domingo, 27 de outubro de 2024

Analisando Discografias - Racionais MC's: Parte 1

                  

Escolha o Seu Caminho – Racionais MC’s





















NOTA: 7/10


Dois anos após lançarem seu 1º EP, os Racionais lançaram o 2º, intitulado Escolha o Seu Caminho. Após o lançamento do Holocausto Urbano em 1990, com este novo projeto, eles queriam reafirmar seu compromisso com temas sociais, especialmente focando na vivência e resistência da população negra nas periferias. Esse período marcou uma fase de conscientização crescente entre artistas urbanos, e os Racionais rapidamente se tornaram porta-vozes das comunidades marginalizadas do Brasil, embora ainda estivessem em um nicho bem pequeno, transitando entre as favelas das zonas norte e sul de São Paulo. A produção foi feita por eles mesmos e o EP foi distribuído pelo selo Zimbabwe Records, apresentando um som cru e direto, característico do início do rap brasileiro. A produção musical é minimalista, destacando as letras poderosas e o impacto da mensagem dos MCs. Nesta fase, eles ainda seguiam uma estética mais próxima do hip-hop tradicional, sem a profundidade que se consolidaria nos trabalhos seguintes. O repertório contém quatro faixas: na verdade, duas canções principais, com Voz Ativa aparecendo em três versões. A versão a capela é a mais fraca devido a mixagem, enquanto as versões de rádio e de baile se destacam por uma ótima melodia. A outra faixa, Negro Limitado, reforça a proposta da canção anterior ao abordar a resistência negra, mesmo diante as dificuldades. Enfim, este trabalho é muito bom e, junto com o anterior, foi apenas um pontapé inicial para tudo que estava por vir.

Raio X Brasil – Racionais MC’s 





















NOTA: 8,8/10


No ano seguinte, em 1993, os Racionais lançaram seu álbum de estreia, intitulado Raio X Brasil. Após o impacto inicial com os EPs Escolha Seu Caminho e Holocausto Urbano, o grupo se destacou como a voz das periferias paulistanas, abordando temas como violência policial, racismo, pobreza e desigualdade social. Com esse disco, eles buscaram ampliar ainda mais seu alcance, entregando letras mais elaboradas e críticas afiadas sobre a realidade urbana e os dilemas enfrentados pela população negra marginalizada. Além disso, o álbum marcou o início de uma transição do Rap como um gênero underground para uma plataforma de denúncia social que começou a ser mais amplamente reconhecida. A produção foi dividida entre Newton Carneiro, Wander e os próprios integrantes do grupo. O álbum traz samples orgânicos de Soul, Funk e, claro, Rap, criando uma sonoridade envolvente com letras incisivas, além de revelar a complexidade das produções instrumentais, evidenciando o amadurecimento deles enquanto produtores. O repertório é maravilhoso. Além de contar com uma faixa de introdução e encerramento, as canções se dividem entre algumas envolventes, como Fim de Semana no Parque e Parte II, e outras mais reflexivas, como Mano na Porta do Bar, Júri Racional e o clássico Homem na Estrada, que aborda a luta de um ex-presidiário tentando recomeçar sua vida. Em suma, é um ótimo disco de estreia e que marcou o início da expansão da popularidade do grupo.

Sobrevivendo no Inferno – Racionais MC’s 





















NOTA: 10/10


E aí, quatro anos se passam, e os Racionais lançam o antológico Sobrevivendo no Inferno, que mudou tudo na carreira deles. Após o Raio X Brasil, esse novo trabalho surge em um contexto de violência estrutural contra a juventude negra e marginalização socioeconômica das periferias urbanas, especialmente São Paulo. O álbum se insere nesse cenário como uma crônica da sobrevivência em um ambiente opressivo, metaforizado como "inferno" nas letras, além de eles começarem a trazer referências a textos bíblicos, mesclando fé, violência e esperança. A produção foi conduzida por eles mesmos, junto com Gertz Palma, e traz uma sonoridade que reflete o clima pesado e melancólico das letras, utilizando baixos profundos e instrumentais lentos para intensificar a narrativa. Essa escolha estética permite que o ritmo se harmonize com as letras longas e densas, mantendo as mesmas influências de samples. O repertório é magnífico; tudo aqui é perfeito, incluindo os interlúdios e a faixa Salve, mas os destaques são, certamente, a pesadíssima Capítulo 4, Versículo 3, a esperançosa Mágico de Oz, o belo cover de Jorge da Capadócia, do Jorge Ben Jor, além da profunda história de Tô Ouvindo Alguém Me Chamar, envolvendo Guina e esse "mano" à beira da morte. E claro, Diário de um Detento, baseada nos relatos de Jocenir, um dos sobreviventes do Massacre do Carandiru. No fim, esse disco é maravilhoso e um verdadeiro clássico da música brasileira.

 

Por hoje é só, um abraço e flw!!!

Analisando Discografias - ††† (Croses)

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