O Africanto dos Tincoãs – Os Tincoãs
NOTA: 9/10
Dois anos se passam, e Os Tincoãs lançam seu 3º álbum de estúdio, o Africanto dos Tincoãs. Após o monumental álbum autointitulado lançado em 1975, Heraldo faleceu de forma inesperada, surpreendendo os outros dois integrantes. Eles haviam acabado de gravar a faixa Banzo para a trilha sonora da novela Escrava Isaura. Para manter a formação de trio, Morais entrou na banda, mas permaneceu por pouco tempo; logo, Badu o substituiu. Neste novo trabalho, o grupo decidiu elevar ainda mais a herança africana, propondo uma fusão entre reverência espiritual e arte popular, reforçando uma identidade negra e ancestral. Com produção de Carlos Guarany, o álbum foi gravado de forma simples e minimalista, destacando vozes e percussões orgânicas, criando uma atmosfera que evoca os terreiros de candomblé e as rodas de samba. A gravação prioriza os timbres vocais dos integrantes, com harmonizações precisas e melancólicas. Os instrumentos predominantes incluem atabaques, agogôs e caxixis, usados em ritmos sincopados que sugerem não apenas o samba, mas também o ijexá e outros ritmos tradicionais de matriz africana. O repertório é mais uma vez excelente, trazendo grandes canções como Promessa ao Gantois e as envolventes Sereia e Anita. No entanto, as faixas que mais se destacam pela beleza de suas melodias são Dora, Salmo, Canto e Danço Prá Curar e Ogum Pai. Em suma, é um disco maravilhoso, apesar de o grupo atravessar um período conturbado.
Os Tincoãs (1977) – Os Tincoãs
NOTA: 9,4/10
Dadinho e Mateus – Os Tincoãs
NOTA: 2,5/10
Canto Coral Afrobrasileiro – Os Tincoãs
NOTA: 7,4/10
E aí, no ano passado, saiu um material totalmente inédito dos Tincoãs, intitulado Canto Coral Afrobrasileiro. Gravado em 1983, poucas semanas antes de os integrantes partirem para Angola, esse trabalho só foi lançado 40 anos depois. Foi somente em 2002 que o produtor Adelzon Alves, que tinha posse das fitas, encaminhou o material para Mateus Aleluia. O álbum representa um marco de resgate cultural, misturando o repertório tradicional afro-brasileiro com uma estética coral inspirada nos spirituals negros americanos. Os Tincoãs já eram reconhecidos por sua abordagem única de cânticos do candomblé e influências católicas, e este álbum é uma extensão dessa missão, agora em colaboração com o Coral dos Correios e Telégrafos do Rio de Janeiro em seis das dez faixas. Com produção do próprio Adelzon Alves e posterior remasterização por Tadeu Mascarenhas, o álbum exalta a simplicidade dos arranjos. As faixas revelam o talento do falecido Dadinho, Mateus Aleluia e Badu, com o trabalho de Mateus nos atabaques e a participação de um coro que amplia a profundidade espiritual do repertório, apesar de alguns arranjos não terem ficado bem mixados. O repertório é, de certo modo, bem interessante, com várias canções marcantes como Ajagunã e Cecequecê, além das regravações de Ogundê e Salmo. No entanto, há algumas faixas com falta de ritmo, como Obaluaê e Lamento às Águas. Em suma, é um bom disco que traz um registro histórico valioso.