sábado, 26 de outubro de 2024

Analisando Discografias - Os Tincoãs: Parte 3

                  

O Africanto dos Tincoãs – Os Tincoãs





















NOTA: 9/10


Dois anos se passam, e Os Tincoãs lançam seu 3º álbum de estúdio, o Africanto dos Tincoãs. Após o monumental álbum autointitulado lançado em 1975, Heraldo faleceu de forma inesperada, surpreendendo os outros dois integrantes. Eles haviam acabado de gravar a faixa Banzo para a trilha sonora da novela Escrava Isaura. Para manter a formação de trio, Morais entrou na banda, mas permaneceu por pouco tempo; logo, Badu o substituiu. Neste novo trabalho, o grupo decidiu elevar ainda mais a herança africana, propondo uma fusão entre reverência espiritual e arte popular, reforçando uma identidade negra e ancestral. Com produção de Carlos Guarany, o álbum foi gravado de forma simples e minimalista, destacando vozes e percussões orgânicas, criando uma atmosfera que evoca os terreiros de candomblé e as rodas de samba. A gravação prioriza os timbres vocais dos integrantes, com harmonizações precisas e melancólicas. Os instrumentos predominantes incluem atabaques, agogôs e caxixis, usados em ritmos sincopados que sugerem não apenas o samba, mas também o ijexá e outros ritmos tradicionais de matriz africana. O repertório é mais uma vez excelente, trazendo grandes canções como Promessa ao Gantois e as envolventes Sereia e Anita. No entanto, as faixas que mais se destacam pela beleza de suas melodias são Dora, Salmo, Canto e Danço Prá Curar e Ogum Pai. Em suma, é um disco maravilhoso, apesar de o grupo atravessar um período conturbado.

Os Tincoãs (1977) – Os Tincoãs 





















NOTA: 9,4/10


Mais um tempo se passa, e Os Tincoãs lançam seu 4º trabalho, novamente autointitulado (algo comum naquela época). Após o sucesso de O Africanto dos Tincoãs, eles se consolidavam ainda mais como um dos grupos mais importantes da música brasileira ao conectar as tradições afro-brasileiras com a música popular. Este álbum foi lançado em um momento de amadurecimento da identidade musical do grupo. As canções não apenas celebram orixás e rituais, mas falam também de temas universais, como o amor e o sofrimento, sempre envoltos em uma atmosfera de devoção e espiritualidade. A produção foi feita por Durval Ferreira, seguindo uma linha semelhante à do trabalho anterior, com uma abordagem minimalista que valoriza as vozes e a percussão tradicional. Desta vez, porém, há uma maior sutileza nos arranjos, e a presença dos atabaques, agogôs e outros instrumentos de percussão é ainda mais pronunciada, refletindo a intenção de aproximar a escuta dos ouvintes à experiência de um ritual ou festa de terreiro. O repertório é sensacional e cheio de canções temáticas, como Atabaque Chora, Lamentos às Águas, Cordeiro de Nanã e Acará. Além dessas, o álbum também traz faixas fora dessa temática, como Deixa a Baiana Sambar e Chão de Verdade. Por sinal, há até uma música intitulada Chapeuzinho Vermelho, que mantém o alto nível de composição do grupo. No fim, é mais um trabalho excelente, com uma proposta fortemente experimental.

Dadinho e Mateus – Os Tincoãs 





















NOTA: 2,5/10


Após dez anos sem qualquer lançamento novo, Os Tincoãs retornam com o duvidoso Dadinho e Mateus. Embora o grupo tivesse se consolidado nos anos 70 com os trabalhos anteriores, essa fase já marcava um momento de transição. Agora, Os Tincoãs alçavam voo rumo a Angola, onde permaneceram por muitos anos, trilhando uma espécie de caminho inverso das origens afro e afirmando definitivamente o seu trabalho. Só que, dois anos antes desse lançamento, Badú decidiu sair, deixando apenas os dois integrantes que dão nome ao título e estão na capa, que continuaram compondo e cantando em dupla. O álbum mistura influências tradicionais com uma estética mais leve, puxada para as tendências do Samba na época. A produção foi feita pelo radialista Adelzon Alves, que decidiu reforçar a valorização das vozes e dos arranjos percussivos. No entanto, sem os coros e o peso dos tambores, o disco enfatiza mais os diálogos entre as vozes dos dois intérpretes, o que acabou deixando-o parecido com um trabalho de algum artista brega xexelento. O repertório é completamente fraco, repleto de canções tediosas e sem nexo, como Flor do Campo, Vovó Clementina e Quem Vem Lá, além da arrastadíssima Sou Eu Bahia. As únicas faixas que se salvam são a belíssima Rio QG do Samba e a bobinha, porém interessante, Óia Lá Muié. No final de tudo, é um trabalho horroroso que praticamente marcou o fim definitivo do grupo.

Canto Coral Afrobrasileiro – Os Tincoãs 





















NOTA: 7,4/10


E aí, no ano passado, saiu um material totalmente inédito dos Tincoãs, intitulado Canto Coral Afrobrasileiro. Gravado em 1983, poucas semanas antes de os integrantes partirem para Angola, esse trabalho só foi lançado 40 anos depois. Foi somente em 2002 que o produtor Adelzon Alves, que tinha posse das fitas, encaminhou o material para Mateus Aleluia. O álbum representa um marco de resgate cultural, misturando o repertório tradicional afro-brasileiro com uma estética coral inspirada nos spirituals negros americanos. Os Tincoãs já eram reconhecidos por sua abordagem única de cânticos do candomblé e influências católicas, e este álbum é uma extensão dessa missão, agora em colaboração com o Coral dos Correios e Telégrafos do Rio de Janeiro em seis das dez faixas. Com produção do próprio Adelzon Alves e posterior remasterização por Tadeu Mascarenhas, o álbum exalta a simplicidade dos arranjos. As faixas revelam o talento do falecido Dadinho, Mateus Aleluia e Badu, com o trabalho de Mateus nos atabaques e a participação de um coro que amplia a profundidade espiritual do repertório, apesar de alguns arranjos não terem ficado bem mixados. O repertório é, de certo modo, bem interessante, com várias canções marcantes como Ajagunã e Cecequecê, além das regravações de Ogundê e Salmo. No entanto, há algumas faixas com falta de ritmo, como Obaluaê e Lamento às Águas. Em suma, é um bom disco que traz um registro histórico valioso.


Analisando Discografias - ††† (Croses)

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