotidiano, e ao mesmo tempo experimentando arranjos com maior variedade tímbrica para ampliar o alcance sonoro de suas letras, além de entrar nas tendências que viriam a se tornar padrão no início dos anos 80. A produção foi feita, como sempre, por Marco Mazzola, e equilibrava a economia instrumental característica das obras autorais do cantor com pequenas ambições de textura: há violões e voz em evidência, mas também percussões e sintetizadores, até porque quem arranjou isso aqui foi Lincoln Olivetti, então há algumas influências de Disco e Soft Rock. O repertório é até interessante, tendo ótimas canções e outras bem descartáveis. No geral, é um trabalho bom, apesar de ter algumas falhas. 

Melhores Faixas: Divina Comédia Humana, Como Se Fosse Marcado, Sensual 
Piores Faixas: Ter Ou Não Ter, Corpos Terrestres, Até à Manhã

Era Uma Vez Um Homem E O Seu Tempo – Belchior





















NOTA: 10/10


Entrando no final dos anos 70, foi lançado outro álbum fenomenal, o Era uma Vez um Homem e o Seu Tempo. Após o Todos os Sentidos, àquela altura, havia uma expectativa de que Belchior mantivesse a força poética, a densidade existencial e o equilíbrio entre reflexão e melodia que vinham sendo sua marca, e quem sabe retornasse à sonoridade que o consolidou. Vale lembrar que, nesse período, ele ainda estava com uma grande gravadora, a Warner, já pelos seus últimos dois trabalhos. A produção, feita por Guti Carvalho, é bem refinada e bastante melódica, com uma sonoridade que realça a voz e o violão de Belchior, tudo isso transitando entre MPB e Folk Rock, de forma bem pacífica e com arranjos intimistas. Lincoln Olivetti e Robson Jorge também participaram da produção, mas, no geral, tudo é bem consistente. O repertório é maravilhoso, e as canções são belíssimas e profundas. Em suma, é um baita disco e mais uma obra-prima. 

Melhores Faixas: Tudo Outra Vez, Mêdo De Avião, Comentário A Respeito De John, Espacial, Brasileiramente Linda, Retórica Sentimental 
Vale a Pena Ouvir: Meu Cordial Brasileiro, Pequeno Perfil De Um Cidadão Comum

Objeto Direto – Belchior





















NOTA: 4/10


Entrando nos anos 80, Belchior lançava seu 6º álbum de estúdio, o Objeto Direto. Após o Era uma Vez um Homem e o Seu Tempo, Belchior mostrava que sua discografia vinha demonstrando uma evolução poética e sonora contínua, e ele se colocava numa encruzilhada: manter sua identidade literária forte sem deixar de atender às demandas de produção do mercado musical que evoluía, já que a maioria dos medalhões da MPB teve de se adaptar à pasteurização sonora para poder tocar nas rádios. A produção, conduzida novamente por Guti Carvalho, tentou dar equilíbrio à sonoridade mais refinada que caracterizava os últimos trabalhos. Com isso, tudo é mais polido, chegando a flertar com um lado quase progressivo em alguns momentos, mas deixando também muitas irregularidades, principalmente na questão do ritmo. O repertório é fraco, com canções pouco inspiradas e apenas algumas interessantes. No geral, é um trabalho irregular e com pouca coesão. 

Melhores Faixas: Objeto Direto, Ypê, Seixo Rolado 
Piores Faixas: Jóia De Jade, Mucuripe, Cuidar do Homem

Paraíso – Belchior





















NOTA: 6/10


Se passaram dois anos para o Belchior retorna com outro disco bem fraquinho, o Paraíso. Após o Objeto Direto, ele começou meio que revisitar sua produção, relendo temas, trabalhando com arranjos menos “riscados” e investindo em alguma leveza melódica sem claro, abandonar seu viés introspectivo. Até porque ele não tava querendo fazer parte das tendências que solavam a música brasileira naquele período ficando assim bem reservado até mesmo para o show business. Produção foi aquela de sempre, foi como sempre bem refinada so que indo para um caminho bem mais orgânico e quente, indo para um lado que mergulhava bem mais naquela essência que foi a MPB na década anterior, só que com elementos modernos como sintetizadores e guitarras elétricas, mas com muitas irregularidades e com um som bem previsível. O repertório é bem mediano, tem canções legais e outras bem sem energia. No geral, é um trabalho irregular e faltando complemento. 

Melhores Faixas: Má, Ela, Bela 
Piores Faixas: Paraíso, Monólogo Das Grandezas Do Brasil, Rima Da Prosa


        Então é isso, um abraço e flw!!!              

Analisando Discografias - Belchior: Parte 1

                  Belchior – Belchior NOTA: 9,8/10 Indo lá para 1974, Belchior lançava seu maravilhoso álbum de estreia autointitulado. O no...