quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Analisando Discografias - Madlib: Parte 1

                 

The Unseen – Quasimoto





















NOTA: 9,8/10


Voltando para o início dos anos 2000, quando Madlib lançava, sob o nome de Quasimoto, o álbum The Unseen. Madlib ganhava influência no underground californiano, obcecado por Jazz, Funk obscuro, trilhas de filmes e gravações em fita, ele não queria só produzir beats para MCs, buscava criar um universo próprio. Dessa inquietação nasceu Quasimoto, seu alter-ego de voz aguda (obtida ao acelerar seus vocais), que representa sua faceta mais livre: paranoico, debochado e improvisador. A produção foi feita usando MPC, SP-303, sampler de vinil e gravações toscas em fita cassete, tudo propositalmente Lo-fi. Os beats parecem colagens vivas: trechos de bateria orgânica, breaks curtíssimos, samples de vibrafone, trompetes “errados”, arranhões de vinil, microdiálogos, dando um charme nessa junção de Jazz Rap e Boom Bap, em um Rap bastante abstrato. O repertório é incrível, e as canções são divertidas e ao mesmo tempo reflexivas. No final, é um belo álbum e um clássico. 

Melhores Faixas: Low Class Conspiracy, Microphone Mathematics, Real Eyes, Boom Music, Return Of The Loop Digga, Astro Black, Axe Puzzles 
Vale a Pena Ouvir: The Unseen, MHBs, Bad Character, Come On Feet, Green Power

Shades Of Blue – Madlib





















NOTA: 10/10


Então se passaram três anos e foi lançado o álbum Shades of Blue do Madlib, um trabalho bastante ousado. Após o lançamento do The Unseen, ele já havia demonstrado forte ligação com o Jazz, tanto pelo seu pai (cantor de Soul) quanto pelo tio (trompetista de Jazz). Nesse período, a histórica gravadora Blue Note Records enxergou a possibilidade de renovar seu catálogo e apresentar sua herança musical para uma nova geração. Surge então um projeto ousado: liberar seus arquivos de master para que um produtor de Rap reinterpretasse seus clássicos. A produção foi feita basicamente com MPCs e samplers analógicos, mantendo muito do ruído e textura original das gravações para preservar seu espírito. Em vez de apenas fazer beats de Rap sobre Jazz, ele cria novas obras híbridas, onde o Jazz lidera e o Hip-Hop completa a estrutura. Refletindo em um repertório maravilhoso que soa até como uma coletânea. Enfim, é um álbum incrível e uma obra-prima. 

Melhores Faixas: Stepping Into Tomorrow, Distant Land, Montara, Please Set Me At Ease, Stormy 
Vale a Pena Ouvir: Funky Blue Note, Song For My Father, Mystic Bounce

The Further Adventures Of Lord Quas – Quasimoto





















NOTA: 8,8/10


Então se passaram dois anos para que fosse lançado o 2º e último álbum como Quasimoto, o The Further Adventures of Lord Quas. Após os fantásticos Shades of Blue e Madvillainy com MF DOOM, Madlib viu seu alter ego Quasimoto ganhar status cult na cena underground. O personagem representava um lado mais livre, caótico e inconformado do artista, uma espécie de consciência chapada, infantil e violenta que dizia o que ele, como produtor, não dizia. E, diante de tantos problemas da sociedade, foi o momento ideal para trazer o personagem de volta. A produção segue a estética de sempre: MPC, SP-303, samplers de vinil, baterias tocadas à mão e inúmeros trechos de filmes de blaxploitation, animações, policiais e fitas de VHS antigas. Tudo é acelerado, colado e destruído de modo propositalmente sujo, levando o som a um caminho ainda mais experimental. O repertório é bem extenso, mas com ótimas faixas. Enfim, é um trabalho excelente e uma despedida coesa. 

Melhores Faixas: Closer (MF Doom aparece aqui), Bus Ride, J.A.N. (Jive Ass Niggaz), Mr. Two-Faced, The Exclusive, Don’t Blink 
Vale a Pena Ouvir: Life Is..., Players Of The Game, Bullshit, Crime

Vol. 1: Movie Scenes – Beat Konducta (Madlib)





















NOTA: 8/10


Meses depois, Madlib, sob o nome Beat Konducta, lançava um de seus vários álbuns instrumentais, sendo este o primeiro da série. Após o lançamento de The Further Adventures of Lord Quas, ele já era reconhecido como um dos produtores mais inventivos da música negra contemporânea. A Stones Throw, ciente de sua habilidade narrativa, lançou em 2006 o primeiro volume da série Beat Konducta, concebida como um laboratório sonoro onde Madlib cria beats como se fossem cenas de filmes que não existem, ou melhor, filmes imaginados dentro da própria mente dele. A produção utiliza samples de trilhas de cinema obscuro, Funk dos anos 70, Soul psicodélico, diálogos de filmes antigos, programas de rádio e arranjos orquestrais “danificados” com textura de fita. Os beats são sujos, com chiados propositais e cortes bruscos que lembram edição de película. O repertório, apesar de extenso, possui faixas curtas e que são bem peculiares. Enfim, é um começo que foi bem interessante. 

Melhores Faixas: Left On Silverlake (Ride), Tape Hiss (Dirty) 
Vale a Pena Ouvir: Pyramids (Change), Face The Sun (Africa), The Payback (Gotta)

Vol. 2: Movie Scenes – Beat Konducta (Madlib)





















NOTA: 8,2/10


No ano seguinte, ele retorna com a continuação dessa série, mostrando ainda mais variações. Após o Volume 1, este novo trabalho foca ainda mais na estética solta e esotérica, com faixas curtas, fragmentadas e cheias de textura Lo-fi. É Madlib experimentando a narrativa musical sem precisar de palavras, uma sequência que aprofunda ainda mais o universo iniciado no Volume 1. A produção é a mesma, mas mantém um toque orgânico e propositalmente sujo. Jazz obscuro, Soul esquecido e trilhas de filmes vintage se entrelaçam, mas aqui o foco está mais no clima dramático e misterioso, algo que lembra cenas de perseguição, romance noir, lutas em vielas iluminadas por neon e closes carregados de tensão. O repertório é um pouquinho maior e traz canções densas, bastante atmosféricas. No geral, é uma ótima continuação e mais variada. 

Melhores Faixas: Chopstyle (Suey Blast), Snake Charmer (Heads Up), Filthy (Untouched)
Vale a Pena Ouvir: Outer Limit (Space Ho), Old Age (Youngblood), West Zone (Coastin')
  

               Então é isso e flw!!!          

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