quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Review: Never Mind The Bollocks, Here’s The Sex Pistols do Sex Pistols

                    

Never Mind The Bollocks, Here’s The Sex Pistols – Sex Pistols





















NOTA: 10/10


Em 1977, o Sex Pistols lançava seu 1º e único álbum de estúdio, intitulado Never Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols (o título gigante). A banda, liderada por Johnny Rotten, junto com o guitarrista Steve Jones e o baterista Paul Cook, além de Sid Vicious e Glen Matlock, que também fizeram parte, surgiu em um momento em que o Reino Unido atravessava uma crise econômica profunda e um cenário de descontentamento social, o que fez do Sex Pistols um dos líderes do Punk britânico. A produção, feita por Chris Thomas e Bill Price, é totalmente crua e direta, o que se transmite nas letras críticas. O álbum apresenta um repertório fantástico, com várias canções sensacionais, mas, infelizmente, a banda chegou ao fim devido a conflitos internos. Em suma, é um disco maravilhoso e certamente um dos melhores de todos os tempos. 

Melhores Faixas: Holidays In The Sun, God Save The Queen, Anarchy In The UK, Pretty Vacant 
Vale a pena ouvir: No Feelings, Seventeen, EMI

                                                         Então é isso e flw!!! 

Review: Caça Fantasma, Vol. 1 do DJ Ws da Igrejinha

                    

Caça Fantasma, Vol. 1 – DJ Ws da Igrejinha























NOTA: 5,2/10


No ano passado, o DJ Ws da Igrejinha lançou seu álbum de estreia, intitulado Caça Fantasmas, Vol. 1. O Ws, que está no cenário do Funk desde 2016, demorou para se consolidar graças a alguns singles como Não É Tik Tok, Set DJ Ws da Igrejinha, Vou Fuder Teu Batalhão, entre outros. Esse álbum foi produzido por ele mesmo e traz uma estética única e obscura, simbolizada pela combinação de sons pesados e temas envolventes das MTGs. O repertório inclui algumas canções boas, mas é bastante mediano; além disso, está muito mal ordenado. As participações de L7NNON, Gordão do PC e DJ Scar são razoáveis, enquanto outras são simplesmente pavorosas. No final de tudo, é um disco razoável, mas que demonstra vários erros em sua concepção. 

Melhores Faixas: Pelos Acessos, Noite de Conflito, O Famoso Mete Bala, Mtg Penteada Violenta, Medley pra Igrejinha 
Piores Faixas: Vem Novinha, Faixa Rosa, Mtg Olha a Cobra, 1 2 3

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Review: Dos Prédios Deluxe do Veigh

                    

Dos Prédios Deluxe – Veigh





















NOTA: 9,6/10


Logo no ano seguinte ao lançamento de seu álbum de estreia, Veigh rapidamente lançou a versão deluxe do Dos Prédios. Após o sucesso da versão original, que deu bastante visibilidade ao rapper, ele decidiu trazer material inédito. A produção é novamente diversificada, com nomes como Nagalli e Bvga Beatz, entre outros, garantindo beats de alta qualidade. Toda a sonoridade é bem cadenciada, desde Drill, Plug e afins, compondo assim um excelente repertório. As feats que mais se destacam são Derek, L7nnon e Tz da Coronel. No final, é um trabalho sensacional que conseguiu superar a versão original.

Melhores Faixas: Novo Balaço, Engana Dizendo Que Ama, Clickbait 
Vale a pena ouvir: Hora Errada, Tendenciosa, Detalhes

                                                         Então é isso e flw!!!

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Review: Ritmo das Comunidades, Vol. 1 do DJ Viana

                   

Ritmo das Comunidades, Vol.1 – DJ Viana





















NOTA: 2/10


No ano passado, o DJ Viana lançou de forma totalmente despercebida seu álbum de estreia, intitulado Ritmo das Comunidades (VOLUME 1 POR SINAL). O funkeiro, que começou sua carreira com extremas dificuldades, conseguiu consolidar um relativo sucesso com seus singles Vem Viciada em Glock Camuflada e É de Bandido Que Elas Gostam. Esse trabalho surge como uma celebração das raízes dos bailes e da cultura periférica, seguindo a tendência de outros DJs e aproveitando a grande popularidade das MTGs, que estavam conquistando um espaço nacionalmente. A produção, feita pelo próprio Viana, aposta em batidas marcantes com uma forte presença de graves e ritmos acelerados, típicos do brega-funk, mas com a intensidade característica das MTGs. Ele tentou utilizar efeitos minimalistas para dar destaque às linhas vocais. O problema, no entanto, é que tudo é muito tematizado e sem qualquer coesão nos arranjos, conectando-se apenas com os consumidores mais ocasionais. O repertório é totalmente pavoroso e extremamente mal-ordenado (algo comum entre essa geração de funkeiros). A única canção boa é Ele Para e Repara, que apresenta ótimos feats; já o restante é totalmente genérico e sem sentido, com exemplos como Mega Pros Dançarinos, Vou Traficar e MTG – Fica Empinada Pedindo Que Bota, que funcionam como um verdadeiro tutorial de como não fazer uma MTG. Enfim, este trabalho é horroroso e completamente sem graça.

                                                Então é isso, um abraço e flw!!!

Analisando Discografias - Racionais MC's: Parte 3

                   

Cores & Valores – Racionais MC’s





















NOTA: 8,5/10


Depois de um período de 12 anos, os Racionais retornam com o seu último álbum até o momento, o Cores & Valores. Após o lançamento do Nada Como Um Dia Após o Outro Dia, os integrantes seguiram caminhos individuais, e a expectativa por um novo trabalho era alta entre os fãs. Durante esse período, a cena do Rap nacional passou por transformações, com o surgimento de várias tendências, como o Boom bap, além da centralização do Rap, sendo especificamente entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Essas mudanças trouxeram uma pressão adicional sobre o grupo, que precisava manter sua relevância em um novo cenário musical. A produção do álbum foi diversificada. Além dos próprios integrantes do grupo, contou com nomes como DJ Cia e William Magalhães, entre outros. O trabalho foi gravado no Estúdio Maraca, em São Paulo, e finalizado em Nova York. A sonoridade adota uma estética moderna, incluindo influências do Trap e Miami bass, fugindo daquelas longas narrativas presente nos trabalhos anteriores, que agora combinava batidas minimalistas com mensagens diretas. O repertório é muito bom e traz várias canções interessantes, como as quatro primeiras faixas, O Mau e o Bem e Eu Te Proponho, mas as que mais se destacam são Preto Zica, A Praça, as críticas em Você Me Deve e Eu Compro. A única faixa mais extensa, com 5 minutos de duração, é O Mal e o Bem, que é muito boa. No final de tudo, é um ótimo disco, apesar de ter sido bastante menosprezado pelos fãs.
 

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Analisando Discografias - Racionais MC's: Parte 2

                   

Nada Como um Dia Após o Outro Dia – Racionais MC’s 





















NOTA: 10/10


Após um grande intervalo sem nenhum lançamento novo, o Racionais lança o atemporal Nada Como um Dia Após o Outro Dia, depois de quase cinco anos desde Sobrevivendo no Inferno, um marco na história do Rap nacional e da cultura periférica. Durante esse período, o grupo passou por momentos de tensão, lidando com a violência em seus shows e refletindo sobre como evoluir artisticamente sem perder a conexão com suas raízes e com o público das favelas. O contexto social brasileiro era de transição, com o início do governo Lula, que representava uma esperança para a população mais pobre, mas a desigualdade social e a violência urbana ainda marcavam profundamente o cotidiano das periferias. A produção, feita por eles mesmos, é sofisticada e diversa. Com beats influenciados pelo G-Funk da Costa Oeste americana, há adaptações para a realidade brasileira. KL Jay, em particular, utilizou samples de Soul, Jazz, Funk e MPB. Como as narrativas são densas e introspectivas, as batidas precisam ser lentas e cadenciadas, já que o Mano Brown e Edi Rock continuam seguindo a linha do álbum anterior, com aquela abordagem de recitar invés de cantar. O repertório é impecável, nem vou me estender falando sobre cada uma, mas as que mais se destacam são Vida Loka (tanto a parte 1 quanto a 2), Negro Drama, Eu Sou 157, Jesus Chorou, Expresso da Meia-Noite e A Vida É Desafio. No fim, esse trabalho é fantástico e, juntamente com seu antecessor, configura-se como uma verdadeira obra-prima.
 

                                                       Então é isso e flw!!!  

domingo, 27 de outubro de 2024

Analisando Discografias - Racionais MC's: Parte 1

                  

Escolha o Seu Caminho – Racionais MC’s





















NOTA: 7/10


Dois anos após lançarem seu 1º EP, os Racionais lançaram o 2º, intitulado Escolha o Seu Caminho. Após o lançamento do Holocausto Urbano em 1990, com este novo projeto, eles queriam reafirmar seu compromisso com temas sociais, especialmente focando na vivência e resistência da população negra nas periferias. Esse período marcou uma fase de conscientização crescente entre artistas urbanos, e os Racionais rapidamente se tornaram porta-vozes das comunidades marginalizadas do Brasil, embora ainda estivessem em um nicho bem pequeno, transitando entre as favelas das zonas norte e sul de São Paulo. A produção foi feita por eles mesmos e o EP foi distribuído pelo selo Zimbabwe Records, apresentando um som cru e direto, característico do início do rap brasileiro. A produção musical é minimalista, destacando as letras poderosas e o impacto da mensagem dos MCs. Nesta fase, eles ainda seguiam uma estética mais próxima do hip-hop tradicional, sem a profundidade que se consolidaria nos trabalhos seguintes. O repertório contém quatro faixas: na verdade, duas canções principais, com Voz Ativa aparecendo em três versões. A versão a capela é a mais fraca devido a mixagem, enquanto as versões de rádio e de baile se destacam por uma ótima melodia. A outra faixa, Negro Limitado, reforça a proposta da canção anterior ao abordar a resistência negra, mesmo diante as dificuldades. Enfim, este trabalho é muito bom e, junto com o anterior, foi apenas um pontapé inicial para tudo que estava por vir.

Raio X Brasil – Racionais MC’s 





















NOTA: 8,8/10


No ano seguinte, em 1993, os Racionais lançaram seu álbum de estreia, intitulado Raio X Brasil. Após o impacto inicial com os EPs Escolha Seu Caminho e Holocausto Urbano, o grupo se destacou como a voz das periferias paulistanas, abordando temas como violência policial, racismo, pobreza e desigualdade social. Com esse disco, eles buscaram ampliar ainda mais seu alcance, entregando letras mais elaboradas e críticas afiadas sobre a realidade urbana e os dilemas enfrentados pela população negra marginalizada. Além disso, o álbum marcou o início de uma transição do Rap como um gênero underground para uma plataforma de denúncia social que começou a ser mais amplamente reconhecida. A produção foi dividida entre Newton Carneiro, Wander e os próprios integrantes do grupo. O álbum traz samples orgânicos de Soul, Funk e, claro, Rap, criando uma sonoridade envolvente com letras incisivas, além de revelar a complexidade das produções instrumentais, evidenciando o amadurecimento deles enquanto produtores. O repertório é maravilhoso. Além de contar com uma faixa de introdução e encerramento, as canções se dividem entre algumas envolventes, como Fim de Semana no Parque e Parte II, e outras mais reflexivas, como Mano na Porta do Bar, Júri Racional e o clássico Homem na Estrada, que aborda a luta de um ex-presidiário tentando recomeçar sua vida. Em suma, é um ótimo disco de estreia e que marcou o início da expansão da popularidade do grupo.

Sobrevivendo no Inferno – Racionais MC’s 





















NOTA: 10/10


E aí, quatro anos se passam, e os Racionais lançam o antológico Sobrevivendo no Inferno, que mudou tudo na carreira deles. Após o Raio X Brasil, esse novo trabalho surge em um contexto de violência estrutural contra a juventude negra e marginalização socioeconômica das periferias urbanas, especialmente São Paulo. O álbum se insere nesse cenário como uma crônica da sobrevivência em um ambiente opressivo, metaforizado como "inferno" nas letras, além de eles começarem a trazer referências a textos bíblicos, mesclando fé, violência e esperança. A produção foi conduzida por eles mesmos, junto com Gertz Palma, e traz uma sonoridade que reflete o clima pesado e melancólico das letras, utilizando baixos profundos e instrumentais lentos para intensificar a narrativa. Essa escolha estética permite que o ritmo se harmonize com as letras longas e densas, mantendo as mesmas influências de samples. O repertório é magnífico; tudo aqui é perfeito, incluindo os interlúdios e a faixa Salve, mas os destaques são, certamente, a pesadíssima Capítulo 4, Versículo 3, a esperançosa Mágico de Oz, o belo cover de Jorge da Capadócia, do Jorge Ben Jor, além da profunda história de Tô Ouvindo Alguém Me Chamar, envolvendo Guina e esse "mano" à beira da morte. E claro, Diário de um Detento, baseada nos relatos de Jocenir, um dos sobreviventes do Massacre do Carandiru. No fim, esse disco é maravilhoso e um verdadeiro clássico da música brasileira.

 

Por hoje é só, um abraço e flw!!!

Analisando Discografias - A Bolha: Parte 2

                   

É Proibido Fumar – A Bolha





















NOTA: 9,8/10


Quatro anos depois, A Bolha lançou seu 2º álbum, o maravilhoso É Proibido Fumar, que trouxe várias novidades. Após o álbum de estreia, a banda carioca passou por uma mudança na formação, com a entrada de Roberto Ly no baixo e Sérgio Herval na bateria. Além disso, incorporaram mais um guitarrista, Marcelo Sussekind. Com essa nova configuração, decidiram incorporar influências dos tempos da Jovem Guarda, fruto do período em que excursionaram com Erasmo Carlos. A banda vivia uma fase de amadurecimento que consolidou sua sonoridade. A produção do álbum foi conduzida por Pedro da Luz e lançada pelo selo Polydor. A sofisticação dos arranjos trouxe uma fusão de elementos experimentais. A nova sonoridade foi muito mais influenciada pelo Hard Rock e Samba Rock, deixando de lado parte das influências do Rock Progressivo, embora ainda presentes em alguns momentos. O repertório é simplesmente fantástico, com diversas canções belíssimas como Deixe Tudo de Lado, Sai do Ar, Consideração e Luzes da Cidade. Destaque também para os maravilhosos covers de Vem Quente Que Eu Estou Fervendo do próprio Erasmo e, claro, É Proibido Fumar do Roberto Carlos, que conseguiu ser ainda melhor que o original. Após esse trabalho, a banda chegou ao fim, e seus integrantes seguiram para outros projetos, como Sérgio Herval no Roupa Nova e Pedro Lima no Herva Doce. No fim, esse disco é sensacional e um clássico do Rock nacional.

É Só Curtir – A Bolha 





















NOTA: 8,7/10


Após quase 30 anos sem lançar absolutamente nada, a banda carioca lançou o É Só Curtir, seu último trabalho. Depois que encerrou suas atividades, a banda voltou a se reunir em meados dos anos 2000, motivada pela participação no filme 1972, de José Emílio Rondeau. Renato Ladeira apresentou algumas músicas que haviam sido censuradas no início dos anos 70, e o diretor se interessou. Então, ele chamou seus antigos companheiros de banda para gravarem essas músicas para o filme. Essa colaboração e a nostalgia culminaram nesse disco, refletindo um reencontro entre a banda e seu passado musical. A produção foi feita pelo próprio Arnaldo Brandão, e o álbum foi lançado pela gravadora Som Livre. Desta vez, a sonoridade mistura a estética dos anos 70 com uma produção mais moderna, alinhando influências de artistas consagrados e composições próprias. O som é dominado por Hard Rock, mas com muitas influências de Rock Progressivo, tornando esse trabalho quase uma releitura do álbum de estreia. O repertório é novamente muito bom, com várias canções interessantes, como a faixa-título, Sem Nada e Cecília, além de músicas maravilhosas como Não Sei, Rosas e um belíssimo cover de Cinema Olímpia, do Caetano Veloso. O álbum também inclui a faixa de 11 minutos intitulada Desligaram Os Meus Controles, claramente inspirada no Pink Floyd. No fim, é um ótimo disco que encerrou a trajetória da banda de forma digna.
  

sábado, 26 de outubro de 2024

Analisando Discografias - A Bolha: Parte 1

                   

Um Passo A Frente – A Bolha





















NOTA: 9,2/10


No mesmo ano do lançamento daquele álbum autointitulado dos Tincoãs, a banda carioca A Bolha lançava seu trabalho de estreia, Um Passo à Frente. Inicialmente chamada de The Bubbles, a banda nasceu tocando covers de rock no final dos anos 60. A trajetória deles foi influenciada tanto pela cena nacional quanto pelas transformações internacionais. Antes de lançar seu primeiro LP, a banda já havia se consolidado no circuito underground e colaborado com artistas como Gal Costa e Raul Seixas. Então, os integrantes Pedro Lima, Renato Ladeira, Lincoln Bittencourt e Gustavo Schroeter decidiram fazer uma tentativa ambiciosa de inserir-se no movimento do Rock progressivo, que florescia globalmente. O álbum foi produzido por Ramalho Neto e lançado pelo selo da gravadora Continental. Eles trouxeram a estética do Rock progressivo da época, com longas faixas instrumentais e complexidade musical. O álbum destaca arranjos elaborados, passagens psicodélicas e experimentações com ritmos brasileiros. Elementos como órgãos e guitarras distorcidas predominam, em um claro diálogo com bandas como Pink Floyd e Yes. O repertório é magnífico, com muitas canções interessantes, como a faixa-título e a maravilhosa A Esfera, apesar de sua longa duração. Além disso, faixas como Epitáfio e Tempos Constantes trazem belas melodias em seus arranjos. Em suma, é um disco maravilhoso, apesar de não ter vendido quase nada.
 

                                                       Então é isso e flw!!! 

Analisando Discografias - Os Tincoãs: Parte 3

                  

O Africanto dos Tincoãs – Os Tincoãs





















NOTA: 9/10


Dois anos se passam, e Os Tincoãs lançam seu 3º álbum de estúdio, o Africanto dos Tincoãs. Após o monumental álbum autointitulado lançado em 1975, Heraldo faleceu de forma inesperada, surpreendendo os outros dois integrantes. Eles haviam acabado de gravar a faixa Banzo para a trilha sonora da novela Escrava Isaura. Para manter a formação de trio, Morais entrou na banda, mas permaneceu por pouco tempo; logo, Badu o substituiu. Neste novo trabalho, o grupo decidiu elevar ainda mais a herança africana, propondo uma fusão entre reverência espiritual e arte popular, reforçando uma identidade negra e ancestral. Com produção de Carlos Guarany, o álbum foi gravado de forma simples e minimalista, destacando vozes e percussões orgânicas, criando uma atmosfera que evoca os terreiros de candomblé e as rodas de samba. A gravação prioriza os timbres vocais dos integrantes, com harmonizações precisas e melancólicas. Os instrumentos predominantes incluem atabaques, agogôs e caxixis, usados em ritmos sincopados que sugerem não apenas o samba, mas também o ijexá e outros ritmos tradicionais de matriz africana. O repertório é mais uma vez excelente, trazendo grandes canções como Promessa ao Gantois e as envolventes Sereia e Anita. No entanto, as faixas que mais se destacam pela beleza de suas melodias são Dora, Salmo, Canto e Danço Prá Curar e Ogum Pai. Em suma, é um disco maravilhoso, apesar de o grupo atravessar um período conturbado.

Os Tincoãs (1977) – Os Tincoãs 





















NOTA: 9,4/10


Mais um tempo se passa, e Os Tincoãs lançam seu 4º trabalho, novamente autointitulado (algo comum naquela época). Após o sucesso de O Africanto dos Tincoãs, eles se consolidavam ainda mais como um dos grupos mais importantes da música brasileira ao conectar as tradições afro-brasileiras com a música popular. Este álbum foi lançado em um momento de amadurecimento da identidade musical do grupo. As canções não apenas celebram orixás e rituais, mas falam também de temas universais, como o amor e o sofrimento, sempre envoltos em uma atmosfera de devoção e espiritualidade. A produção foi feita por Durval Ferreira, seguindo uma linha semelhante à do trabalho anterior, com uma abordagem minimalista que valoriza as vozes e a percussão tradicional. Desta vez, porém, há uma maior sutileza nos arranjos, e a presença dos atabaques, agogôs e outros instrumentos de percussão é ainda mais pronunciada, refletindo a intenção de aproximar a escuta dos ouvintes à experiência de um ritual ou festa de terreiro. O repertório é sensacional e cheio de canções temáticas, como Atabaque Chora, Lamentos às Águas, Cordeiro de Nanã e Acará. Além dessas, o álbum também traz faixas fora dessa temática, como Deixa a Baiana Sambar e Chão de Verdade. Por sinal, há até uma música intitulada Chapeuzinho Vermelho, que mantém o alto nível de composição do grupo. No fim, é mais um trabalho excelente, com uma proposta fortemente experimental.

Dadinho e Mateus – Os Tincoãs 





















NOTA: 2,5/10


Após dez anos sem qualquer lançamento novo, Os Tincoãs retornam com o duvidoso Dadinho e Mateus. Embora o grupo tivesse se consolidado nos anos 70 com os trabalhos anteriores, essa fase já marcava um momento de transição. Agora, Os Tincoãs alçavam voo rumo a Angola, onde permaneceram por muitos anos, trilhando uma espécie de caminho inverso das origens afro e afirmando definitivamente o seu trabalho. Só que, dois anos antes desse lançamento, Badú decidiu sair, deixando apenas os dois integrantes que dão nome ao título e estão na capa, que continuaram compondo e cantando em dupla. O álbum mistura influências tradicionais com uma estética mais leve, puxada para as tendências do Samba na época. A produção foi feita pelo radialista Adelzon Alves, que decidiu reforçar a valorização das vozes e dos arranjos percussivos. No entanto, sem os coros e o peso dos tambores, o disco enfatiza mais os diálogos entre as vozes dos dois intérpretes, o que acabou deixando-o parecido com um trabalho de algum artista brega xexelento. O repertório é completamente fraco, repleto de canções tediosas e sem nexo, como Flor do Campo, Vovó Clementina e Quem Vem Lá, além da arrastadíssima Sou Eu Bahia. As únicas faixas que se salvam são a belíssima Rio QG do Samba e a bobinha, porém interessante, Óia Lá Muié. No final de tudo, é um trabalho horroroso que praticamente marcou o fim definitivo do grupo.

Canto Coral Afrobrasileiro – Os Tincoãs 





















NOTA: 7,4/10


E aí, no ano passado, saiu um material totalmente inédito dos Tincoãs, intitulado Canto Coral Afrobrasileiro. Gravado em 1983, poucas semanas antes de os integrantes partirem para Angola, esse trabalho só foi lançado 40 anos depois. Foi somente em 2002 que o produtor Adelzon Alves, que tinha posse das fitas, encaminhou o material para Mateus Aleluia. O álbum representa um marco de resgate cultural, misturando o repertório tradicional afro-brasileiro com uma estética coral inspirada nos spirituals negros americanos. Os Tincoãs já eram reconhecidos por sua abordagem única de cânticos do candomblé e influências católicas, e este álbum é uma extensão dessa missão, agora em colaboração com o Coral dos Correios e Telégrafos do Rio de Janeiro em seis das dez faixas. Com produção do próprio Adelzon Alves e posterior remasterização por Tadeu Mascarenhas, o álbum exalta a simplicidade dos arranjos. As faixas revelam o talento do falecido Dadinho, Mateus Aleluia e Badu, com o trabalho de Mateus nos atabaques e a participação de um coro que amplia a profundidade espiritual do repertório, apesar de alguns arranjos não terem ficado bem mixados. O repertório é, de certo modo, bem interessante, com várias canções marcantes como Ajagunã e Cecequecê, além das regravações de Ogundê e Salmo. No entanto, há algumas faixas com falta de ritmo, como Obaluaê e Lamento às Águas. Em suma, é um bom disco que traz um registro histórico valioso.


sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Analisando Discografias - Os Tincoãs: Parte 2

                   

Os Tincoãs (1973) – Os Tincoãs





















NOTA: 9,6/10


Após onze anos, Os Tincoãs lançaram seu segundo álbum autointitulado, trazendo uma nova abordagem. Originalmente formado na Bahia, o grupo nasceu como um trio vocal em meados da década de 1960, mas foi a partir dos anos 70 que sua identidade se consolidou, mesclando o Samba com elementos dos cânticos do Candomblé e da tradição afro-religiosa. A formação do álbum de 1973 apresenta Dadinho, Heraldo e Mateus Aleluia, que entrou no lugar de Erivaldo, que decidiu permanecer em Cachoeira. Assim se formava o trio principal, marcando uma mudança da abordagem mais radiofônica dos trabalhos anteriores para uma obra mais espiritual e culturalmente densa, abandonando as influências de boleros. A Bahia, berço do grupo, foi crucial para moldar sua sonoridade, que carrega ecos de rituais religiosos, ladainhas e sambas de roda. O disco foi gravado com a modesta produção de Adelzon Alves e com a participação do maestro Lindolfo Gaya, cuja simplicidade nos arranjos vocais e instrumentais se converte em uma força espiritual. O uso predominante de percussão (como atabaques e pandeiros), além de violões minimalistas, sustenta um ambiente que parece uma roda de samba. O repertório é maravilhoso, trazendo várias canções esplêndidas como Deixa a Gira Girar, Embola Embola e a ótima Sabiá Roxa, além das temáticas em Ogundê, Saudação aos Orixás e Canto pra Iemanjá. No final de tudo, é um trabalho maravilhoso e certamente um clássico da música brasileira.
 

    Bom é isso e flw!!!  

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Analisando Discografias - Os Tincoãs: Parte 1

                   

Meu Último Bolero – Os Tincoãs





















NOTA: 7,9/10


Indo agora para 1962, era lançado o primeiro álbum da banda Os Tincoãs, intitulado Meu Último Bolero. Formado entre o fim dos anos 50 e o início da década de 60, o grupo teve seu nome inspirado em uma ave do cerrado, o tincoã. Os integrantes iniciais eram Erivaldo, Heraldo e Dadinho, todos nascidos no município de Cachoeira, às margens do Rio Paraguaçu, na região do Recôncavo Baiano. Eles se inspiravam bastante no Trio Irakitan e, com isso, conseguiram ir para Salvador para realizar pequenos shows, chegando até mesmo a aparecer na TV. Foi assim que tiveram a oportunidade de gravar este disco. O álbum apresenta uma instrumentação rica, incluindo o cavaquinho de Waldir Azevedo e a percussão de Rubens Bassini, além dos teclados de José Roberto Keller. A produção reflete uma sofisticação alinhada às influências que eles tinham pelo gênero bolero, além de trazer uma sensibilidade emergente da música brasileira da época, lembrando que a MPB ainda não existia. O repertório é composto basicamente por covers de boleros de artistas como Bobby Capó, Frank Domínguez, Julio Jaramillo, entre outros. O álbum contém várias canções de destaque, como Viagem ao Infinito, Tu Me Acostumbraste e Dolores, mas as mais notáveis são Lua de Mel em Porto Rico e Amargo Regresso, por suas melodias serenas. Enfim, apesar de ser um bom disco, ele infelizmente acabou sendo esquecido por conta dos álbuns posteriores.
 

        Bom é isso e flw!!! 

Analisando Discografias - Red Hot Chili Peppers: Parte 5

                   

Return of the Dream Canteen – Red Hot Chili Peppers





















NOTA: 8,3/10


Então chegamos ao último álbum do Red Hot Chili Peppers, o Return of the Dream Canteen, lançado seis meses após seu antecessor. Após o lançamento do fraquíssimo Unlimited Love, a banda já começou a preparar novo material, que havia sido gravado durante as mesmas sessões. Inicialmente, eles pretendiam que 40 faixas fossem lançadas como um álbum, distribuídas em sete discos físicos, mas a Warner rejeitou essa ideia e decidiu que elas seriam divididas em dois álbuns. Embora ambos os discos compartilhem origens semelhantes, esse álbum tem uma proposta mais experimental e aventureira, afastando-se das estruturas tradicionais do Rock para flertar com Jazz, psicodelia e até música eletrônica. A produção foi novamente conduzida por Rick Rubin, que procurou manter a essência improvisada da banda. Frusciante desempenhou um papel essencial, contribuindo tanto com suas habilidades na guitarra quanto com sintetizadores que expandem o espectro sonoro, além de misturar a pegada funkeada do Flea com a bateria precisa do Chad Smith. Enquanto Anthony Kiedis traz linhas vocais mais articuladas e vibrantes. O repertório é muito legal e apresenta várias canções sensacionais, como Tippa My Tongue, Eddie (feita em homenagem a Eddie Van Halen), Bella e The Drummer, além da ótima balada La La La La La La La La e Reach Out, que traz influências do Jimi Hendrix. No fim, é um ótimo disco, que certamente vai envelhecer muito bem ao longo dos anos.
 

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Analisando Discografias - Red Hot Chili Peppers: Parte 4

                   

Unlimited Love – Red Hot Chili Peppers





















NOTA: 3/10


Depois de bastante tempo sem lançar absolutamente nada, em 2022, o Red Hot Chili Peppers retornou com Unlimited Love. Após o lançamento do The Getaway, John Frusciante voltou à banda, após a saída do pavoroso guitarrista Josh Klinghoffer. Ele que havia saído em 2009, fez falta nos álbuns subsequentes. A ideia desta vez era buscar simplicidade, dando ao álbum um caráter introspectivo e nostálgico, mas com toques modernos. A produção ficou novamente a cargo de Rick Rubin, que retomou sua parceria com a banda californiana. Frusciante não apenas trouxe de volta seu estilo inconfundível, mas também contribuiu com arranjos complexos e camadas de guitarras etéreas. Diferente de trabalhos anteriores, a banda optou por gravar a maior parte das faixas ao vivo, buscando um som orgânico e priorizando o espaço entre os instrumentos. No entanto, muitos dos arranjos soam confusos e, frequentemente, parecem ter sido encaixados sem nenhuma coesão. O repertório é horroroso, com várias canções fraquíssimas, como Black Summer, Here Ever After, Whatchu Thinkin’ e Veronica. Além disso, One Way Traffic e Tangelo são tão emocionantes quanto assistir a um DVD do filme da Mulher-Maravilha em um baile de debutantes em uma pizzaria falida. As únicas exceções são The Great Apes, White Braids & Pillow Chair e The Heavy Wing. Em suma, este é um dos álbuns mais ridículos da carreira do Red Hot.
 

                                                        Então é isso, flw!!!       

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Analisando Discografias - Red Hot Chili Peppers: Parte 4

                  

I’m With You – Red Hot Chili Peppers





















NOTA: 4/10


Depois de um intervalo de cinco anos, o Red Hot lançou o medíocre I’m With You, que trouxe algumas propostas diferentes. Após o sucesso de Stadium Arcadium, os integrantes decidiram fazer uma pausa para focar em outras coisas. No entanto, em 2009, John Frusciante decidiu sair da banda para investir em sua carreira solo. Assim, chamaram Josh Klinghoffer para substituí-lo, ele que já havia trabalhado com a banda como músico de apoio e era amigo próximo, o que facilitou sua adaptação. Esse trabalho reflete um momento de transição emocional e sonora para a banda: além da troca de guitarrista, Anthony Kiedis havia se tornado pai, e Flea atravessava uma fase de reflexão profunda sobre sua vida e carreira, chegando até a estudar teoria musical formalmente. A produção ficou novamente a cargo de Rick Rubin, que tentou equilibrar a busca por inovação com a essência funkeada deles. Esse novo guitarrista que é bem fraquinho, quis trazer uma abordagem mais atmosférica, contrastando com o estilo virtuoso do Frusciante. No entanto, o resultado foi um som mais melódico e diluído, o que acabou deixando o álbum cansativo. O repertório, em sua maioria, é fraco e traz muitas canções genéricas como Brendan’s Death Song e Police Station, além das fraquíssimas Monarchy of Roses e The Adventures of Rain Dance Maggie. As poucas exceções que se destacam são Ethiopia, Annie Wants a Baby, Goodbye Hooray e Happiness Loves Company. No fim, o disco é chatissimo e com vários erros.

The Getaway – Red Hot Chili Peppers 





















NOTA: 7,6/10


Então mais um intervalo de cinco anos se passou, e a banda retornou com seu 11º álbum, o The Getaway. Após o chatíssimo I’m With You, decidiram mudar várias coisas, como, por exemplo, não trabalhar mais com Rick Rubin. Depois de 25 anos, a banda optou por colaborar com outro produtor. Além disso, eles queriam dar continuidade ao medíocre guitarrista Josh Klinghoffer, que ainda tentava se adaptar. Embora seu estilo fosse mais discreto e menos virtuoso que o de John Frusciante, ele trouxe sonoridades tão atmosféricas quanto uma ilusão de ótica em que a cara de um cavalo na verdade é um sapo. Outro problema foi que Flea sofreu uma fratura no braço durante um acidente de snowboard, adiando o processo de gravação. A produção foi conduzida por Danger Mouse (Brian Burton) e Nigel Godrich (conhecido por seu trabalho com o Radiohead) na mixagem. Ao contrário de Rubin, que priorizava uma abordagem mais orgânica e centrada em jam sessions, Danger Mouse levou a banda a experimentar estruturas mais refinadas e arranjos modernos, introduzindo sintetizadores e loops eletrônicos. O repertório até chega a ser interessante, com canções legais como We Turn Red, Go Robot (que parece uma música do Prince), a faixa-título e as maravilhosas Dark Necessities e Detroit. Mas não posso dizer o mesmo das chatíssimas The Longest Wave e Sick Love, e das imitações descaradas do OneRepublic em Encore e The Hunter. Em suma, apesar de ser um bom disco, ele tem vários defeitos.
  

       Por hoje é só, então flw!!!    

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